Luiz Guilherme Marques (Juiz de Direito da 2ª Vara Cível de Juiz de Fora - MG)
Apesar de praticamente todas as religiões afirmarem a continuidade da vida após a morte, na verdade, a maioria das pessoas foi ensinada a considerar essa transição como um mal terrível a ser temido e evitado a qualquer preço.
Esse pensamento faz com que as pessoas em geral se apeguem à relativamente curta vida material e, com isso, alguns acontecimentos comuns passam a figurar como relevantes sofrimentos físicos ou morais, como o fato dos jovens gozarem geralmente de saúde, mas não deterem o poder e o dinheiro, enquanto que os velhos comandam a sociedade, no entanto, caminham a passos largos para a morte; a pobreza limita os sonhos da maioria, enquanto que os ricos muitas vezes são odiados; as múltiplas doenças vitimam, em uma época ou em outra, praticamente todas as pessoas etc. etc.
No final do século XVIII surgiu uma nova disciplina, tendente a analisar a alma humana (cognominada mente) sem os velhos postulados da Religião e sem adotar os métodos da Filosofia. Essa disciplina pretendia utilizar como forma de pesquisa a experimentação, tornando-se, em pouco mais de um século, um corpo um tanto desorganizado, mas rico de informações, que é a Psicologia.
Alguns desacreditam dela ao argumento de que não seria sequer um ramo da Ciência, mas sim um emaranhado de suposições improváveis. Outros afirmam que ela pretende estudar o imponderável, no caso, a mente. E, assim, os reducionistas procuram desmerecer os esforços de milhares de teóricos e profissionais da área, espalhados pelo mundo, em todos os países e continentes.
Mira y Lopez, todavia, depois de uma vida dedicada a essa ciência, afirmou que as dissidências entre as muitas correntes representa não a fraqueza da Psicologia, mas sim sua força, sua pujança e o caminho para seu desenvolvimento.
A Psicologia tenta aprofundar a visão sobre esse elemento imponderável, mas perceptível, que é a alma humana, visando, inclusive, a fazer a travessia humana menos acidentada e mais consciente. Grande serviço tem prestado a milhões de pessoas, que se socorrem de suas descobertas e da ajuda dos seus profissionais.
Gradativamente, todos os demais ramos do Conhecimento vão lhe reconhecendo a importância e associando-se-lhe ao trabalho, como é o caso do Direito.
Entusiasta da Ciência Psicológica, tenho procurado, dentro das minhas possibilidades, que não são tantas, chamar a atenção dos teóricos e operadores do Direito para ela, inclusive por causa do auxílio que pode dar na seleção de servidores públicos, através do exame psicotécnico.
Todavia, uma questão importante, que praticamente está ainda inexplorada pela Psicologia, mas que é decisiva para os seres humanos, é a Fraternidade, única forma de se minimizar as dificuldades que acometem todos e cada um.
Grande parte dos sofrimentos humanos se devem não a uma inevitabilidade fatal, mas sim ao egoísmo, orgulho e vaidade que caracterizam as pessoas em menor ou maior intensidade.
Se as pessoas deixassem de combater umas às outras e se unissem em busca de soluções para os problemas individuais e coletivos, pelo menos metade das dificuldades se resolveriam.
O Direito, como ciência, toca na Fraternidade apenas tangencialmente, o mesmo se dizendo da Psicologia.
Quanto à Religião, afirma essa necessidade teoricamente, mas a maioria dos seus adeptos, negam-na nas atitudes da vida diária de relação.
Talvez a única disciplina em condições de carregar essa bandeira com real sucesso seja a Política, justamente por visar fins eminentemente práticos, trabalhando em função do bem-estar dos cidadãos.
Assim, apesar de desprezada, no momento, por grande parte dos cidadãos, representa um caminho para que as dificuldades naturais da vida humana sejam suavizadas.