Uma pioneira no associativismo
Um espírito aventureiro e descobridor dos sete mares aguarda ansiosamente a oportunidade de velejar por oceanos nunca dantes navegados. A carteirinha de "mestre" está guardada com carinho junto aos demais documentos em sua bolsa. Na prova teórica, realizada na Marinha do Brasil, ela passou com louvor. Agora se aproxima a hora de aplicar na prática, com sabedoria e prudência, a ciência da física, a tecnologia no tocante a equipamentos e situações climáticas, sentir o vento no rosto, se esquivar das intempéries e das calmarias das marés. Isso poderá acontecer em Portugal ou no Lago de Garda, na Itália. Mais que um sonho, uma vontade para breve.
As atividades físicas são parte importante de sua agenda cotidiana. A prática de exercícios, inclusive em academia, como reforço de massa muscular, ajuda a combater o estresse e uma lesão no joelho, explicou. Em pauta, o tênis, o squash, o esqui na neve, durante as férias forenses, longas pedaladas pela Serra do Cipó, posto que nos centros urbanos, prepondera o perigo ao ciclista. "Na cidade não dá", alertou. Quando o tempo está curto, uma corridinha na Serra do Curral para manter a boa forma.
Natural da pequena Queluzito, a desembargadora do TJMG, Luzia Divina de Paula Peixôto, com circunflexo no último sobrenome, pois assim registrado oficialmente em cartório por seus antepassados, formou-se pela PUC Minas, em 1991. Antes de ingressar na magistratura, em 1997, foi servidora da instituição judicial e do TRE.
Muito de sua experiência à frente da justiça mineira foi adquirida como protagonista de primeira instância nas comarcas de Boa Esperança, Passos, Contagem e Belo Horizonte. Além do contato direto com a população, aprendeu muito na labuta diária no interior do estado sobre os meandros e as minúcias processuais.
Na capital mineira, ela assumiu a Sexta Vara da Fazenda Pública. Em março de 2020, foi nomeada desembargadora substituta pelo então chefe do judiciário estadual, Nelson Missias de Morais, em lugar do desembargador Alberto Diniz Junior. Hoje, Luzia Peixôto compõe como titular a Terceira Câmara Cível do TJMG.
Em toda a sua profícua carreira, a desembargadora nunca tirou de foco os valores éticos da profissão. Estou na magistratura por escolha, não por falta de opção, esclareceu. Servir bem com denodo e celeridade jurisdicional à sociedade é objetivo incansável. Ela ocupou por três vezes a vice-presidência da Associação dos Magistrados Mineiros (Amagis) nas áreas de finanças, saúde e administração, a ponto de considerar-se uma das mulheres "pioneiras" na luta pelo associativismo.
Ainda se lembra com apreço da parceria com o saudoso desembargador Herbert Carneiro, na presidência do Tribunal de Justiça. Ali desempenhou a função de juíza auxiliar da presidência com competência administrativa em contratos e licitações. As passagens pela Amagis e Tribunal contribuíram para seu amplo conhecimento do Judiciário Mineiro. Atualmente, acrescentou, sempre que pode participa de alguma forma para a valorização da corporação, "pois esta a gente não larga nunca". Ela segue firme no conselho gestor da Amagis Saúde, como membro nato.
"Não sou militante. Sou defensora de maior oportunidade e inclusão das mulheres no mercado de trabalho", observou, indagada sobre o feminismo. Ressalte-se, porém, defensora de maior espaço para a mulher junto à sociedade e acesso aos cargos diretivos. Luzia Peixôto crê, por exemplo, que o sistema de quotas, unicamente como forma de ingresso da mulher, acirra o enfrentamento e a competitividade entre a mulher e o homem, pois reforça a discriminação, quando se deveria reconhecer e valorizar a competência feminina. "O exercício da magistratura não coaduna com a distinção de gêneros", costuma dizer.
Fonte: Caderno Direito e Justiça - jornal Estado de Minas (17/6/2025)