O desemprego, o empobrecimento e o desamparo de pessoas socialmente vulneráveis foram agravados pela pandemia que se alastra pelo mundo há mais de um ano. A resposta solidária à população necessitada, na Comarca de Porteirinha, região Norte de Minas, permitiu que, em apenas 10 dias, mais de 1.400 cestas básicas fossem arrecadadas. Elas foram distribuídas para o mesmo número de famílias, que vivem em situação de pobreza extrema.
Representantes do poder público se uniram para prestar assistência à população vulnerável (Foto: Geomárcio Silva)
Iniciada em 19 de março, a campanha "Ação Solidária" foi resultado de uma articulação do Poder Judiciário, do Ministério Público, das Polícias Militar e Civil e do Departamento Penitenciário de Minas Gerais (Depen/MG), com a participação da comunidade. A entrega das cestas começou no Domingo de Páscoa (4/4) e se estendeu por toda a semana.
A distribuição contou com a ajuda de voluntários dos órgãos públicos envolvidos e de colaboradores. As doações, em torno de 22 toneladas de alimentos, foram colocadas em 12 viaturas, cinco carros particulares e um caminhão e levadas para regiões carentes.
Toda a logística de entrega foi planejada pela Polícia Militar. Diante da grande quantidade de cestas arrecadadas e da complexidade da distribuição, a operação foi coordenada pelo capitão PM Guilherme Rodrigues Santos, que mobilizou os militares de todos os destacamentos da região.
Comunidade de valor
Carioca, o juiz Rodrigo Fernando Di Gioia Colosimo chegou a morar em Belo Horizonte. Ele explica que, ao assumir a comarca, se chocou ao conhecer a realidade de Porteirinha e as dificuldades que a população enfrenta, que vão da miséria e das baixas taxas de alfabetização aos longos meses sem chuvas.
“O Norte de Minas é uma região pobre, e o Município de Pai Pedro, um dos integrantes da Comarca de Porteirinha, por muitos anos, teve o pior IDH do Brasil. É uma área que precisa muito da atenção do Estado. Faltam oportunidades de emprego. Existe o problema da seca, do alcoolismo e da cultura machista, que têm como consequências, por exemplo, a violência doméstica”, avalia.
“É uma região com enorme potencial turístico, que precisa ser devidamente explorado. Apesar da pobreza, as pessoas são trabalhadoras e generosas, têm essa disposição para auxiliar, se colocar no lugar do outro. Vejo isso nos nossos servidores, mas também no Ministério Público, nas corporações policiais. Existe uma vontade muito grande de dar certo aqui”, argumenta o juiz Rodrigo Colosimo.
Para o titular da comarca, a cooperação de todos foi muito importante, mas a parceria com a PMMG foi fundamental para o sucesso da empreitada. “Devido à considerável extensão territorial e ao número de famílias beneficiadas, foi preciso traçar um plano eficiente para garantir que as cestas chegassem aos destinos”, diz.
Apoio à causa
De acordo com o diretor do foro, inicialmente, a mobilização seria só com a equipe do fórum, mas a adesão de comunicadores e empreendedores, que disseminaram a proposta, foi conquistando mais e mais apoiadores. As prefeituras divulgaram a campanha pelas redes sociais.
Já a subseção de Porteirinha da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/MG), ao saber da mobilização, incentivou a população a doar cestas básicas e parabenizou a iniciativa, por meio do presidente, Rodrigo Gustavo Ribeiro Mendes. A comarca não conta com unidade da Defensoria Pública instalada.
“Foi uma arrecadação histórica na região, que teve ampla aceitação e apoio de empresários locais e de cidadãos, e tem servido de exemplo para outras comarcas adotarem a ideia. Nossa expectativa é motivar novas campanhas pelo estado. Também pretendemos firmar outras parcerias para o combate à fome e o fortalecimento da campanha de prevenção contra a covid-19”, antecipa juiz Rodrigo Colosimo.
O magistrado afirma que, por causa dessa receptividade, a campanha passou a representar o alcance de três objetivos: a solidariedade social por meio da doação de cestas básicas para famílias carentes, o estímulo a práticas de prevenção à doença e o fomento e aquecimento da economia local.
“Identificamos a necessidade de fazer algo para atendimento das famílias necessitadas e aproveitamos o ensejo para incentivar o uso de equipamentos de proteção para reduzir o contágio pelo novo coronavírus. Entregamos, junto com os itens alimentícios, mais de 1.500 máscaras, que foram confeccionadas e fornecidas por internos do presídio de Porteirinha e de outras unidades prisionais mineiras”, conta.
Com isso, os presos, além de contribuir para a sociedade, também puderam exercer uma atividade profissional e reduzir dias de sua pena.
Comarca
A quase 600km da capital mineira, Porteirinha inclui a sede, os Municípios de Riacho dos Machados, Catuti, Serranópolis de Minas e Pai Pedro, além de sete distritos. Com aproximadamente 62 mil habitantes, a comarca reúne cidades com média de índice de desenvolvimento humano (IDH) baixo, em torno de 0,624. A maior parte da população economicamente ativa trabalha no ramo agropecuário e de extrativismo sustentável. A renda per capita mensal de 49% dos habitantes é de meio salário mínimo.
Fonte: Assessoria de Comunicação Institucional – Ascom
Tribunal de Justiça de Minas Gerais – TJMG