Após defender a permanência de Graça Foster no comando da Petrobras, a presidente Dilma Rousseff afirmou nesta segunda-feira (22), durante café da manhã com jornalistas no Palácio do Planalto, que irá consultar o Ministério Público Federal para checar se políticos cotados para assumir uma cadeira na Esplanada dos Ministérios foram citados aos procuradores da República em acordos de delações premiadas da Operação Lava Jato.
“Eu posso recorrer aos órgãos competentes, como o procurador-geral [Rodrigo Janot, para qualquer nomeação. Nós consultaremos quem está mencionado. Eu não sei o que vai evitar, porque ninguém sabe o que esses nomes são, até porque não há uma única informação oficial. Mas nós iremos procurar saber [se tem algum nome que será indicado que tenha sido citado”, disse Dilma no encontro com jornalistas que cobrem diariamente a sede do Executivo federal.
Na última sexta-feira (19), o jornal “O Estado de S. Paulo” divulgou lista com os nomes de 28políticos que supostamente teriam se beneficiado do esquema de corrupção que atuava na Petrobras. Eles foram citados pelo ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa no processo de delação premiada.
Entre os nomes mencionados por Paulo Roberto Costa há políticos cotados no meio político para assumir cadeiras no primeiro escalão do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff. Entre os candidatos a ministros, estão o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), que nega participação no esquema de desvio de dinheiro.
“Eu consultarei o Ministério Público Federal porque qualquer pessoa que eu for indicar, eu devo consultar sobre o que temos quanto a ela. Eu não quero que ele [Rodrigo Janot] me diga tudo, eu quero que ele me diga ‘sim’ ou ‘não’. Os 28 nomes vêm de uma matéria [reportagem] que não é informação oficial”, complementou a presidente.
Questionada sobre quando ela irá anunciar o novo lote de integrantes do primeiro escalão, a presidente afirmou que sua pretensão é divulgar a lista de novos ministros até o dia 29. Até o momento, a petista confirmou apenas quatro futuros ministros: Joaquim Levy (Fazenda), Nelson Barbosa (Planejamento), Alexandre Tombini (Banco Central) e Armando Monteiro (Desenvolvimento, Indústria e Comércio).
Kátia Abreu
Ao comentar a possível indicação da senadora Kátia Abreu (PMDB-TO) para o Ministério da Agricultura – alvo de críticas de movimentos como MST e Contag –, Dilma foi irônica. A petista disse que apesar de ter consultado setores da sociedade sobre a eventual indicação da senadora para a pasta responsável pela condução da política agropecuária do país, a população lhe deu, em outubro, mandato para fazer escolhas diante de hipóteses.
“Eu escuto todo mundo, mas a decisão não é por eleição, é decisão. A eleição ocorreu dia 26 [de outubro], mas este regime é presidencialista. Eu escuto todo mundo, todas as opiniões, cortejo, escuto, olho as argumentações, olho tudo direitinho. […] Mas se eu não concordar com os argumentos para não colocar uma pessoa ou outra no ministério, eu não acato”, enfatizou.
“Não há nenhum interdito para nenhum ministro, nem para nenhum brasileiro ou brasileira. Não acho que [a escolha de ministros] pode ser assim, por eleição, porque não é por eleição que se forma ministério. Se fosse, eu tinha que chamar 120 milhões de brasileiros a falar”, complementou.
Graça Foster
Em meio ao café da manhã, Dilma falou sobre a situação da presidente da Petrobras, Graça Foster. A chefe do Executivo ressaltou que em razão das pressões geradas com as denúncias de irregularidades "não é fácil" o contexto em que vive atualmente a dirigente da estatal. Apesar disso, a presidente destacou que não vê necessidade de que Graça Foster deixe a presidência da petroleira.
Em entrevista exclusiva ao Fantástico neste domingo (21), a ex-gerente da Petrobras Venina Velosa da Fonseca revelou ter relatado pessoalmente a Graça Foster que havia detectado irregularidades na empresa.
Aos repórteres, Dilma disse a presidente da Petrobras colocou o cargo à disposição, mas que ela entendeu que não era necessário a executiva se afastar da petroleira.
“Ela [Graça Foster] disse que, diante de toda essa exposição, se a Petrobras for prejudicada de alguma forma – ou o governo – ela, então, coloca o cargo à disposição sem o menor constrangimento. Eu falei para ela que, do meu ponto de vista, isso não é necessário”, afirmou Dilma.
“A situação dela não é uma situação fácil. Ela recebe todos os dias uma pressão que poucas pessoas seguram – e ela segura, pelos compromissos que ela tem com a Petrobras. Acho que criou-se um clima sem apontar sequer uma falha dela. Mas só porque o clima está muito difícil para ela eu preciso tirá-la? Eu penalizo ela por algo que não é responsabilidade dela? A quem interessa tirar a Graça Foster? O que tem por trás disso? ”, complementou.
Eleições no Congresso
A presidente também comentou no encontro com os jornalistas sobre as eleições para as presidências da Câmara e do Senado no ano que vem. Indagada sobre a disputa entre PT e PMDB – os dois principais partidos da base aliada ao governo – pelo comando da Câmara, Dilma disse que o governo não pode interferir no processo. Segundo ela, esse é um “problema” do Legislativo.
“No caso do Congresso, nós queremos a melhor relação possível. As relações devem ser as melhores possíveis. Agora, as eleições no Senado e na Câmara são um problema do Congresso, não é nosso. Nós somos Executivos e eles, Legislativo. Nós não podemos interferir nisso”, disse a presidente.
Fonte: G1