Combater as pequenas infrações com o mesmo rigor de grandes crimes e tirar das ruas os flanelinhas e pichadores são algumas das recomendações do ex-prefeito de Nova York Rudolph Giuliani para diminuir a sensação de insegurança em Belo Horizonte. Ele é considerado o responsável pela redução de 70% dos índices de criminalidade da maior metrópole norte-americana, duas vezes mais do que a média nacional , entre 1994 e 2002, quando administrou a cidade. O nova-iorquino Rudolph William Louis Giuliani, de 69 anos, fará palestra amanhã no VI Congresso Internacional de Direito Penal e Criminologia, no Minascentro, em BH. Em entrevista exclusiva ao EM, ele analisa o que deu certo em Nova York e o que poderia funcionar em BH. Para combater crimes, Giuliani adotou a Teoria das Janelas Quebradas, sugerida em 1982 pelo criminologista James Quinn Wilson, e também conhecida como Tolerância Zero. Segundo a proposta, manter a ordem nos ambientes urbanos é essencial para frear o vandalismo e não permitir espaços propícios para crimes graves. “Se você vê uma janela quebrada na rua e não a conserta logo, no outro dia aparecerão mais vidros quebrados e, quando se der conta, a situação fugiu ao controle, porque nada foi feito quando ainda se tratava de um assunto de menor importância”, compara Giuliani.

Quando o senhor foi prefeito em Nova York a cidade enfrentava onda de criminalidade. Como a tolerância zero poderia ser aplicada em BH?

Tolerância zero não significa prevenir todos os crimes, mas que é preciso prestar atenção no que ocorre nas ruas. Deve-se prestar atenção no que a polícia considera crime de menor potencial. Quando assumi a prefeitura, a preocupação da polícia se restringia aos homicídios e grandes traficantes. Enquanto isso, não davam atenção à prostituição, aos pequenos traficantes e viciados nas ruas, porque achavam que não teriam tempo para isso. O que mudou foi isso. Todos que cometiam crimes tinham de ser tirados das ruas. Tínhamos de fazer das ruas um lugar seguro para pessoas decentes andarem. Foram necessários dois anos para essa política fazer a diferença. Pode ser aplicada em outras cidades sem maiores problemas.

Em Nova York foi nítida a colaboração da população. Como isso pode ser feito, por exemplo, no Brasil, onde ainda há muita gente que acha vantagem transgredir regras e não cumprir as leis?

Tem de mostrar que isso dá resultado. A filosofia foi a Teoria das Janelas Quebradas, mas não deixamos de acompanhar os índices de criminalidade por um programa de computador. Toda semana analisávamos e determinávamos onde a polícia iria atuar.


Mas isso seria suficiente, mesmo onde as pessoas têm hábito de furar filas, avançar semáforos e não seguir outras regras de cidadania?

Realmente, essas pequenas coisas fazem grande diferença, para que as pessoas abracem a ideia de uma sociedade com leis. Em Nova York, tínhamos duas manifestações como essas, que precisaram ser contidas. A primeira foram os pichadores. Passamos a prendê-los por danos a propriedades públicas e privadas, aos pontos de ônibus e metrôs. E outra eram aquelas pessoas que entravam na frente dos carros e constrangiam os motoristas pedindo dinheiro para limpar as janelas dos seus carros.

Como os flanelinhas, que cobram dinheiro nas ruas para vigiar o carro?

Sim, exatamente como eles. Eram pessoas que amedrontavam os motoristas por dinheiro. A solução é só uma: livre-se deles. Eu me livrei deles. Toda vez que um policial flagrava alguém limpando janelas de carros, essa pessoa era detida por andar no meio da rua. Alguns eram criminosos e acabaram presos, outros não eram, mas não podiam ficar amedrontando as pessoas no meio da rua. Então os policiais os mandavam sair e não voltar mais. Em quatro ou cinco semanas, acabamos com esse problema e os cidadãos se sentiram aliviados.

Os policiais norte-americanos são tidos como heróis, mas nem sempre foi assim. No Brasil há uma desconfiança muito grande, principalmente sobre os departamentos de investigação (Polícia Civil). Como isso pode ser revertido?

É preciso uma série de medidas fortes. A primeira coisa: ter uma força policial bem treinada. Não se faz nada com policiais sem treinamento correto. É preciso também pagar salário suficiente, para que não fiquem desesperados por dinheiro e acabem corrompidos mais facilmente do que costuma ocorrer. É preciso descobrir quem é corrupto e removê-lo da força. Deve haver também um programa que verifique a qualidade do atendimento policial. Treinamento e honestidade, basicamente, são questões críticas.

Fonte: Estado de Minas