MOHANDAS GANDHI implantou no seu ashram um regime superior de vida, que se pautava pela não-violência e pela verdade num patamar altíssimo; alimentação vegetariana; trabalho braçal; meditação; oração e outras práticas importantes para o aperfeiçoamento moral e espiritual de cada um dos cerca de 200 membros daquela comunidade.
Ele não tinha os padrões prontos e acabados quando inaugurou a comunidade, e sim foi aprendendo com os erros e acertos do dia-a-dia.
Aquelas pessoas não eram super-heróis, mas sim pessoas comuns, muitas das quais até sem nenhum entusiasmo pela causa da libertação do seu país.
O ashram era um verdadeiro laboratório de experimentações de regras de conduta que eram repassadas para a coletividade de cerca de 300.000.000 de indianos.
GANDHI pretendia libertar a Índia da Inglaterra, mas afirmava que somente compensaria se, com a nova realidade, não houvessem mais a exclusão social dos dalits (párias), a rivalidade entre hindus e muçulmanos e as injustiças sociais em geral.
Trabalhou sobretudo o interior dos homens e mulheres do seu país, mudou-lhes os padrões de compreensão, aperfeiçoou-lhes a visão de mundo e induziu todos a trabalharem em benefício de todos.
Com essa mudança para melhor da mentalidade indiana, o país libertou-se do tacão inglês sem disparar um tiro sequer.
Quanto ao Judiciário do nosso país, o maior problema que enfrentamos são justamente as deficiências do material humano.
Sem contar os elementos que ingressam na instituição através das escolhas políticas, há a insuficiência dos critérios adotados nos concursos públicos, que avaliam apenas a competência intelectual e um mínimo de moralidade dos candidatos.
Não se pretende que se adotem as regras gandhianas - que estão muito acima do nosso estilo brasileiro - mas temos muitos elementos totalmente despreparados para o mister de magistrado pacificador.
Vemos, por exemplo, colegas agressivos, aficionados das armas de fogo, dotados de pequena capacidade de tolerância, incapazes de ouvir as partes democraticamente, que mais intimidam do que pacificam.
Vemos adoradores do álcool, com o sistema nervoso desequilibrado, que gradativamente foram perdendo o auto-controle pelo uso desse tóxico.
Vemos sexólatras, incapazes de encarar as mulheres com respeito, que causam constrangimento e apreensão para funcionárias e advogadas que com eles convivem.
Vemos machistas inveterados, que desprezam a competência feminina e tratam as mulheres com rudeza.
Vemos colegas arrogantes.
Vemos aqueles que não se reconhecem como servidores públicos.
Exemplos dessas condutas inadequadas os jurisdicionados podem relacionar às centenas.
Tudo isso deveria ser pensado pela classe, ao invés de "taparmos o sol com a peneira", achando que a população é obrigada a tolerar-nos as inconveniências...
Mude Judiciário!
Autor: Luiz Guilherme Marques - Juiz de Direito da 2ª Vara Cível de Juiz de Fora - MG