Do marco institucional – o registro em cartório no dia 21 de outubro de 1955 – à luta pela valorização da classe que uniu juízes do interior e da capital, a Amagis completa, neste mês, 63 anos, combatendo as ameaças de retrocessos às conquistas e ao Sistema de Justiça, como as enfrentadas em Brasília pelo presidente da Associação, desembargador Maurício Soares, que comprometiam a valorização da Magistratura e o aperfeiçoamento do Judiciário. Ao analisarmos a história da Amagis, não é exagero afirmar que a luta pela valorização da classe está inscrita no código genético do associativismo mineiro. Em entrevista à equipe do Memorial da Amagis, o juiz João Grinalson da Fonseca rememorou o dia em que foi ao Banco do Brasil fazer um cadastro e o bancário reagiu surpreso: “Ah, doutor, o senhor está brincando comigo” – disse ele, logo após ver o contracheque do magistrado.
“NOSSO FOCO É A VOCAÇÃO EM DEFESA DAS PRERROGATIVAS DOS MAGISTRADOS E É UMA ATUAÇÃO PERMANENTE E SEM TRÉGUA, COMO TEM SIDO NESSES 63 ANOS, EM MINAS E EM BRASÍLIA” - MAURÍCIO SOARES – PRESIDENTE DA AMAGIS
João Grinalson relatou que o funcionário do banco fez ainda a seguinte observação sobre os vencimentos dos juízes: “Doutor, eu estou há pouco mais de três anos no Banco do Brasil e estou ganhando mais do que o senhor que é juiz de direito”. Indignado, ao se encontrar com magistrados de Juiz de fora, João Grinalson foi taxativo: “Gente, vamos fazer uma reunião, porque isso não pode continuar, não é possível essa situação”.
Conforme relatou à equipe do Memorial da Amagis, o saudoso juiz Antônio Carlos Ferreira Botti, que atuou em Juiz de Fora, o desabafo de João Grinalson deve ter surtido efeito, pois, após uma viagem a São Paulo, realizada por ele e outros dois magistrados de Juiz de Fora, no segundo semestre de 1968, os juízes Maurício Delgado e José Guido de Andrade, lideraram um movimento de aproximação dos juízes da região, que culminou na criação da Armam, no dia 3 de outubro de 1970.
“A HISTÓRIA DA AMAGIS É UMA HISTÓRIA DE PERMANENTE LUTA EM DEFESA DAS PRERROGATIVAS DOS MAGISTRADOS, COM UM ACERVO ENORME DE VITÓRIAS JÁ CONSOLIDADAS NESSE CAMPO” - NELSON MISSIAS MORAIS – PRESIDENTE DO TJMG
Segundo Botti, a iniciativa repercutiu de tal forma, que, poucos meses depois, no dia 28 de dezembro de 1970, foi criada a Assemag em Belo Horizonte. De acordo o magistrado, foi com a fundação dessas duas novas associações que o então presidente do TJMG, desembargador Helvécio Rosenburg, ao perceber que essa duas instituições regionais representavam uma parcela importante da classe, resolveu dar vida à Amagis, que, até aquele momento, não havia saído do papel. Para Botti, por mais que a decisão do presidente do Tribunal não fosse o desejo imediato daqueles que, como ele, haviam criado à Armam, a união foi a melhor solução. “Essa foi a grande vantagem da criação e do funcionamento dessas duas Associações regionais”, avaliou.
Botti relatou ainda que, naquele período, por muitas vezes, os magistrados ficavam endividados, sem dinheiro para pagar o armazém e até mesmo o aluguel. Ele contou que, quando foi transferido da Comarca de Barão de Cocais para a Comarca de Lima Duarte, chegou a ficar seis meses sem receber, pois a coletoria estadual não tinha dinheiro para pagar a todos os funcionários do Estado.
“REGISTRO A MINHA HOMENAGEM À AMAGIS PELO SEU 63º ANIVERSÁRIO, ACENTUANDO A SUA DECISIVA PARTICIPAÇÃO NAS CONQUISTAS OBTIDAS E INSERIDAS NA CONSTITUIÇÃO, PELA ASSEMBLEIA NACIONAL CONSTITUINTE” - REYNALDO XIMENES
Frente a essa dificuldade, de acordo com Botti, o desembargador Helvécio Rosenburg negociou com o então governador Rondon Pacheco (1971/75) que a Caixa Econômica Federal, em convênio com o TJ, passasse a fazer o pagamento para os juízes. Para o magistrado, a independência do juiz na comarca foi a grande primeira conquista da Amagis. Nos primeiros anos de atuação, a Amagis funcionava em uma discreta sala do Fórum Lafayette, na capital mineira. O seu fortalecimento, portanto, como observou o desembargador Caetano Carelos em depoimento à equipe do memorial, contou com a participação decisiva dos magistrados mineiros na vida associativa, que, mesmo enfrentando dificuldades, contribuíam financeiramente com a Associação.
A criação do Departamento Médico-Hospitalar-Odontológico, hoje Amagis Saúde, tem um peso tão grande na história do associativismo mineiro que essa foi a condição para que o saudoso desembargador Erotides Diniz aceitasse concorrer à Presidência da Associação, conforme revelou à equipe do Memorial a pensionista Rita Moreira Diniz. Um ano após ser eleito, o desembargador instituiu o departamento no dia 22 de abril de 1976.
“A AMAGIS REPRESENTA A UNIÃO E A FORÇA POLÍTICA DA MAGISTRATURA E SE CONSTRUIU VENCENDO E ENFRENTANDO GRANDES OBSTÁCULOS, SEMPRE TENDO A DEFESA DO ASSOCIADO MAGISTRADO COMO SEU MAIOR OBJETIVO” - DOORGAL ANDRADA
Para Carelos, a construção da sede, idealizada pelo desembargador Lincoln Rocha, que presidiu a Amagis de 1982 a 1985, foi decisiva para o progresso da Associação. No prédio, inaugurado no dia 23 de maio de 1984, foi instalado o setor de saúde da Amagis. Na avaliação do magistrado, a consolidação desse departamento foi um importante elemento de mobilização da classe. “Começou-se a auxiliar os juízes em casos de doenças. Para os juízes do interior, era muito difícil. Os juízes só podiam contar com o Ipsemg, mas não havia no interior, só na capital”, comentou.
Indicado pelo então presidente da Amagis, desembargador Lincoln Rocha para representar a Magistratura mineira nos debates nacionais sobre a nova Constituinte, juntamente com o desembargador Márcio Sollero e o ministro Sálvio de Figueiredo, coube ao hoje desembargador aposentado Reynaldo Ximenes a responsabilidade de disputar o comando da Amagis em 1989.
“NÃO HÁ CLASSE VITORIOSA SEM ORGANIZAÇÃO. E NÃO HÁ ORGANIZAÇÃO GLORIOSA SEM UMA CLASSE UNIDA POR UM IDEAL. A AMAGIS CONGREGA MAGISTRADOS NÃO POR INTERESSES, MAS POR IDEAIS” - BRUNO TERRA DIAS
Reynaldo Ximenes tornou-se o primeiro juiz a presidir a Amagis. Mesmo conquistando a equiparação dos vencimentos da Magistratura com o dos deputados estaduais, o magistrado destacou como um dos principais feitos de sua gestão o trabalho realizado para unificar a classe em torno da Associação.
“CUMPRIMENTO NOSSA QUERIDA AMAGIS PELOS 63 ANOS DE EXISTÊNCIA E DE CONQUISTAS, HONRADO DE TER PARTICIPADO DESSA HISTÓRIA” - CARLOS LEVENHAGEN
Desde a eleição de Reynaldo Ximenes, seis juízes e três desembargadores dirigiram a Associação, incluindo o atual presidente Maurício Soares, que, hoje, tem reforçado o diálogo institucional com o TJMG e os representantes dos outros Poderes, e associações de classe em de todo País, mantendo a tradição da Amagis de valorização da Magistratura.