O sucesso dos formandos no exame de ordem em 2000 foi tão grande, que eles ficaram conhecidos, nos Estados Unidos, como os “bacharéis da era dourada”. Uma pesquisa recente investigou o destino dessa leva de bacharéis bem-sucedidos. E as descobertas não foram boas: quase um quarto (24%) dos bacharéis não atua na área do Direito. Apenas 16,8% trabalha em bancas de grande porte (com mais de 250 advogados).
A verdade é que os cursos de Direito nos EUA vêm definhando progressivamente. O interesse dos estudantes caiu muito, com as persistentes notícias de que um percentual significativo de bacharéis não encontra emprego, apesar da dívida média de US$ 125 mil que contraíram para pagar o curso. E os novos advogados não estão preparados para se lançar, por conta própria, no mercado.
Assim a comunidade jurídica americana, incluindo a American Bar Association (ABA), vem apregoando uma reforma radical no curso de Direito. Mas ninguém arrisca apresentar um plano concreto para se fazer isso. A não ser pela Faculdade de Direito da Universidade Elon, que desenvolveu um plano para “reinventar o curso de Direito” e o implementou em seis meses.
O reitor da universidade Luke Bierman, advogado e professor de Direito, apresentou o projeto de sua faculdade, que se baseia em “quatro elementos para reformar o curso de Direito”. Ele disse que, para começar, toda a direção e corpo docente da faculdade tentou responder a essa pergunta: “Que qualificações um advogado do século XXI precisa para sem bem-sucedido?”
O reitor apresentou assim os quatro elementos básicos da reforma do curso de Direito nos Estados Unidos:
1. Para começar, é preciso reformular totalmente o currículo. Ele deve ser rigoroso e altamente focado na realidade do que deve ser um advogado hoje e amanhã, não ontem. Nosso foco não pode se concentrar apenas no ajuste do que não gostamos no curso de Direito. Devemos levar os estudantes a se empenhar na aquisição dos conhecimentos jurídicos, qualificações e competências que precisam para obter êxito no trabalho.
Além das disciplinas fundamentais do Direito, os estudantes precisam de um treinamento bem melhor em redação, capacidade empresarial, desenvolvimento de projetos, tecnologia, análise de dados, desenvolvimento de liderança e comunicação.
Essas qualidades são cobiçadas pelos escritórios de advocacia. Elas transformam um profissional técnico em pensador estratégico, negociador competente, solucionador de problemas e líder comunitário. Hoje em dia, os estudantes não adquirem essas qualificações nas Faculdades de Direito.
2. O curso de Direito deve ter um foco intenso em aprendizado experimental — ou prático. Estágios breves em escritórios de advocacia ou em tribunais não são suficientes. Em vez disso, precisamos de cursos em tempo integral, conectados com residências jurídicas (similares às residências médicas) que se tornem a base da formação jurídica.
Precisamos criar cursos práticos em parcerias com escritórios de advocacia, juízes, organizações sem fins lucrativos e órgãos governamentais, em que os alunos possam aprender atuando em programas imersivos e interativos. Os estudantes também precisam participar de simulações lideradas por advogados atuantes, em clínicas, tribunal do júri simulados e outros programas de julgamentos simulados.
As dimensões experimentais da formação jurídica devem ser integradas e estrategicamente seguidas de cursos rigorosos do primeiro dia de aula à graduação, oferecendo aos estudantes níveis crescentes de responsabilidades em trabalho jurídico real, em cada estágio de seus desenvolvimentos.
3. Precisamos de mais envolvimento de advogados e juízes atuantes. Esses especialistas são essenciais para um dos componentes mais importantes de uma experiência bem-sucedida na faculdade de Direito: o amplo desenvolvimento de relacionamentos pessoais e profissionais.
Em vez de esperar que os estudantes irão esculpir uma carreira apenas com o esforço próprio, devemos disponibilizar a eles consultores e mentores profissionais, que podem ser membros do corpo docente, advogados, orientadores vocacionais e treinadores executivos. Eles podem aconselhá-los, por exemplo, nas seleções de cursos, experiências práticas e na definição de um caminho personalizado para o sucesso na carreira.
Também devemos oferecer workshops e programas que encorajam onetworking (formação de relacionamentos profissionais). E fornecer treinamento excepcional de profissionalismo aos estudantes nas áreas de ética e liderança. Em geral, advogados e juízes têm um grande interesse em fazer parceria com faculdades de Direito, porque sentem que é uma oportunidade para participar ativamente na formação de grandes talentos para o futuro.
4. Com a dívida média dos formandos de faculdades de Direito particulares na faixa de US$ 125 mil, reduzir os custos dos cursos de Direito nos EUA é um elemento crítico para o sucesso das escolas. Precisamos tornar o curso de Direito mais acessível. Aumentar as oportunidades de bolsa de estudos e de financiamentos acessíveis é parte da resposta, mas não é o suficiente.
Precisamos reduzir os custos e garantir aos estudantes que não iremos aumentar os preços durante todo o curso. Uma maneira de fazer isso é reelaborar o currículo, de forma que todos os estudantes possam acelerar seus estudos e se formar em menos tempo.
Fonte: Conjur