Estão equivocados os que cobram da presidente Dilma Rousseff maior protagonismo na crise síria. No debate durante o jantar de inauguração da cúpula do G20, realizada na última semana na Rússia, o primeiro ministro britânico, David Cameron, fez exatamente isso, ao defender a posição do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama.

De acordo com Cameron, Obama está certo em defender a lei internacional e o princípio da responsabilidade em proteger as populações de um país quando ela é atacada pelo próprio governo. Para o premiê britânico, não basta culpar a Rússia e a China por bloquearem no Conselho de Segurança da ONU a aprovação de uma ação militar estrangeira na Síria. Antes de apontar o dedo para russos e chineses, acrescentou Cameron, “é importante argumentar com a África do Sul, o Brasil e outros”.

Para a Casa Branca, o problema tem sido, exatamente, convencer outros países de que o governo do presidente Bashar al-Assad foi o responsável pelo uso de gás sarin contra oponentes, no dia 21 de agosto, que teria matado, segundo relatório da inteligência americana, 1.429 pessoas, sendo 426 crianças. Até o presidente francês, François Hollande, aliado de primeira hora de Obama, revelou-se mais cauteloso durante a reunião do G20. Ele disse que vai esperar, para decidir a respeito de uma intervenção militar, pelo relatório da ONU, que só deve sair no fim do mês.

Hollande, Cameron e Obama sofrem pressão do parlamento e da opinião pública de seus países. Amanhã, o presidente dos Estados Unidos deve fazer novo discurso, na tentativa de conseguir autorização do Congresso americano para o ataque. Seu esforço para obter apoio no grupo dos 20 países mais ricos fracassou. Somente Canadá, Arábia Saudita, Turquia e Reino Unido concordaram com um ataque à Síria sem a chancela de uma resolução da ONU. Mas o apoio do premiê britânico não vale, antes que ele consiga dobrar o parlamento – o que parece impossível.

A posição do Brasil, reafirmada em São Petersburgo pela presidente Dilma, é que só a ONU tem mandato para definir uma intervenção militar. Portanto, apoia as investigações encarregadas pela secretaria-geral das Nações Unidas sobre o uso de armas químicas. E, mais importante que uma intervenção militar, é buscar uma solução política para o conflito, convocando uma nova conferência em Genebra, que deveria ser “um mecanismo de construção da paz na região”.

São argumentos fortes – e não apenas para inglês ver.
Fonte: Hoje em Dia