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Numa crise sem precedentes nos 60 anos de história da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), pela primeira vez, boa parte de sua diretoria anunciou, na tarde desta terça-feira (4), renúncia coletiva de seus cargos e funções por discordar dos rumos assumidos pela atual gestão, presidida por Nelson Calandra. Liderados pelo vice-presidente administrativo da Associação, Marcos Daros, e pelo secretário-geral Nelson Missias de Morais, 22 magistrados formalizaram, nesta tarde, o inconformismo e a entrega de seus cargos.

“Há algum tempo, o inconformismo dos signatários deste documento quanto aos rumos administrativos e políticos dessa prestigiada entidade tem sido manifestado, sem, contudo, encontrar o eco necessário. Assim, renunciam, coletivamente, dos cargos e funções que ocupam, de forma irrevogável e irretratável”, acentua o documento entregue ao presidente da AMB, refletindo, segundo os signatários, o sentimento da maioria da magistratura brasileira que confiou e elegeu a atual direção.

De acordo com Nelson Missias, agora, ex-secretário-geral, a frustração com o desvirtuamento da missão da AMB é o principal causador da crise que atinge a maior entidade da magistratura brasileira. “Faltou vontade política para a defesa do projeto original, com repercussão negativa para a administração da entidade. Na verdade, com a atual gestão, a entidade perdeu o rumo e a identidade. Vamos buscar um novo caminho em defesa de uma magistratura altiva, independente e respeitada pela sociedade”, afirmou o magistrado, antecipando a criação de um movimento pela valorização da classe junto à sociedade e aos três poderes.

O vice-presidente Marcos Daros, também admitiu a sua decepção. “Há uma frustração com a condução daquilo que seria um grande projeto político. Sequer tentaram implementar o projeto. Não passou de uma piada”, criticou Daros, referindo-se à falta de comando na entidade e à excessiva interferência de pessoas de fora da magistratura. Outra vice-presidente (de Interiorização), Maria Luíza Sant’ana, integra a lista de renúncia. “Deixaram de atender ‘as reivindicações dos magistrados. A AMB perdeu a identidade com o magistrado, especialmente com os juízes e juízas do interior brasileiro”.

Um dos primeiros a renunciar foi o diretor-tesoureiro da AMB, Átila Naves. “Renunciei ao cargo em outubro do ano passado por discordar dos rumos da política financeira da entidade”, disse ele, que prenunciou o atual desfecho. Um mês depois, em novembro, seguiu caminho semelhante o diretor da Secretaria de Direitos e Prerrogativas e atual presidente da Associação dos Magistrados do Rio de Janeiro (Amaerj), Cláudio Dell’Orto. “Saí por conta das dificuldades na implementação de medidas em defesa dos direitos e das prerrogativas dos magistrados”, apontou Dell’Orto.

O diretor da Secretaria de Direitos Humanos, Gil Guerra, defendeu o revigoramento da entidade com propostas e ações que reflitam os anseios da classe. “Infelizmente, a atual gestão abandonou o projeto e não atendeu as nossas expectativas”.

O vice-presidente da Escola Nacional da Magistratura (ENM), Marcelo Piragibe, reclamou da falta de cuidado com o projeto que pretendia resgatar a valorização da magistratura. “Vamos buscar a unidade e a valorização da magistratura por um caminho novo para um novo tempo”.

Diretor da Associação dos Magistrados do Amazonas (Amazon), Flávio Pasquarelli, também apoia o movimento pela valorização da magistratura “de maneira ela possa ser ouvida pela sociedade e pelo poder público”. Ele adiantou que a diretoria eleita da Amazon também discorda dos rumos da atual gestão da AMB.