A sessão da 10ª Câmara Cível do TJMG desta terça-feira, 22 de abril, foi marcada por homenagens à desembargadora Mariângela Meyer Pires Faleiro, que realizou sua última sessão de julgmentos na Câmara. Ela vai se aposentar no dia 24 de abril. 

Numa cerimônia emocionante, o TJMG reuniu magistrados, magistradas, autoridades, familiares e amigos da homenageada, e uma comitiva da comarca de Formiga, onde Mariângela Meyer atuou como juíza e se tornou cidadã honorária. A presidente da Amagis, juíza Rosimere Couto, participou da solenidade. 

Ao abrir a sessão, o presidente do TJMG, desembargador Luiz Carlos de Azevedo Corrêa Junior, destacou a trajetória da desembargadora e sua contribuição para o Judiciário mineiro. Para ele, ocasiões como essa trazem sentimentos contraditórios. “É um momento paradoxal, em que nós estamos ao mesmo tempo felizes por perceber o cumprimento da jornada por uma colega com os predicados como da desembargadora Mariângela, mas também um momento triste porque não teremos, infelizmente, mais a presença diária da desembargadora em seu gabinete, com a sua assessoria, nos corredores, nas sessões de julgamento, nos encontros diários”, disse. 

Corrêa Junior destacou o legado que a desembargadora deixa para a Magistratura mineira, como exemplo de retidão, caráter e compromisso. “Vossa Excelência ingressa na história do Poder Judiciário do Estado de Minas Gerais, e não apenas nessa história, mas numa das páginas mais relevantes da nossa Justiça mineira. Meus parabéns e seja muito feliz nessa nova etapa,” desejou.

A vice-corregedora-geral de Justiça de Minas Gerais, desembargadora Kárin Emmerich, afirmou que a aposentadoria não representa o fim, mas sim a celebração de uma trajetória brilhante e repleta de conquistas. Ela ressaltou a trajetória de Mariângela Meyer, marcada pela justiça, sabedoria e inspiração. “Você não é daquelas que apenas abrem caminho — você compacta o solo, coloca o asfalto e entrega uma pista dupla”, afirmou. A vice-corregedora finalizou desejando à magistrada plena felicidade nesta nova etapa, com a certeza de que sua presença seguirá ecoando no Judiciário mineiro.

Representando a Magistratura mineira, a presidente da Amagis, juíza Rosimere Couto, falou com emoção sobre a importância da desembargadora Mariângela Meyer para todos os colegas de toga. Em suas palavras, destacou a honra de prestar homenagem a uma magistrada cuja trajetória é marcada não apenas pela competência e dignidade, mas também pela bondade e carinho com que sempre tratou todos ao seu redor. Rosimere ressaltou o quanto a jornada de Mariângela trouxe frutos positivos para o Judiciário e inspirou colegas em diferentes etapas da carreira. Ao se despedir, desejou que ela continue sendo uma mulher admirável, que une amor ao próximo e excelência profissional, e que seja muito feliz em sua nova etapa de vida.

Dedicação

O presidente da 10ª Câmara Cível, desembargador Ricardo Cavalcante Motta, ressaltou a força, a fé e a resiliência diante das adversidades e a dedicação da homenageada ao Judiciário mineiro desde os tempos de servidora até a ascensão ao desembargo. “Na vida profissional, se fez funcionária desse Tribunal e sonhou tornar-se magistrada. Depois almejou ser desembargadora e aqui chegou, coroando a carreira pela mais nobre trajetória. Dedicou-se com força ao Direito, sempre atenta às consequências da aplicação da lei, contribuindo para a elaboração da melhor jurisprudência norteadora de novos caminhos para o Direito. Da sua eficiência, dedicação e responsabilidade, somos todos testemunhas. Como mulher, é forte e destemida. Sempre superou os maiores obstáculos, transpondo neste Tribunal o limite da exclusiva prestação jurisdicional para contribuir sempre em inúmeros outros setores administrativos a que foi convocada”, ressaltou o magistrado.

Antes de encerrar seu discurso, Cavalcante Motta assinalou o que para ele é marca extraordinária da homenageada: “a amizade calorosa e sincera, que será alimento das saudades quando se fizer distante - o que não esperamos para breve, em face das novas funções que assume nesse Tribunal”, afirmou.

Mariângela Meyer assumirá a coordenação do Comitê de Justiça Restaurativa do TJMG, que é um órgão colegiado, presidido pelo terceiro vice-presidente do TJMG, desembargador Rogério Medeiros.

Legado

Ex-presidente do TJMG e da Amagis, o desembargador Nelson Missias fez uso da palavra para homenagear a desembargadora Mariângela e relembrou momentos de sua gestão em que contou com a colaboração da desembargadora na Terceira Vice-presidência. Ele destacou a importância da magistrada na implementação de projetos de desjudicialização, na resposta à crise financeira do Estado de Minas Gerais com os municípios e, especialmente, na atuação humanizada após a tragédia de Brumadinho, ressaltando sempre sua fé, capacidade de construção e legado. “Ela foi para lá, resgatou um pouco da dignidade daquele povo que tinha perdido entes queridos. Foram feitos 5.200 acordos com os atingidos diretos, com o apoio da Defensoria e do Ministério Público”.

Ao falar do legado de Mariângela Meyer, Nelson Missias fez referência à poeta Gabriela Mistral e ao compositor Gonzaguinha. ‘Dai-me, Senhor, a perseverança das ondas do mar, que fazem de cada recuo um ponto de partida para um novo avanço’. “Cada recuo, Mariângela, na sua vida, foi um novo ponto de partida e um novo avanço”, disse ele encerrando: 'Fé na vida, fé no homem que você sempre teve, fé no que virá. Nós podemos tudo, nós podemos mais. Vamos lá fazer o que será’.

A despedida da desembargadora Mariângela Meyer foi marcada por palavras de admiração e carinho de seus colegas, entre eles a desembargadora Jaqueline Calábria Albuquerque, sua colega de câmara. Em seu depoimento, Jaqueline destacou as qualidades que definem a trajetória de Mariângela: uma julgadora justa e serena, que jamais abriu mão da firmeza, e que sempre soube julgar com o coração, sem jamais se afastar da lei. “Nos sentimos desamparados com sua partida, mas honrados pela bagagem que Vossa Excelência nos deixa, com seu exemplo de magistrada e de ser humano”, afirmou, emocionada.

O desembargador Ronaldo Claret lembrou da convivência próxima ao longo dos anos na 10ª Câmara Cível e destacou a integridade, a operosidade e a sensibilidade humana da colega magistrada. “Você é um exemplo para todos nós da Magistratura”, afirmou. O magistrado também mencionou com carinho os momentos de amizade construídos fora das sessões de julgamento, como os tradicionais almoços de terça-feira e as conversas no gabinete.

"Estou com o coração dividido entre a tristeza e a alegria. Triste por saber que não teremos mais, no dia a dia, a sua companhia. Mas também me sinto alegre por saber que você sai com o dever cumprido. Sempre me espelhei na sua dedicação e compromisso, especialmente na sua preocupação em manter o serviço em dia. Foi uma honra caminhar ao seu lado na 10ª Câmara e construir essa amizade que me enriqueceu como pessoa e como profissional. Que Deus e Nossa Senhora Aparecida continuem te iluminando. Seja muito feliz", concluiu.

O desembargador Fabiano Rubinger de Queiroz destacou que sua aposentadoria marca o encerramento de um ciclo de intensa e exclusiva dedicação à Justiça — missão que ela cumpriu com brilho, excelência e profunda responsabilidade. "Com serenidade, própria de quem tem a consciência do dever plenamente cumprido, Mariângela encerra uma etapa deixando um legado que seguirá sendo exemplo no serviço público", disse.

“Anjo de Maria”

O desembargador Luiz Carlos Gomes da Mata também prestou uma homenagem à colega e amiga, destacando a lacuna que sua aposentadoria deixará na Magistratura mineira. “Percebe-se esse grande vácuo que se avizinha”, disse ele, ao lembrar o brilhantismo com que Mariângela exerceu seu mandato como 3ª vice-presidente do TJMG, considerado por ele um dos mais exitosos da história. Gomes da Mata refletiu sobre o significado do nome Mariângela — “anjo de Maria, mensageira” —, ressaltando a fé, a simplicidade, o dinamismo e a força espiritual que sempre marcaram a trajetória da desembargadora. Para ele, Mariângela é uma mulher vitoriosa em todas as esferas da vida, cuja atuação no tribunal sempre esteve impregnada de amor — qualidade que, segundo ele, mais a define.

Comarca de Formiga

O juiz Altair Resende de Alvarenga, diretor do Foro da comarca de Formiga - cidade com a qual a magistrada mantém uma ligação afetiva -, destacou a admiração que o município nutre pela desembargadora. “Eles a amam tanto que, para além das enormes qualidades já aqui enaltecidas, enxergam nela uma amiga e uma fonte permanente de inspiração”, afirmou. O magistrado disse que, embora o Tribunal sinta sua ausência, Formiga ganhará com sua presença renovada. Encerrando com as palavras do apóstolo Paulo, sintetizou a trajetória da homenageada: “Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé.”

Reconhecimento

Presente à cerimônia, o presidente do Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais, conselheiro Durval Ângelo, fez um depoimento comovente e pessoal. “Estou aqui não pela questão institucional, mas pela questão instituinte, que é o carinho e a fidelidade de uma amizade”, disse, ressaltando sua admiração pela coragem da magistrada ao assumir protagonismos históricos no Judiciário mineiro, inclusive enfrentando ameaças em razão do exercício firme da Magistratura. Ao reconhecer a sensibilidade e o compromisso de Mariângela com uma justiça de face humana, destacou: “Sempre vi em você esse grande exemplo”. Inspirado pela fé que compartilham, Durval citou palavras do Papa Francisco para defini-la. “Você é preciosa aos olhos de Deus, única e insubstituível na história”, concluiu.

 
Representantes do Ministério Público de Minas Gerais, da OAB, do Legislativo, assessores e familiares da magistrada também participaram da solenidade.

 Gratidão

Em um discurso comovente e repleto de gratidão, a desembargadora Mariângela Meyer se despediu com serenidade e fé, reconhecendo a importância desse momento em sua vida. “Deixo a toga consciente da relevância desse instante, para o qual Deus me deu tranquilidade, serenidade e compreensão”, afirmou. Em suas palavras, destacou o afeto que guarda pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais, a quem se referiu como parte de seu lar, e disse que sentirá saudade do convívio com os colegas, das conversas acolhedoras e do ambiente de amizade.

Com reconhecimento e carinho, agradeceu a todos os colegas, magistrados, servidores e, em especial, à sua equipe de gabinete. “Vejo a Magistratura como um verdadeiro sacerdócio. Se pudesse recomeçar, seguiria o mesmo itinerário”, disse. Tomada pela emoção, afirmou não encontrar palavras suficientes para agradecer os discursos e homenagens recebidos, que levará para sempre no coração. “Deus tem sido muito generoso comigo, me proporcionando muito mais do que mereço. Sou realizada e extremamente feliz. Que eu possa prosseguir fazendo o bem. Contem sempre comigo”, finalizou.

 

Mesa de honra

Compuseram a mesa de honra o presidente do TJMG, desembargador Luiz Carlos Corrêa Junior; vice-corregedora-Geral de Justiça, desembargadora Kárin Emmerich; o presidente da 10ª Câmara Cível, desembargador Ricardo Cavalcante Motta; o presidente do Tribunal de Contas do Estado, Durval Ângelo; a presidente da Amagis, juíza Rosimere Couto, o ex-presidente do TJMG e da Amagis, desembargador Nelson Missias; a vice-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Minas Gerais, Núbia de Paula; o ouvidor do Tribunal de Justiça Militar de Minas Gerais, desembargador Fernando José Armando Ribeiro, o desembargador substituto do Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais, Carlos Henrique Braga, e o deputado federal e ex-prefeito de Pouso Alegre (MG) Rafael Tadeu Simões. 

Trajetória

Mariângela Meyer é natural de Pouso Alegre, no Sul de Minas, e é graduada em Direito e pós-graduada em Direito Público, ambas pela PUC Minas.

Entrou no Poder Judiciário como Escrevente Judicial aprovada no concurso do TJMG de 1978. Ingressou na magistratura por meio de concurso público em 1989. Atuou como juíza de Direito e Juíza Eleitoral nas comarcas de Cláudio (1990/93), Abaeté (1993/95) e Formiga (1995/98). Atuou como juíza de Direito na comarca de Belo Horizonte (1998/2011); e Juíza e Diretora do Foro Eleitoral na Capital de (2009/2011).

Foi Ouvidora-Geral do TJMG, de agosto de 2012 até agosto de 2013. Foi também 3º Vice-Presidente do TJMG e superintendente adjunta da Escola Judicial Desembargador Edésio Fernandes (Efej) (2018-2020), além de ter sido a primeira mulher a disputar a Presidência do TJMG em 2022.