Luiz Guilherme Marques – Juiz da 2ª Vara Cível de Juiz de Fora – MG
(Dedico este artigo a Camila Arbex)
Houve época em que o quociente intelectual (QI) era considerado um dos dados mais importantes na seleção de candidatos aos postos de trabalho mais qualificado, porque a rapidez de raciocínio, por exemplo, era tida como indício de superioridade intelectual, não havendo nenhuma outra forma então conhecida de avaliação que não essa.
Com o passar do tempo e a evolução da própria Psicologia, verificou-se que outros elementos deveriam ser levados em conta para se detectar quem realmente deveria ser considerado apto para trabalhar com proveito para as empresas, que, como é natural, necessitam de lucros para sobreviverem, e, então, passou-se a verificar, por exemplo, a capacidade dos trabalhadores em manterem-se serenos nas condições mais adversas possíveis, daí sendo considerado um outro tipo de perfil, representado pelo quociente emocional (QE).
Nos concursos públicos, por exemplo, para ingresso na Magistratura, Ministério Público, Polícia Civil etc. são os candidatos submetidos ao exame psicotécnico, que, infelizmente, ainda não é levado tão a sério quanto deveria, tanto que costumam, vez por outra, ser aprovados elementos não vocacionados, portanto, despreparados para o exercício desses cargos.
Chamou-me a atenção a experiência vivenciada por uma bacharel recém-formada, a qual participava de uma seleção para trabalhar em determinada empresa, a qual, impulsionada pela sua boa formação moral, prestou auxilio desinteressado a um “concorrente”, o que, ao final da seleção, foi levado em conta pela empresa como dado positivo da personalidade daquela candidata a título de maturidade e espírito de colaboração, necessários para o bom desempenho de qualquer trabalho em grupo.
Efetivamente, esse tipo de mentalidade deveria ser avaliado em todos os psicotécnicos, inclusive, nos concursos para a Magistratura e demais cargos públicos, não se podendo conceber que alguém que não tenha a índole de colaboração e boa-vontade venha a ser um bom servidor público.
Trabalhar em equipe é a única forma de atuar com bons resultados, sendo que o individualismo e, pior ainda, a aversão à boa-vontade e ao dever do bom atendimento geram a mentalidade questionadora, a rivalidade, espírito de competição, no primeiro caso, e reclamações do público, situações essas que desagregam e deterioram qualquer ambiente de trabalho e justificam a fama negativa que nós, funcionários públicos, normalmente temos perante o povo.
Fica aqui a sugestão para que nos exames psicotécnicos e nas avaliações em geral para a seleção de servidores públicos se leve em conta esse perfil moral tão positivo, revelado na atitude espontânea da candidata que aqui homenageio.
O Serviço Público necessita de melhoras urgentes em termos de aplicação de tecnologia de última geração, mas, sobretudo, de melhoria do material humano, pois o número de não-vocacionados ainda é muito grande, com reclamações constantes e justas dos cidadãos.