Luiz Guilherme Marques – Juiz de Direito da 2ª Vara Cível de Juiz de Fora – MG

(Dedico este artigo a Jane Ribeiro Silva)

É interessante que muitas pessoas aceitam orgulhosamente qualificativos que estão longe de merecer de verdade. A vaidade faz com se adornem de falsas virtudes para se valorizarem no meio onde vivem, enquanto que Jesus recusou o qualificativo de bom, dizendo que somente Deus pode ser interpretado como tal.

Este artigo não visa, todavia, desmitificar as virtudes “de araque”, nem desacreditar os “santos de pau oco”, mas sim encorajar aqueles que se julgam inferiores pelos defeitos morais com que são apodados e que acabam por aceitar os piores rótulos com que a sociedade tenta crucificá-los moralmente.

Existe uma tendência maldosa de muitas pessoas para a prática do que atualmente se denomina “bullying”, o qual não vitima somente crianças, adolescentes e jovens, mas também adultos e pessoas idosas.

Igualmente, há muita gente cujo maior prazer é comentar defeitos morais alheios reais ou imaginários, que, se reais, não compete aos maledicentes analisá-los, e, se imaginários, menos ainda.

O hábito de importunar os outros, por via direta ou através da maledicência, é reflexo de complexo de inferioridade, facilmente perceptível para quem conhece Psicologia.

Quem se sente inferiorizado pelos próprios defeitos morais não deve se encolher e abaixar a cabeça ao se comparar com muitos virtuosos “de vitrine”, porque a maioria dessas qualidades que andam expostas à apreciação pública é puro reflexo de esperteza ou vaidade, sendo que alguns ostentam virtudes para “levar vantagem” e outros pelo desejo de serem supervalorizados.

Os virtuosos de verdade reconhecem suas próprias falhas morais e não desprezam os demais.

Gandhi venceu o sensualismo que o caracterizou até uns cinqüenta anos de idade à custa de muita humildade, o mesmo se dizendo da sua tendência para o autoritarismo e o machismo. Nutria grande afeição pelos desajustados de todos os matizes e, por isso, era amado e admirado inclusive por eles.

Michel de Montaigne sempre considerou o pior dos defeitos morais a arrogância dos que se julgam superiores à humanidade e criticou-os com firmeza. Nunca acreditou em virtudes retumbantes, chegando a dizer que qualquer pessoa mereceria a pena de morte pelo menos meia dúzia de vezes pelos crimes declarados ou ocultos que praticou.

Jesus desculpava sempre as falhas morais mais repudiadas pela sociedade corrompida e egoísta do seu tempo, mas nunca admitiu a hipocrisia e a falta de humanidade.

A rotulagem perpétua de pessoas como desajustadas socialmente é um dos piores desserviços que se pode prestar à sociedade, pois fecha a porta do recomeço a muitos que pretendem emendar-se.

Há muitos ex-drogados, ex-alcoólatras, ex-criminosos, ex-estupradores, ex-corruptos e outros tantos, que, “mudando de lado”, passam à posição de leais e competentes orientadores daqueles que ainda se mantêm “no lado errado”.

Ninguém melhor para ensinar o Bem do que aqueles que viveram no Mal.

O método APAC representa uma das formas mais lindas da recuperação humana e uma das idéias mais avançadas que surgiu no século XX, só não sendo valorizada mundialmente porque surgiu num país do 3º mundo, que é o nosso.