Durante a retirada das escoras para liberação do viaduto Batalha dos Guararapes, no dia da queda, em 3 de julho de 2014, mais uma vez o desabamento poderia ter sido evitado. “Depois das 13h, a situação ficou muito mais grave, e em virtude da segurança, nos recusamos a continuar”, disse, em depoimento, um dos funcionários da empresa responsável por retirar as estacas que ainda deixavam o elevado de pé. Por volta das 15h, a estrutura desabou.
A retirada das escoras pela empresa Brasilmonte foi acompanhada por um engenheiro da Cowan. O problema, segundo a Polícia Civil, é que, em vez de um civil, o profissional era especializado em agronomia. Daniel Prado foi alertado pelos funcionários da Brasilmonte do risco de queda se o trabalho seguisse.
“Os funcionários da Brasilmonte ouviam os estalos, as colunas estavam contorcendo, e o engenheiro da fiscalização não fez menção no diário de obras de que havia qualquer tipo de problema”, destacou o delegado Hugo e Silva. Para ele, esse foi o segundo momento de omissão que resultou no indiciamento por homicídio com dolo eventual de dois engenheiros e três encarregados de obras que ignoraram os riscos. “Eles poderiam ter mandado parar a retirada das escoras, interrompido o trânsito de alguma forma, que fosse com tambores na pista, avisado às autoridades. Estava claro que o viaduto ia cair”, defendeu o delegado.
Iminente. Para retirar as escoras foi necessário utilizar um caminhão, sendo que, segundo os peritos, devem ser dadas apenas pancadas nas escoras. Um dos crimes a que foram imputados os indiciados é justamente por desabamento – que tem pena de um a quatro anos de reclusão. Nesse caso, a vítima é a sociedade, já que todos que passavam na avenida estariam em perigo.
“O escoramento foi retirado de maneira forçada, indicando que havia problemas. A perícia apontou que o bloco de sustentação da estrutura, que foi calculado de forma errada e assim construído, se rompeu e afundou o pilar e, consequentemente, o tabuleiro”, explicou o diretor do Instituto de Criminalística da Polícia Civil, Marco Paiva, que apresentou o laudo pericial há oito meses.
Nesta terça, o inquérito policial concluiu que o desabamento era previsível e havia se tornado iminente quando se constatou a dificuldade de retirada do escoramento.
MPMG. O inquérito agora vai para as promotorias do Patrimônio Público e Criminal do Ministério Público. O promotor criminal Marcelo Mattar disse que pode devolver o caso à Polícia Civil para apurar questões que envolvam o prefeito Marcio Lacerda.
Futuro. O MPMG também precisa definir se acata o inquérito da Polícia Civil e denuncia os envolvidos. O prazo é de 15 dias.
Cowan e Consol insistem que não provocaram desabamento
Entre os 19 indiciados no inquérito, três são engenheiros da projetista Consol, e oito são da Cowan, responsável pela construção do viaduto. As empresas emitiram nota nesta terça em que se isentam da culpa e jogam uma para a outra a responsabilidade.
A Consol reafirmou que o projeto foi modificado no decorrer da obra. Como exemplo, o diretor-presidente da empresa, Maurício de Lana, citou a abertura de janelas na margem superior do elevado.
A Cowan informou que seguiu “rigorosamente” o projeto e que não há prova no inquérito de que os profissionais da construtora soubessem de erros e riscos. A empresa alegou que tem “total confiança em seus empregados, incluindo aqueles mencionados no relatório do delegado”.
Prefeitura
Nota.A PBH informou que agirá com “firmeza” e que, após decisão judicial, cobrará punição e ressarcimento dos prejuízos. Sobre o inquérito, informou que se pronunciará só após análise do relatório.
Secretário. À polícia, o ex-secretário José Lauro Terror afirmou não ter conhecimento dos erros, mas que presidia reuniões sobre o assunto. Nesta terça, ele não foi encontrado para comentar.
Fonte: O Tempo