"Já não era fácil de entender o modo de pensar de Hitler, mas nos dias de hoje continuamos a pensar e agir como ele, pois o racismo continua nas cidades, no interior e, principalmente, no coração das pessoas”.

Simples e direto, o trecho retirado da redação de Lívia Fernanda de Souza Mendes, de 13 anos, ajuda a explicar por que o trabalho da estudante foi destaque em uma premiação nacional, concorrendo com 181 alunos. Aluna do 8º ano do ensino fundamental da Escola Municipal Anne Frank, na Pampulha, Lívia ficou em primeiro lugar na edição 2013 do concurso nacional de redações da Rede de Escolas Anne Frank Brasil.

O tema deste ano foi “Anne Frank e a cultura de paz”. Os estudantes tiveram que escrever uma carta para a adolescente alemã de origem judaica. Anne foi vítima do holocausto e morreu aos 15 anos em um campo de concentração.

Sentada na calçada em frente à escola, a menina recitou o texto vencedor. Durante a leitura de um dos trechos, os olhos simplesmente brilharam e ela deu o recado:

“Não existe lei que possa colocar amor dentro do ser humano”.

Com detalhes e consciente, a menina revela que as dificuldades vividas por sua família ajudaram na composição da redação, que fala sobre preconceito, bullying e paz.

“Meus pais se separaram e hoje moro com a minha mãe numa casa simples. Somos gente muito simples e isso é mal visto por outras pessoas”, contou a filha de Miriam de Souza Barbosa e Esdras dos Santos Mendes.

Presente

A jovem vai completar 14 anos em 27 de junho, mas, de antemão, ganhou um presente que vale pela vida inteira: uma viagem a Amsterdã, na Holanda. Na companhia da mãe e do professor Eduardo Ezequiel, que a ajudou no trabalho, eles poderão conhecer o local onde Anne Frank passou a maior parte da vida.

A diretora da escola Anne Frank, Sandra Oliveira, contou que mais de 112 redações foram enviadas por alunos para o concurso. Foram mais de dois meses de trabalho. “O sucesso é mérito de todos os professores e estudantes da escola. Esse prêmio vai servir de exemplo, pois quando queremos e corremos atrás, é possível”, disse Sandra.

Leia, na íntegra, a redação de Lívia Fernanda de Souza Mendes

Belo Horizonte, 3 de abril de 2013

Querida Anne,

Meu nome é Lívia Fernanda, tenho 13 anos, moro no bairro Confisco, Minas Gerais, Brasil. Estudo na Escola Municipal Anne Frank.

Anne, é com muita tristeza que recordo sua história, todo sofrimento nos campos de concentração, o extermínio nas câmaras de gás, a crueldade com que os nazistas tentaram exterminar o povo judeu.

Já não era fácil de entender o modo de pensar de Hitler, mas nos dias de hoje continuamos a pensar e agir como ele, pois o racismo continua nas cidades, no interior e, principalmente, no coração das pessoas.

É inaceitável pensar que sou melhor ou pior somente por ter nascido negro ou branco, por ter escolhido uma religião ou pertencer a uma tribo.

Você não acreditaria que até nas escolas existe preconceito. Mas ele vem disfarçado e o seu nome também é diferente. Não é racismo, ele se chama bullying.

O pior, Anne, é que já existem leis para se combater tenta crueldade. Mas não existe lei que possa colocar amor dentro do ser humano.

Conhecendo a sua história, vejo que há uma luz no fim do túnel. Espero que muitos ouçam-me falar de você. Espero que possam entender que o preconceito não leva a nada, apenas gera violência, separação e divisão.

Você, Anne, pode se orgulhar, pois o seu diário, que foi escrito em meio a tanto sofrimento, hoje serve de referência contra o racismo, contra a discriminação, em todas as suas formas. Seja através do preconceito, bullying e outros, podemos usar como exemplo as suas experiências.

Apesar das dificuldades, assim como você, acredito na esperança.

Abraços, Lívia

Fonte: Hoje em Dia