O caderno Direito e Justiça, do jornal Estado de Minas, traz na edição desta terça-feira, 12 de agosto, um perfil do desembargador Roberto Soares de Vasconcellos. Na coluna “Sem Toga”, o magistrado, descendente de italianos e neto de personalidades que deixaram legado cultural e acadêmico na capital mineira, compartilha sua trajetória e revela como equilibra a vida nos tribunais com paixões que o acompanham desde a infância: a música, a leitura e o futebol, especialmente o Atlético Mineiro, seu time do coração.
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Entre autos, acordes e a paixão por futebol
Desembargador há 11 anos no Tribunal de Justiça de Minas Gerais, Roberto Soares de Vasconcellos acumula 37 anos de carreira jurídica e uma trajetória recheada de histórias que transitam entre o direito, a música, o futebol e o amor pelas origens. Fora do gabinete, troca os processos pelo piano, as camisas de futebol – em especial, do Atlético Mineiro, seu time do coração – e as boas leituras.
Vasconcellos tem raízes em Belo Horizonte, onde nasceu e foi criado, mas sua origem é marcada pela forte influência italiana. Seu bisavô, Arrigo Buzzacchi, foi o primeiro maestro da capital mineira, vindo da Itália para exercer essa função e deixando um legado cultural importante na cidade. Além disso, outros membros da família desempenharam papéis de destaque, como seus avós, um político mineiro e outro diretor da Faculdade de Farmácia, que ajudou a fundar o primeiro prédio da instituição em BH.
Logo após se formar em Direito pela Faculdade Milton Campos, em 1988, Roberto iniciou a carreira como advogado do Atlético, onde se tornou o primeiro profissional com carteira assinada a ocupar o cargo jurídico no clube. A estreia nos tribunais foi inusitada: três dias depois da contratação, já defendia o alvinegro em uma audiência contra a Charanga do Galo. A ligação com o clube, no entanto, vinha de muito antes: torcedor apaixonado, costumava assistir aos jogos colado na famosa bateria da torcida e até aprendeu trompete inspirado pelos músicos da arquibancada.
Hoje, mesmo com a rotina rigorosa do Judiciário, mantém o piano como refúgio e terapia. Trocou o trompete por teclas mais suaves e passou a compor músicas autorais. Também jogou futebol amador até os 50 anos e cultiva com os filhos outra paixão: uma coleção com quase 2 mil camisas de times de futebol, incluindo raridades da história do Atlético. “É um hobby que começou ainda menino. A única coisa que você não vai encontrar são camisas do Flamengo e do Cruzeiro”, brinca.
A música e o futebol, dois pilares da infância, permanecem como grandes paixões. Durante a adolescência, integrou uma banda de colégio que tocava Beatles e rock rural. Em casa, compartilha essas afinidades com os filhos: um é advogado e baterista; o outro, engenheiro mecânico e também fã do esporte. Os jogos são assistidos em família, com direito a mesa cheia e camisa alvinegra na torcida.
Leitor dedicado, Roberto Vasconcellos se define como um “devorador de livros”, apaixonado por biografias e histórias relacionadas a Minas Gerais. Entre os títulos mais marcantes, cita "Encontro Marcado", de Fernando Sabino, e "David Copperfield", de Charles Dickens. Das leituras recentes, ele recomenda, com entusiasmo "Os Mineiros", do jornalista Wilson Figueiredo, e "Sinais de Vida no Planeta Minas", de Fernando Gabeira, que resgata a trajetória de mulheres históricas, como Dona Beja, Chica da Silva e Ângela Diniz.
Apesar do bom humor e da fala leve, o desembargador faz questão de pontuar o peso da toga. “As pessoas não têm ideia da carga de trabalho dos magistrados. A responsabilidade é permanente, e a jornada não termina quando se fecha o gabinete”, explica. Quando perguntado sobre como gostaria de ser lembrado, responde, sem rodeios: “Não penso nisso. Só quero ser melhor a cada dia”. E cita o futebol para ilustrar: “Difícil não é fazer mil gols como o Pelé. Difícil é fazer um gol como o Pelé”.
(Caderno Direito e Justiça - Estado de Minas - 12 de julho de 2025)
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