Os primeiros recuperandos da Associação de Proteção e Assistência ao Condenado (Apac) de Frutal já estão instalados no prédio recém-inaugurado: ao passar pelos corredores, curiosos podem ver alguns pertences sobre os leitos estendidos. Mas um visitante que chegou há pouco e tem autorização para ficar um mês deve ter um papel importante nos próximos dias.

Trata-se de Everton Ferreira, um jovem reeducando da Apac de Perdões, no oeste de Minas, que, como costuma acontecer na implantação de novos Centros de Reintegração Sociais (CRSs), terá a função de instruir o Conselho de Sinceridade e Solidariedade (CSS) da Apac de Frutal.

O estágio de Everton, caso haja necessidade, poderá ser dilatado para 60 dias. Conforme a assessora especial da 3ª Vice-Presidência do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), Marina Vilhena, os treinamentos fazem parte da preparação para atuar nos CRSs. “Geralmente os voluntários fazem cursos em Apacs estruturadas há bastante tempo, como Itaúna e Nova Lima. Recuperandos oriundos de Apacs mais antigas também estagiam nas novas unidades, para orientar e auxiliar os companheiros”, conta.

Experiência compartilhada

Como possui mais experiência e está cumprindo pena no regime semiaberto, Everton vai acolher os novos recuperandos, informando-os a respeito do Método Apac, das obrigações, direitos e deveres dos apenados. “A tarefa dele é ajudar na implantação da rotina”, explica Isilda Rodrigues Neves, que é presidente da Apac de Perdões e veio acompanhar Everton Ferreira.

O ‘professor’ completa: “Muitas vezes, o preso chega totalmente desinformado, com o pensamento de fugir ou achando que a vida será fácil. Precisamos mostrar que a Apac não é um hotel e que ele está lá para cumprir pena, apesar de ter boas condições”. O reeducando esclarece que a Apac, longe de incentivar a impunidade, é o estrito cumprimento do que propõe a Lei de Execuções Penais.

Os reeducandos têm de assinar um termo de compromisso do qual constam 23 itens. Existem três faltas inadmissíveis, que implicam o retorno imediato ao sistema convencional: a agressão, o uso de drogas e a tentativa de fuga. Outro elemento básico do método apaqueano são as reuniões semanais, em que problemas são identificados e providências para resolvê-los são tomadas. Segundo Everton, “é uma ‘lavagem de roupa suja’, uma conversa de preso para preso, sem a participação de diretores ou voluntários”.

Satisfação, orgulho e gratidão

Para o visitante de Perdões, a Apac foi e é instrumento de recuperação. “Agora eu me sinto um ser humano. Alguém, na hora certa, fez algo por mim e hoje eu posso retribuir fazendo o mesmo por outros”, avalia. Ele entende que, graças à iniciativa, quem estava jogado no fundo de uma cela, abandonado e desprezado, teve oportunidade de receber ajuda. “Por causa disso, estar aqui é uma satisfação e orgulho”, conclui.
Fonte: TJMG