Deitada numa maca, ela estava sorridente. Observada por alguns, respondeu com ar leve: "É que eu passo mal, gente, fico tonta". Triste só ficou quando mencionou que um amigo teve leucemia e que presenciou o velório de uma menina de 8 anos, aluna de sua mãe, que morreu da mesma doença.
“Eu podia salvar uma vida”, comentou Carolina Henriques dos Santos, estagiária da 33ª Vara Cível do Fórum Lafayette – Unidade Raja Gabaglia. Foram esses fatores que a motivaram a retirar sangue, ainda que deitada, para integrar o banco de doadores de medula óssea.
A estagiária participa da campanha, realizada pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) em parceria com a Fundação Hemominas. A ação levará postos para coleta de sangue a mais quatro comarcas do estado, durante esta semana.
Antes dela, esteve ali na sala de doação o juiz diretor do foro de Belo Horizonte, Chrystiano Generoso. Braço estendido, também descontraído, conversava com os atendentes. Ao terminar a coleta fez uma defesa pela doação.
“Essa é uma campanha importante, que visa formar um banco de doadores, já que a probabilidade de haver compatibilidade entre doador e paciente é baixa. Quanto mais pessoas se cadastrarem, mais chance de cura para quem necessita. É imprescindível para quem está padecendo”, resume.
Dados do Hemominas confirmam a fala do juiz. A probabilidade de se encontrar um doador é de 1 em 100 mil entre as pessoas não aparentadas. E fica entre 25% e 30% entre irmãos. A compatibilidade é verificada pela semelhança entre os antígenos dos leucócitos do doador e os do receptor, através do exame de HLA (antígenos leucocitários humanos).
Está no sangue a vontade de ajudar o próximo, segundo outra Carolina, a servidora Carolina Andrade Souza, da 2ª Vara de Feitos Tributários. “Herança do meu pai e do meu avô. Eles sempre buscavam ajudar, não importa quem. Cheguei, bati meu ponto e a primeira coisa que fiz foi vir me cadastrar. É o mínimo que a gente pode fazer, né? Ajudar o outro”, afirmou.
“Só disponibilidade e tempo. Não tem risco para quem doa e pode salvar vidas, porque tem cura. Às vezes, um pai ou uma mãe ficam impotentes diante de um filho doente, mas a cura existe por meio do transplante da medula óssea”, confirmava Carlos Orlando, um dos motivadores da campanha, em conversa com Generoso.
Tudo começou em 2016. Ele estava no Fórum Lafayette em visita à juíza Maria Isabel Fleck, a quem coube a iniciativa, e observava a movimentação. A quantidade de pessoas que circulavam por ali, das mais diversas origens étnicas, era o bastante para se iniciar uma campanha, considerando que a quantidade de potenciais doadores e a diversidade de raças é fundamental para que haja compatibilidade entre paciente e doador.
Orlando sempre buscou realizar campanhas de doação de medula óssea. Mesmo seu filho não precisando de transplante, sendo vitorioso no tratamento com medicamentos para tratar de aplasia medular, ele começou a buscar meios para ajudar outros que precisavam. “Ao iniciar o tratamento com meu filho, vi que tinha muita gente precisando. Você passa a observar mais a necessidade do outro”, comentou.
Como é feita a doação
Após ser verificada a compatibilidade, o doador passa por alguns exames, e então inicia-se o procedimento de retirada da medula, que pode ser feito por punção no osso da bacia, por um pequeno procedimento cirúrgico ou por coleta por via periférica, método que se assemelha a uma doação de sangue.
Atendimentos
Os interessados puderam se apresentar nos postos de atendimentos instalados no saguão do Edifício Sede do TJMG (Avenida Afonso Pena, 4.001, Serra), no Fórum de Betim (Rua Professor Osvaldo Franco, 55, Centro) e no Fórum Raja (Avenida Raja Gabaglia, 1.753).
Em 18 de setembro, a ação acontece em três comarcas. No Fórum de Contagem (Avenida Maria da Glória Rocha, 425, II Salão do Júri), será realizada das 12h às 16h; no Fórum de Uberaba (Avenida Maranhão, 1.580, 4º andar – Bairro Mercês), das 10h às 16h; e no Fórum de Ituiutaba (Avenida 09-A, 45, Salão do Júri), das 12h às 18h.
O estande da Hemominas estará no Fórum de Poços de Caldas (Rua Pernambuco, 707, Salão do Júri), das 11h às 17h, em 19 de setembro.
Doe vida em vida
Para integrar o cadastro de doadores, é preciso ter entre 18 e 55 anos de idade e boa saúde. É necessário apresentar um documento de identidade com foto e o CEP residencial.
Posteriormente, depois de confirmada a compatibilidade entre doador e paciente, o primeiro é consultado para que se verifique se permanece a decisão de doar.
Os riscos para os doadores são praticamente inexistentes. Apenas 10% da medula óssea é retirada e, dentro de poucas semanas, a quantidade de medula doada será recomposta pelo organismo.
Mais informações sobre doação de medula óssea no site do Redome — Instituto Nacional do Câncer.
TJMG – Unidade Fórum Lafayette