Conciliar a maternidade e a Magistratura não é tarefa fácil. A afirmação é da juíza Juliana de Almeida Teixeira Goulart, da 1ª Vara Cível, Criminal e da Infância e Juventude da Comarca de Arcos (Oeste). A magistrada disse que, muitas vezes, a mulher fica sozinha e que ‘o filho é sempre da mãe’. E assim como na Magistratura, na maternidade, também não existe uma receita. “Tudo é uma questão de planejamento. É ter muito amor, tanto pela maternidade quanto pela carreira”. Para ela, esse é o segredo, além de aceitar que a ajuda é necessária. “É importante a ajuda, especialmente no âmbito familiar. Quando aliamos o planejamento e a rotina, além de gostarmos daquilo que fazemos, tudo fica mais leve e permite que nós, mulheres, conciliemos muitas vezes o inconciliável”, afirmou.

Juliana tem dois filhos: Manuela, de 4 anos, e Rafael, de 2. Quando a Manuela nasceu, ela ficou os seis meses de licença maternidade em Belo Horizonte junto com o marido. Após esse período, ela foi para a Comarca de Carmópolis de Minas (Campo das Vertentes), onde atuava, e levou Manuela. Quando o caçula Rafael nasceu, Manuela estava com dois anos, e a mãe já atuava na Comarca de Arcos, para onde foi com as duas crianças depois da licença. “Eu sempre quis ser magistrada e sempre quis ser mãe. Foram decisões tomadas de forma racional e eu sabia do desafio que enfrentaria. Temos que ter maturidade para lidar com essa situação. Saber que a vida passa muito rápido e que o importante é extrair o lado bom de tudo”. Ela é magistrada há sete anos.

“Tudo é uma questão de planejamento. É ter muito amor, tanto pela maternidade

quanto pela carreira”, afirma a juíza Juliana Goulart, mãe de Manuela e Rafael

 

Organização

Quando entra para a carreira, muitas vezes, a magistrada percorre o Estado passando por diversas comarcas. E não é sempre que o marido pode acompanhar. Para a desembargadora Áurea Brasil, 2ª vice-presidente do TJMG e superintendente da Escola Judicial Desembargador Edésio Fernandes (Ejef), foi assim. Ela tem duas filhas: Marina, de 29 anos, e Gabriela, de 22. A magistrada contou que a maternidade precedeu a carreira. “Quando ingressei na Magistratura, minha filha mais velha tinha 2 anos e percorreu comigo todas as comarcas por onde passei. Meu marido não pôde sair da capital em razão do seu trabalho. Adaptei minha rotina diária no interior trabalhando em casa pela manhã e saindo para o fórum logo após o almoço, quando deixava minha filha na escola”.

A segunda gravidez ocorreu sete anos depois, quando a então juíza Áurea atuava na Comarca de Contagem (Grande BH). “A estrutura da casa já estava bem consolidada e não tivemos mais a necessidade de mudança de cidade. Pudemos nos dedicar a ambas, que estavam em fases bem diferentes, e com demandas diversas, agora, pai e mãe diariamente presentes”, lembrou.

“Com muito amor e dedicação consegui conciliar a maternidade e a Magistratura, contando sempre com a ajuda da família, especialmente de meu marido e dos meus pais”, contou. Hoje, as duas filhas da desembargadora já estão bem encaminhadas, como ela mesmo descreveu. Marina se formou em direito, é mestre e atua na advocacia trabalhista. Gabriela faz medicina na PUC e deve se formar daqui a dois anos. “O bom coração que as duas têm é, para mim, o mais importante”.

“O bom coração que as duas têm é, para mim, o mais importante”,

diz a desembargadora Áurea Brasil sobre as filhas, Marina e Gabriela

Inspiração

Na Comarca de Três Corações (Sul), a juíza Glauciene Gonçalves da Silva, da 1ª Vara Cível, é também diretora do foro, atua na turma recursal e é presidente da Central de Conciliação, além de cooperar em outras comarcas. Em casa, ela é mãe da Paloma, de 22 anos, e de Laura, de 8 anos. Como ela dá conta de tudo? “Mulher tem um dom de conseguir exercer mais de uma atividade. Nós tendemos a ser mais organizadas. Mas é necessário descentralizar e, para me ajudar nisso, tenho uma boa secretária, além de pessoas boas que me auxiliam. Sozinha, eu não daria conta”, afirmou Glauciene, que tem como inspiração sua mãe, dona Dalva. “Minha mãe nos criou sozinha, deu conta de tudo. Me ensinou a ser forte. E é ela a grande responsável pelo que sou hoje. É uma presença constante na minha vida”, disse a magistrada.

Antes de entrar para a atual carreira, Glauciene foi assessora na Justiça Federal e sempre quis ser magistrada estadual, o que aconteceu em 2011, quando passou no concurso. Ela já era mãe da Paloma e foi para uma cidade onde não conhecia ninguém. “Eu me titularizei em Três Corações, e o início não foi fácil. Mas me cerquei de pessoas boas e dei conta. Ser  mãe é um exercício constante de zelo, proteção e amor incondicional para uma vida inteira! A magistratura também é uma grande paixão e concilia-la com a função de mãe é um enorme e prazeroso desafio!! O segredo é amar o que se faz", afirmou.

"Ser mãe é um exercício constante de zelo, proteção e amor", afirma

a juíza Glauciene Silva, mãe de Paloma e Laura

Aprendizado

Para a juíza Perla Saliba Brito, da 1ª Vara Cível, Criminal e da Infância e da Juventude da Comarca de Brumadinho (Grande BH), ser mãe ajuda na carreira e vice-versa. “Atuar na área da infância me ajuda muito. Embora existam muitas diferenças, claro, as pessoas passam por coisas, muitas vezes, que a gente nem consegue imaginar, ser mãe é um papel universal e, por isso, aprendo muito lá”, contou a magistrada, que é mãe de três filhos: João, de 9 anos; Victor, 6, e Miguel, 3.

De acordo com ela, conciliar a maternidade e a Magistratura é um desafio muito grande, mas também há uma troca significativa entre as duas coisas. “Eu costumo levar os meninos para conhecer o abrigo e trago situações para casa de forma a contribuir para o conhecimento deles”, afirmou a juíza Perla. Para ela, é importante que os filhos conheçam a realidade do mundo em que vivem. “Sou muito feliz em ter tido essa oportunidade de ser mãe. Os meus filhos me ensinam todos os dias a ser uma pessoa melhor”, disse. A magistrada destacou que tem aproveitado a quarentena para resgatar atividades que eles não faziam juntos em razão da falta de tempo. “Embora eu vá ao fórum algumas vezes, tenho conseguido estar mais próxima, e isso tem sido muito positivo. Tento aproveitar ao máximo o tempo com eles. Extraio o melhor de mim e deles também para fortalecer cada dia mais nosso vínculo”, contou.

"Os meus filhos me ensinam todos os dias a ser uma pessoa melhor”, diz

a juíza Perla Brito, mãe dos pequenos João, Victor e Miguel

Amor em dobro

A juíza da 1ª Vara de Execução Fiscal de Belo Horizonte, Simone Lemos Botoni, é mãe de um filho e meio, como costuma dizer. Isso porque Jéssica, filha de seu ex-marido, faz parte da família. “Tenho como minha a filha do meu ex-marido, que eu conheci em Paraopeba quando ela tinha 1 ano e 10 meses. Jéssica tinha 4 anos quando meu filho, Luís Fernando, nasceu. Foram criados juntos, mesmo após a separação. Os dois nunca se separaram e eu também não. Tanto que, quando chegou o momento de ir para a faculdade, Jéssica veio morar conosco em Belo Horizonte”, contou a magistrada.

Simone Botoni foi mãe aos 37 anos, quando já integrava a Magistratura. Segundo ela, o investimento na vida profissional ficou por um tempo em primeiro plano. Com a maternidade, vieram novos desafios, até então desconhecidos por ela. “A maternidade foi o maior desafio para mim e foi muito difícil conciliar com o restante porque eu tinha um perfil muito perfeccionista”, afirmou a juíza. Segundo ela, só com a prática da meditação, da qual é adepta, foi possível alcançar esse equilíbrio.

"A maternidade foi meu maior desafio", afirma a juíza Simone Botoni,

que vive cercada do amor de Luis Fernando e Jéssica

Missão 

Mãe de Márcio Henrique, 47, Francisco Otávio, 45, Pedro Gustavo, 41, e Iara, 24, a 3ª vice-presidente do TJMG, desembargadora Mariângela Meyer, tem a sensação de dever cumprido ao olhar para trás e ver a história de sua família construída em meio a muito amor, harmonia, dedicação e superação. Para ela, a maior dificuldade de uma mãe que trabalha fora, seja em qualquer profissão, é poder sair de casa tranquila sabendo que os filhos ficarão bem.

“Quando meus filhos mais velhos eram menores, precisei recorrer à ajuda de parentes e vizinhos em algumas situações. Esse período não foi fácil. Depois, quando minha filha nasceu, o mais novo já tinha 18 anos. Isso facilitou muito a nossa rotina porque os três meninos me ajudavam a cuidar da menina. Davam banho, trocavam a fralda, faziam de tudo. Eu saía para trabalhar e ficava tranquila. Não é à toa que hoje são excelentes pais e muito amigos”, afirmou a desembargadora.

Uma de suas maiores preocupações como mãe sempre foi acompanhar de perto a rotina dos filhos e incutir seus valores na vida deles. “É isso que faz da criança um ser”, disse a magistrada. Para ela, assim como a Magistratura, a maternidade também é um dom de Deus. “Temos que cultivar esses dons e fazer de tudo para cumprir nossas missões com equilíbrio. Trouxe para a Magistratura muita coisa da minha vida pessoal, como saber me impor diante de situações conflitantes e tomar decisões que vão impactar na vida de outras pessoas. Para mim, a maternidade e a judicatura são como apostolados no sentido de fazer cumprir uma missão que é divina”, destacou Mariângela Meyer.

"Para mim, a maternidade é uma missão divina", diz a desembargadora Mariangela Meyer,

mãe de Márcio Henrique, Francisco Otávio, Pedro Gustavo e Iara