Como aplicar e ganhar com ações norte-americanas


Desembargador Tarcísio José Martins Costa

Poucos, fora do mercado financeiro, devem ter ouvido falar nos chamados BDRs (Brazilian Depositary Receipts). São nada mais do que certificados de depósito, emitidos e negociados no Brasil, com lastro em valores mobiliários de emissão de companhias estrangeiras. Em outras palavras, recibos brasileiros de ações de empresas norte-americanas selecionadas criteriosamente, negociadas nos EUA, mas cotados em reais.

Cuida-se de um investimento exclusivo e inovador no Brasil, similar ao da compra de ações brasileiras, dirigido, inicialmente, aos chamados investidores qualificados, que tinham mais de R$ 300 mil disponíveis e pretendiam diversificar seu portfólio.

Todavia, os fundos de investimento e de pensão brasileiros não demoraram a descobrir o “mapa da mina”. Divisaram nesses papéis uma rara oportunidade de lucrar com o otimismo que envolveu o processo de recuperação da economia norte-americana, refletindo positivamente na alta de suas bolsas. Nessa linha, em 2013, o índice NASDAQ subiu 38,58%, o S&P 29,0 % e o DOW JONES 25,95. Lado outro, o nosso IBOVESPA caiu 15,5 % no ano. Descontado o desastre do Grupo X, teria subido apenas 3%.

Para se ter uma visão da expressiva alta ocorrida nos EUA, o índice de BDR medido pelo BM&FBovespa, que abrange o desempenho médio das 70 ações norte-americanas mais negociadas na bolsa paulista, alcançou uma valorização de 43%.

Embora seja um investimento de risco, como toda aplicação em bolsa, no mundo globalizado, onde todos estão ligados a tudo todo o tempo (network society), o sucesso depende, primordialmente, do acesso à informação. É bom lembrar que o investimento em bolsa nos EUA ocupa o primeiro lugar. Qualquer viúva norte-americana, independente da classe social, tem a maior parte de seus recursos aplicados em ações ou fundos de ações, muitas vivendo de dividendos. A mesma preferência que se registra, em nosso país, em relação à velha caderneta de poupança.

Ao contrário do que pensa a maioria, hoje, no Brasil, aplica-se em ações norte-americanas - carteiras formadas por BDRs dessas companhias - com a mesma facilidade de qualquer outra aplicação doméstica. Basta procurar um banco, a Caixa Econômica Federal, inclusive, ou alguma corretora de valores credenciada.

Quanto à rentabilidade, quem, por exemplo, aplicou R$ 10 mil (limite mínimo), em junho de 2012, no fundo Bradesco Fia BDR Nível I, teve um lucro acumulado de 31,39 %, em 12 meses. Seus recursos são alocados nos diferentes setores da economia e a carteira composta de 95% de ações BDRs nível 1, das mais conceituadas empresas norte-americanas. Entre os 10 maiores integrantes do FIA BDR, oferecido aos brasileiros pelo Bradesco, estão o J. P. Morgan, Google, Citi Group, Boieng, Exxon Mobil, Merk, Bank of America e Pfeizer. A taxa de administração é de 2,5%. Resgate D+1. Vale dizer, no dia seguinte ao da ordem, pelo valor da cota na data de fechamento. A aplicação adicional de apenas R$ 1.000,00. Imposto de renda, 15% do lucro auferido.

Vejam os rendimentos do Bradesco Fia BDR, no segundo semestre de 2013: julho (6,66%), agosto (0,90%%), setembro (- 4,46%), outubro (4,98%), novembro (8,61%) e dezembro (2,28%). Sem contar o rendimento acumulado no período, quase 19% em apenas seis meses. Já, no primeiro semestre, todos os números foram superiores 0,91% (fev.), destacando-se março e maio, com 4,46% e 10,20%, respectivamente. E mais: a aplicação em BDR também embute a alta do dólar em relação ao real.

Por essa razão, até mesmo uma ação em queda nos EUA pode gerar ganho para o investidor brasileiro. Em suma, em tempos de vacas magras no Brasil, trata-se de uma opção descomplicada e altamente compensadora de diversificação de aplicações, em relação à renda fixa, fundos cambiais, poupança e às ações brasileiras, todas com perspectivas pouco animadoras em 2014, ao contrário dos EUA, em plena recuperação econômica, depois da forte crise de 2008.

* Artigo publicado na edição de fevereiro do Jornal DECISÃO