No próximo dia 22 de abril, a desembargadora Mariângela Meyer Pires Faleiro se despedirá dos colegas da 10ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), marcando a mudança para a aposentadoria em sua brilhante trajetória no Judiciário mineiro. Primeira mulher a disputar a Presidência do TJMG, Mariângela Meyer deixará um legado de pioneirismo e reflexões importantes sobre a presença feminina nos espaços de poder da Magistratura.
A magistrada participou recentemente do programa Pensamento Jurídico, produzido pela Amagis, que debateu a trajetória de magistradas que chegaram a cargos de direção do TJMG. Ao lado da desembargadora Áurea Brasil, Mariângela compartilhou sua trajetória, abordando temas como desafios de gênero, preconceitos enfrentados e a progressão na carreira judicial.
Mariângela contou que, embora o ingresso na Magistratura por concurso seja um processo objetivo, a ascensão na carreira por critérios de merecimento historicamente favoreceu os homens. Por isso, a magistrada defende a importância da resolução do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) que estabelece a paridade de gênero nas promoções por merecimento, com listas específicas para mulheres. “Era preciso que fosse tomada uma medida, e essa medida foi considerada histórica e importante para as mulheres, no sentido de que foi trazido por essa resolução a obrigatoriedade da lista exclusiva para mulheres”, defendeu Mariângela.
Em seu depoimento, Mariângela também relembrou obstáculos pessoais e culturais vividos ao longo da carreira. Ela citou a dificuldade de conciliar a vida familiar com as exigências do cargo, especialmente no início da Magistratura, quando as mudanças de comarca eram frequentes.
Ela comentou ainda o preconceito velado que enfrentou durante o concurso público, como questionamentos relacionados à sua capacidade de exercer a função por ser mãe, feitos por uma banca exclusivamente masculina. “Me recordo no concurso que havia uma entrevista e a gente era colocada na berlinda, numa mesa que, no meu caso, era composta apenas por homens. Então, isso marca muito a gente. Havia um certo preconceito e uma certa resistência”, relatou a magistrada.
A magistrada defendeu a importância da presença feminina no Judiciário, apontando que as mulheres trazem uma perspectiva diferente, influenciada pela experiência de vida fora dos tribunais. “A mulher tem uma visão diferenciada. O fato de a mulher ser dona de casa, mãe e mestra dos próprios filhos, ela consegue ter uma visão mais humanizada”, disse a desembargadora.
Trajetória
Mariângela Meyer é natural de Pouso Alegre, no Sul de Minas, e é graduada em Direito e pós-graduada em Direito Público, ambas pela PUC Minas.
Entrou no Poder Judiciário como Escrevente Judicial aprovada no concurso do TJMG de 1978. Ingressou na magistratura por meio de concurso público em 1989. Atuou como juíza de Direito e Juíza Eleitoral nas comarcas de Cláudio (1990/93), Abaeté (1993/95) e Formiga (1995/98). Atuou como juíza de Direito na comarca de Belo Horizonte (1998/2011); e Juíza e Diretora do Foro Eleitoral na Capital de (2009/2011).
Foi Ouvidora-Geral do TJMG, de agosto de 2012 até agosto de 2013. Foi também 3º Vice-Presidente do TJMG e superintendente adjunta da Escola Judicial Desembargador Edésio Fernandes (Efej) (2018-2020), além de ter sido a primeira mulher a disputar a Presidência do TJMG em 2022.