Autor: Luiz Guilherme Marques, juiz de direito da 2ª Vara Cível de Juiz de Fora – MG
Por alguma razão, que não consigo explicar, desde meus dias de adolescência, sempre me interessei por aprofundar o estudo sobre tudo que diz respeito à ciência de ser “bem resolvido interna e coletivamente”.
Tenho certeza de que não avancei muito nem na teoria e, muito menos, na prática dessa dificílima ciência, mas pelo menos alguns referenciais posso relacionar para os prezados leitores.
Quero iniciar esta exposição pelo que ouvi numa preleção de um índio brasileiro chamado Kaká Werá Jecupé, o qual afirmou que os tupis valorizam quatro situações da vida do ser humano: o nascimento, o engatinhar, o aprender a falar e o andar sobre as próprias pernas.
Essa afirmação pode parecer simplória, mas engloba todas as vivências do ser humano, porque há pessoas com sessenta anos que não falam com sabedoria, outras de cinqüenta que não andam corretamente conforme as próprias falas, outras que não ficam de pé nas situações difíceis ou, caindo, não voltam a ficar em pé e assim por diante.
Jacob Levy Moreno valorizava, em suma, a espontaneidade com idealismo e a integração construtiva de cada indivíduo nos grupos menores ou maiores em que vive. Não se trata da espontaneidade voltada para a maldade, a inconseqüência etc., mas o contrário.
Erik Erikson reproduziu na sua teoria das oito fases da vida a Filosofia dos índios americanos, sendo que em cada uma das fases devemos fixar o máximo de melhorias que conseguirmos.
O Dalai Lama também afirma uma série de condutas internas e externas que o ser humano deve adotar para alcançar a felicidade.
Chico Xavier espalhou lições de bem viver a cada minuto da sua profícua e longa existência.
Ralph Waldo Emerson dizia que devemos agradecer aos outros por tudo que sabemos, pois somos a soma de tudo que nos ensinaram direta ou indiretamente.
Michel de Montaigne dizia que Sócrates se baseava, em tudo, na Natureza, no que confirma a Filosofia dos indígenas, através dos seus xamãs.
De qualquer forma, quero dizer que não importa o mestre que seguimos, mas sim que tenhamos pelo menos um mestre a quem sigamos.
As lições estão espalhadas pelo mundo inteiro e datam de todas as épocas da humanidade.
Ninguém pode alegar não ter um referencial saudável para imitar.
E quanto aos operadores do Direito é também importante não ser apenas um aplicador mecanizado de leis, doutrina e jurisprudência, mas principalmente ser um homem ou uma mulher sensível, que sabe chorar diante do sofrimento alheio, que coloca o coração no mesmo nível da cabeça e a coragem num prato da balança em que no outro está a imparcialidade.
Tenho visto alguns casos de frieza moral diante das agruras vivenciadas pelas partes e isso tem me assustado.
Tenho visto o tecnicismo como prioridade nos concursos, por exemplo, para ingresso na Magistratura e outras carreiras, bem como nos exames de ordem.
Por isso, o dia-a-dia do foro tem mostrado a brutalidade, a aspereza no trato, as lides temerárias e a enxurrada de ações que tramitam nos foros do país.
O que está faltando não é preparo técnico, mas sim ética no sentido de respeito a si mesmo e ao próximo, o primeiro por manchar a consciência em troca de dinheiro e o segundo por não se colocar na posição do outro e imaginar-se no lugar dele.
Quando sugeri ao CNJ, há anos atrás, a inclusão da Psicologia nos concursos para a Magistratura, bem como outras matérias de cunho humanístico, não imaginava que chegaríamos ao ponto em que estamos, de embrutecimento, robotização dos profissionais do Direito e descaso pela própria “resolução interna” e pela alteridade.
Acho que está chegando a minha hora de fazer como Joaquim Barbosa: sair de cena e deixar que uns devorem os outros.