A Cantata de Natal que será realizada nas escadarias e janelões do Palácio da Justiça, em 9 de dezembro, às 20h, em Belo Horizonte, será apenas mais um desafio – e mais uma vitória – na vida das crianças e dos adolescentes que integram o Coral e a Orquestra Infantojuvenil do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG). Vivendo em situação de vulnerabilidade social, eles deixam de lado a realidade em que vivem para mergulhar, de corpo e alma, no universo da música. Passada a cantata, eles se preparam para voos mais altos: a turnê “Justiça e Paz se Abraçarão”, prevista para ocorrer em outubro do ano que vem.

Coral

Durante a turnê, 15 crianças do coral e 30 integrantes da orquestra viajarão por 15 dias pela Europa, onde farão apresentações na Itália, na Áustria e no principado de Liechtenstein. O convite foi feito pelo reitor do Pontifício Colégio Pio Brasileiro, de Roma, padre João Roque Rohr, que se encantou com o projeto desenvolvido pela Coordenadoria da Infância e da Juventude (Coinj) do TJMG. Além da apresentação no Colégio Pio Brasileiro, está sendo avaliada a possibilidade de uma apresentação no Vaticano para o papa Francisco.

O Pontifício Colégio Pio Brasileiro é o local onde os sacerdotes católicos brasileiros, latino-americanos e de países de língua portuguesa cursam mestrado e doutorado. Muitos estudantes que por lá passaram se tornaram bispos e cardeais.

Coral

No repertório da apresentação, estão músicas brasileiras de compositores eruditos, canções populares e obras folclóricas. Por enquanto, a lista inclui O Trenzinho do Caipira, de Villa-Lobos, em um arranjo para orquestra e coral com letra de Ferreira Gullar, Aquarela, de Toquinho, Na Corda da Viola, do folclore brasileiro, e Asa Branca, de Luiz Gonzaga.

Doações

Mais do que se preparar psicológica e musicalmente, as crianças vivem a expectativa de que os recursos para a viagem sejam angariados a tempo, a partir de doações da comunidade. O custo per capita estimado é de R$ 10 mil, valor que será gasto com passagens aéreas, hospedagem, alimentação e deslocamentos. Há alguns meses, a Associação dos Magistrados Mineiros (Amagis), uma das apoiadoras da iniciativa, abriu uma conta bancária especialmente para receber as doações.

As crianças e os adolescentes que vão participar da turnê serão escolhidos entre os que mais se empenharem e se destacarem no aprendizado musical. Alguns professores e educadores também devem acompanhar o grupo. Lucas, 11 anos, cursa o quinto ano da Escola Municipal Ulysses Guimarães e há dois anos integra o coral. Morador do Morro do Papagaio, em Belo Horizonte, ele acalenta o sonho da viagem internacional. “Treino muito. Meu sonho é viajar para fora do país. Cantar para outras pessoas será muito legal”, diz.

Adriane, 11 anos, aluna da mesma escola e moradora da mesma comunidade, também faz planos: “Sei que ainda não temos o dinheiro, mas acredito que vamos conseguir, porque Deus é mais”, afirma com fé. A viagem para a Europa é vista como uma oportunidade e tanto pela menina, que até hoje só viajou para a roça do avô, que ela não sabe precisar onde fica. Laysla, 11 anos, afirma que gostaria muito de conhecer novos lugares. A apresentação em outro país, segundo ela, gera um pouco de medo, mas o desejo de viajar supera tudo.

Camila, 10 anos, recebe o incentivo da mãe para não desanimar diante da rotina dos ensaios. “Sempre cantei embaixo do chuveiro. Por isso, decidi entrar para o coral, onde ainda posso ficar perto de pessoas que gostam de mim. Quero viajar para conhecer outro país e outra cultura”, afirma. Breno, 19 anos, morador de Venda Nova, está há um ano e nove meses na orquestra. Já monitor, ele diz que a música e o aprendizado de violino mudaram o rumo da sua vida. “Sempre gostei de música, mas não tinha condições de bancar um curso. Agora, estudo cinco horas por dia. Nunca imaginei que teria uma chance de visitar a Europa sem ser músico profissional. A viagem é como um sonho”, conta o jovem artista, cujo talento é motivo de muito orgulho para a família.

Orgulho

Igor, 18 anos, também morador de Venda Nova, direcionou a aptidão adquirida nos anos em que tocou outros instrumentos, como violão e cavaquinho, para o aprendizado de contrabaixo acústico. “Participar da orquestra me fez pensar em me tornar um músico profissional e a querer estudar fora do país. Tenho dois irmãos, de 11 e de 13 anos, que também trouxe para a orquestra. Um está aprendendo violino e o outro vai começar a aprender violoncelo em fevereiro”, diz.

A satisfação da família com as possibilidades trazidas pela música é enorme. “Minha mãe está apaixonadona. Ela conta sobre isso para todo mundo.” Igor diz que nunca imaginou a possibilidade de visitar outro país tão cedo. “Encaro essa oportunidade como uma grande parte do meu futuro. Quero fazer faculdade de música e estudar fora. A turnê já me dará uma ideia de como será. Se conseguirmos ir, será a realização de um sonho”, afirma.

Quem quiser ajudar o coral e a orquestra a tornarem a viagem uma realidade pode depositar sua doação no Banco do Brasil, agência 1615-2, conta corrente 20.399-8. O CNPJ da Amagis, titular da conta, é 16.634.966/0001-10.

Fotos: Renata Caldeira / TJMG
Fonte: TJMG