Bruno Terra Dias*


Por obra e iniciativa de Tibagy Salles Oliveira, nosso Vice-Presidente de Aposentados e Pensionistas, prestamos homenagem, no mês de junho, aos amigos e colegas que se aposentaram, entre 1º de janeiro e 31 de dezembro de 2010. Bela iniciativa do nosso Tibagy, própria daqueles que não fazem para si, mas com o pensamento voltado ao semelhante, secundado por Marcos Henrique Caldeira Brant, que deu forma, organizou e secretariou o evento, realizado no dia 30.


Entre os homenageados, todos com grande histórico de serviços prestados ao Judiciário Mineiro, figurava José Nepomuceno da Silva, cuja lembrança simboliza todos aqueles a quem dirigimos nossas atenções naquela data. Não podíamos imaginar, para tristeza e consternação geral, que nosso amigo e companheiro de Taquaraçu de Minas, imagem e exemplo de bom homem, nos deixaria a poucos dias do reconhecimento por sua carreira.


Desde que o conheci, nos idos de 1995, foi fácil a amizade, sempre misturada à alegria de ouvir suas tantas experiências, colhidas de uma vida dedicada ao labor de proporcionar justiça a todos, indiscriminadamente, e à atividade político-associativa, a que se entregou com intensidade incomum.


No compartilhamento da magistratura, jamais o vi com medo; a coragem sempre marcou sua atuação, na primeira como na segunda instância da Justiça mineira. Tinha consciência de que as convicções políticas guiam o homem e influenciam sua conduta. Praticou como ninguém a política das liberdades democráticas, da solidariedade, da empatia e da simplicidade (sem resvalar pelo simplório ou deixar-se levar por superficialidades), o que se pode ler em seus tantos e lapidares votos, no TJMG e no TRE/MG, bem como na produção literária, nem sempre publicada.


No ambiente associativo, uma política maiúscula se expandia de seus pronunciamentos, com o fervor da devoção à causa classista. Jamais recuou, mesmo diante de dificuldades, prestando orientação segura e clareadora nos momentos de dificuldades enfrentados pelo Judiciário e pela Magistratura. A palavra era sua missão. Sabia ser enérgico, sempre que necessário, mas seu espírito era conciliador e brando; uma natureza rara, mesmo entre os melhores representantes da vida pública.


Nosso querido Nepô permitiu-nos mais, convidou-nos a todos, seus amigos, a partilhar o sentimento de família com sua esposa, Lúcia, e seus filhos, Daniel e Luciana, que seguem os seguros passos do pai. Sempre nos trouxe um sorriso acompanhado de um caso interessante: pescarias no rio São Francisco e no Pantanal, uma eleição em Ouro Preto, a nomeação para integrar o TRE/MG e os desafios que lá enfrentou, a Vice-presidência da Escola Nacional da Magistratura em dois mandatos consecutivos, os livros de Direito Eleitoral, a paixão pelo Direito Ambiental, o amor pelo Clube Atlético Mineiro e por Minas Gerais, o reconhecimento ao valor de cada um.


Em 24 de junho, foi ao encontro dos que o precederam. Abraça, agora, os luminares que orientaram sua travessia por esta vida e projeta-se como farol a nos guiar.


Foi obra do acaso que não partisse sozinho? Poucos dias separaram seu desenlace do mundo material do sentimento pelo desaparecimento de dois outros vultos que, com raízes em Minas Gerais, fizeram história e marcaram, indelevelmente, os cenários acadêmico e político do Brasil. Washington Peluso Albino de Souza e Itamar Augusto Cautiero Franco também nos deixaram, nos dias 17 de junho e 2 de julho, respectivamente. Não houve oportunidade para despedidas.


Para quem conheceu o professor Washington Albino em franca atividade, sendo dele aluno, restará sempre a imagem do homem de bem, exemplo de jurista e formador de novas gerações.


Os que tiveram oportunidade de conviver com Itamar Franco, ou mesmo os que apenas acompanharam sua carreira política pelos meios de comunicação, não podem conter certa felicidade, por a ele haver sido entregue a Medalha Guido Andrade, em reconhecimento da magistratura mineira por sua importância e realizações.


Mais que magistrados, professores e políticos, foram amigos, restando em seu lugar enorme lacuna. Por Washington Albino, José Nepomuceno e Itamar Franco, a política, a cultura jurídica e a cidadania pranteiam em silêncio.

(*) Presidente da Amagis