“Ó Januária! Águas vertentes, águas correntes te fazem amada, da realeza, da natureza, toda beleza, Terra Adorada!” Os versos do hino da cidade, cantados por crianças e adolescentes do Coral da Fundação Educacional Caio Martins, saudaram, no último dia 30 de abril, os participantes da solenidade de inauguração do Centro de Reintegração Social (CRS) da Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (Apac) de Januária.
Prestigiada por várias autoridades e comunidade local, a solenidade contou com a apresentação pelos próprios recuperandos dos símbolos da metodologia apaqueana: a Cruz (a Apac foi construída ao pé da cruz); a Bíblia (a palavra de Deus como suporte); a Pá (simbolizando o trabalho); o Caderno e o Livro (representando a educação e a dignidade). Na ocasião, foi lembrada aos participantes a filosofia da Apac: “Todo homem é maior que seu erro.”
O descerramento da placa de inauguração teve a participação do presidente do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, desembargador Sérgio Resende, do coordenador do projeto “Novos Rumos na Execução Penal”, desembargador Joaquim Alves de Andrade, do presidente da Apac de Januária, Alisson Veloso da Cunha, dos juízes Francisco Lacerda Figueiredo e Alex Matoso e da promotora de Justiça Ana Eloísa Marcondes da Silveira. Após descerramento, o promotor Hugo Barros de Moura Lima, introdutor do método Apac na comarca, falou aos participantes.
Realização de amor
Hugo Barros, que atuou na comarca, confessou que o seu coração muito ansiou por esse momento. “Sempre que tentava escrever alguma coisa para ser lida, meu coração se calava, o computador não correspondia, as palavras não vinham. Agora, falo de improviso”, declarou. O promotor atribuiu a realização da Apac em Januária ao amor: “Falo do amor, não do amor de novelas e filmes, mas daquele amor que olha na mesma direção. Do amor que se abaixa, do amor caridade, do amor misericórdia”.
O promotor lembrou o início de sua carreira, longe da família. Recordou as palavras da mãe: “Vá primeiro aos pobres, aos pequenos. Vá à Galiléia primeiro, deixe Jerusalém para o final”. Comparou a Apac ao grão de mostarda: é o menor grão mas, se cuidado, dá origem a uma grande árvore. Sobre o amor caridade, essencial à Apac, explicou ser aquele amor desinteressado, que ama quem não pode dar nada em troca. “Foi o amor que nos possibilitou chegar até aqui, superar todas as dificuldades. As pessoas plantaram e Deus fez crescer”, ressaltou.
Referindo-se ao grande empenho do desembargador Alves de Andrade para a implantação e expansão das Apacs, definiu-o de instrumento de Deus, de caridade, de amor desinteressado. Concluindo, registrou o apoio e incentivo recebido de sua esposa, na luta pela instalação da Apac em Januária.
Mudança para o bem
Ao falar aos participantes, o desembargador Alves de Andrade destacou as palavras do promotor Hugo Barros: “Ele disse tudo que precisava. No estilo da Apac. Com sinceridade, com os olhos voltados para Deus”.
Lembrou o início do projeto Novos Rumos, o convite do desembargador Sérgio Resende para conhecer a Apac de Itaúna. Posteriormente, o convite do então presidente do TJ, desembargador Gudesteu Biber para assumir a coordenação do Projeto, as várias visitas à Apac de Itaúna, os encontros com o juiz Paulo Carvalho, de Itaúna, os receios.
Destacou o desafio de transformar o criminoso em cidadão, de promover uma mudança para o bem. Sobre sua caminhada em toda Minas Gerais, ressaltou que todas as comunidades acolhem a Apac de braços abertos. Fazendo coro às palavras do promotor Hugo Barros, declarou: “A Apac é uma obra de Deus”.
Ainda em sua apresentação, falou do seu sonho de ver as Apacs autossuficientes. Contou histórias felizes de recuperandos que conseguiram surpreender. Aos recuperandos de Januária, deixou seu recado: “Vocês ainda vão encher de orgulho esse velho professor da Apac”.
Reforçando a importância do amor doação e da caridade, o presidente da Apac de Januária, Alisson Veloso da Cunha, abriu seu discurso lendo a Carta de São Paulo aos Coríntios. Agradeceu a participação de todos na obra Apac, autoridades do Judiciário, Legislativo e Executivo, voluntários, instituições parceiras, imprensa, comunidade local.
Finalizou com o ensinamento de Dom Bosco: “Deus nos colocou neste mundo para os outros”. A solenidade contou também com o depoimento do recuperando Flávio Procópio e com homenagem, feita pela Apac, a todos os envolvidos no projeto.
Após a apresentação do coral da Apac, o presidente Sérgio Resende encerrou a solenidade dizendo: “Voltaremos para as nossas casas com a certeza de que algo de extraordinário está acontecendo. Um evento ser capaz de reunir tantas pessoas, numa tarde de sexta-feira, debaixo de um sol escaldante, é sinal de que alguma coisa está mudando...”
Apac Januária
Criada juridicamente em 2006, a Apac de Januária iniciou a construção do seu Centro de Reintegração Social em setembro de 2008, com recursos do Governo de Minas, repassados através da Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds), no valor total de R$ 812 mil. O Ministério Público local também contribuiu com R$ 100 mil através de verbas advindas de Termos de Ajustamento de Conduta. Outra fonte de recursos utilizada, em torno de R$ 50 mil, foi a de pena pecuniária aplicada pelo Judiciário local.
Funcionando desde dezembro de 2009, a Apac de Januária está com 17 recuperandos no regime fechado e oito no semiaberto. A transferência de presos para a Apac está sendo feita gradativamente e a expectativa é de que, até o final de 2010, 50 recuperandos estejam cumprindo pena na entidade, chegando à capacidade máxima, de 80 vagas, em meados de 2011.
As construções de Apacs têm sido o resultado do esforço conjunto do Tribunal de Justiça de Minas, por meio do projeto Novos Rumos na Execução Penal, do Governo do Estado, do Ministério Público Estadual, dos poderes locais e da sociedade civil organizada das localidades onde a Apac está sendo implantada.
Presenças
Participaram ainda da solenidade, dentre outras autoridades e convidados, o prefeito Municipal de Januária, Maurílio Neres de Andrade Arruda; o presidente da Câmara Municipal, vereador Adelson Batista Magalhães; o coordenador-executivo do projeto “Novos Rumos”, juiz Luiz Carlos Rezende e Santos; o presidente da Subseção da OAB de Januária, Sidney Magalhães Pereira; o capitão Antônio Carlos Basílio de Oliveira, representando o comandante do 30º Batalhão da Polícia Militar, major Geraldo de Sales Filho; o delegado regional de Polícia Civil, Raimundo Nonato Gonçalves; os juízes Cássio Azevedo Fontenelle, de Belo Horizonte, Maurício Leitão Linhares, de Montes Claros, Geraldo Andersen de Quadros Fernandes, de Bocaiúva, Daniel Dourado Pacheco, de Matozinhos, e Danilo Campos, de Montes Claros; a diretora-executiva de Engenharia e Gestão Predial do TJMG, Elídia Tavares de Lanna Rocha; a esposa do desembargador Sérgio Resende, Tânia Resende; promotores de Justiça da comarca de Januária; o empresário João Gel e sua esposa, Klênia Gosling; o deputado estadual Rui Muniz; os promotores de Justiça da comarca de Januária, Felipe Gomes de Araújo e Daniela Yokoiama; o prefeito de Itacarambi, Rudimar Barbosa; o diretor-geral do presídio de Januária, André Luiz Lopes Oliveira; e o professor Sebastião José Vieira Filho, representando o reitor da Unimontes
Fonte: TJMG