O que diferencia os gênios das pessoas medianas não é o volume de conhecimentos que têm, mas sim a sua qualidade.

Há pessoas que têm muita cultura, títulos e cargos, representando verdadeiras "enciclopédias ambulantes", mas nada conseguem criar.

Todavia, há outras, que têm menor bagagem cultural, mas têm uma inteligência mais aguda, conseguindo sempre descobrir "caminhos nunca d'antes navegados".

Talvez o mais importante gênio do Direito de todos os tempos tenha sido MONTESQUIEU, que planejou o que muitos tinham pensado antes, mas de forma superficial: a separação dos poderes.

Outro gênio do pensamento foi MICHEL DE MONTAIGNE, cujas idéias serviram de paradigma em vários setores da atividade humana.

Uma das melhores idéias que apresentou foi a seguinte: "É melhor uma cabeça bem feita do que uma cabeça cheia."

Os pedagogos aproveitaram essa tese e a desenvolveram visando a melhoria do Ensino.

EDGAR MORIN foi um dos que mais aprofundou e divulgou essa importante idéia.

Tão importante que pode servir para a melhoria dos concursos públicos, inclusive aqueles para seleção de magistrados.

Certa feita, assisti a uma sessão da Corte Superior do TJMG, onde dois desembargadores criticaram severamente a forma como estavam sendo realizados os concursos para seleção de juízes e servidores. Com inteira razão, quando afirmavam o absurdo da formulação de questões dificílimas e de nenhuma utilidade para o trabalho diário desses operadores do Direito.

Realmente, o nível de dificuldade das provas tem estado absurdamente elevado, não pelo fato de avaliarem os itens realmente importantes do Direito e sim por pretenderem averiguar quais dos candidatos "decoram" maior quantidades de doutrinas inúteis de teóricos que nunca entraram num ambiente forense.

"Cabeça cheia" de "cultura inútil" é o que tem sido cobrado dos candidatos, redundando na aprovação de muitos que sequer têm vocação para o trabalho de juiz, o qual exige bom senso, humanidade, cortesia e interesse pelas causas públicas.

Enquanto isso, os que se caracterizam pela "cabeça bem feita" não passam nem na primeira prova, que é de "múltipla escolha", verdadeira impropriedade, principalmente quando três respostas erradas anulam uma certa. Fica parecendo prova de "criança de grupo", como se dizia antigamente...

"Cabeça bem feita" é o que deve ser priorizado.

Quem é mera "cabeça cheia" tem de passar da simples acumulação de conhecimentos para a reflexão.

Autor:Luiz Guilherme Marques - Juiz de Direito da 2ª Vara Cível de Juiz de Fora - MG