(Luiz Guilherme Marques, juiz de direito, e Marisa Machado Alves dos Santos, psicóloga)

Esclarecimentos necessários:
1) Este artigo foi desenvolvido a partir do esboço de uma aula proferida pela autora no curso de Psicologia da Faculdade de Psicologia do Centro de Ensino Superior (CES) de Juiz de Fora – MG em 05/05/2011
2) Os textos expostos nos slides estão grafados em caixa alta, sendo, no geral, seguidos de notas redigidas sem esse destaque.

1 - O DIVÓRCIO

SEGUNDO BETTY CARTER, MONICA Mc GOLDRICK & COLABORADORES, O DIVÓRCIO É UMA CRISE DE TRANSIÇÃO
Duas expressões importantes devem ser observadas nesta primeira constatação: “crise” e “transição”, sendo que a primeira significa que representa uma situação dramática, causadora de sofrimento, enquanto que a segunda mostra que se trata de uma fase provisória, temporária, que deverá ser sucedida por outro estado de coisas.
Por aí se pode iniciar a reflexão de que as pessoas que estão vivenciando esse quadro não devem se julgar condenadas ao sofrimento perpétuo, mas sim ter a certeza de que, agindo de forma adequada, surgirá, certamente, um novo e frutuoso período de vida, mais realizador, mais feliz do que aquele anterior, vivido muitas vezes com mais desgastes e desgostos do que felicidade real.
Essa é a primeira idéia que pretendemos passar aos Prezados Leitores, ou seja, uma mensagem otimista e de confiança no Presente e no Futuro.

TORNA-SE MAIS COMUM EMBORA OS CÔNJUGES NÃO ESTEJAM PREPARADOS, SOFRENDO GRANDE IMPACTO FÍSICO E EMOCIONAL
O que normalmente acontece são esses quadros caracterizados pela crise e transitoriedade.
Há pessoas, todavia, que não vivem nem um nem outro desses quadros, configurando, todavia, verdadeiras exceções.
Os cônjuges, normalmente, não estão preparados para essa vivência, sofrendo abalo psicológico e até físico com a nova situação.
Habituados a uma rotina normalmente de alguns (ou muitos) anos, as mudanças advindas da separação/divórcio os surpreendem e deixam confusos, sem referenciais para a nova forma de viver.

AFETA OS MEMBROS DA FAMÍLIA NAS TRÊS GERAÇÕES: AVÓS – PAIS – FILHOS
Não só os próprios ex-cônjuges se sentem abalados, mas também aqueles parentes ligados mais estreitamente, no caso, os avós, pais e filhos.
A necessidade de estabilidade, natural no ser humano, fica abalada com a visão do aparente fracasso daquela união. Igualmente, muitos ficam mais ou menos temerosos de que “aquilo” venha a acontecer igualmente com eles, como se fosse o “fim do mundo”...

AUMENTAM AS DIFICULDADES DAS FASES DE DESENVOLVIMENTO DO CICLO DA VIDA FAMILIAR: INFÂNCIA, ADOLESCÊNCIA E VIDA ADULTA
As dificuldades naturais para a evolução dos membros da família recrudescem, sendo que as crianças, adolescentes e adultos passam a enfrentar desafios maiores do que aqueles que ocorreriam se o casal estivesse junto.
Todavia, por outro lado, há um aspecto positivo, pois apressa-se o amadurecimento de cada um deles se a crise transitória for conduzida de forma bem orientada: esse é um daqueles casos em que se pode dizer que é dos “males que vem para o bem”.

REQUER DE 1 A 3 ANOS DA FAMÍLIA O PROCESSO DE ELABORAÇÃO PARA SEGUIR EM FRENTE
Normalmente, por mais que os envolvidos sejam pessoas ajustadas e bem orientadas, há um período de “processamento” da situação, que não pode ser reduzido ao bel prazer dos envolvidos.
Trata-se de um lapso temporal que oscila normalmente entre 1 e 3 anos.
Alguns se ajustam mais depressa e outros necessitam de um tempo maior, dependendo de vários fatores, mas sobretudo do desejo sincero dos envolvidos de aprender a viver a nova realidade, além do nível mais ou menos qualificado de quem lhes dê suporte afetivo e orientação.

O CONTEXTO SÓCIO-CULTURAL VAI INFLUENCIAR: ASPECTOS ÉTNICOS, RELIGIOSOS E INSTITUCIONAIS
Muita importância têm as circunstâncias sócio-culturais. Afinal, cada pessoa não é uma ilha, mas sim parte de um continente, ligado aos demais por inúmeros pontos de contato.
O fato de perder contato com algumas pessoas se traduz em mudanças na vida de cada um, por isso sendo importante “compensar” sempre cada aparente “perda” com alguma nova “conquista”.
O que não deve perdurar na mente é a ideia de “derrota”, mas sim de “troca”, o que ajuda muito a enfrentar as mudanças com relativa tranqüilidade e, a médio e longo prazos, com a certeza de que “valeu a pena” passar por aquela vivência enriquecedora.

COMO OCORRE O IMPACTO SOBRE A FAMÍLIA
É UM DOS EVENTOS MAIS ESTRESSANTES DA VIDA, PARECIDO À MORTE FÍSICA
Quando se forma uma família (com ou sem casamento formal), atende-se a um instinto ancestral profundamente arraigado no psiquismo humano.
As pessoas que fazem parte daquele grupo se julgam ligadas por laços perenes e, ao se romperem esses laços, é como se uma parte importante do seu psiquismo fosse dilacerado.
Todavia, sabemos que representa mais um link com o Passado do que uma necessidade vital para o Futuro, porque esse último nos induz à conexão com a humanidade toda, porque somos filhos do mesmo Pai e irmãos de todos os seres e não apenas daqueles que nos habituamos a considerar como tais pelas tradições jurídicas.
A superação dos paradigmas egoísticos é importante para a evolução da humanidade e de cada um dos seus membros.
Cansados de experimentar o exclusivismo dos clãs, das tribos, nações e grupos exclusivistas e guerreadores dos demais, devemos cruzar as fronteiras do facciosismo e começar a pensar em termos mais amplos, de ligação com grupos cada vez maiores, até abraçar a humanidade.
Essa idéia, trabalhada com inteligência e boa-vontade, cria oportunidades inclusive para melhor encarar o período pós-divórcio, suavizando seus efeitos estressantes.

O ENFRENTAMENTO DEPENDERÁ DE VÁRIOS FATORES:
AS CIRCUNSTÂNCIAS DA DISSOLUÇÃO DO CASAMENTO
A forma como ocorre a separação tem relativa importância, dependendo, é claro, também dos demais fatores.
Tudo varia de pessoa para pessoa, devendo-se analisar o conjunto de fatores e não um isoladamente.

A VIDA NO PÓS-SEPARAÇÃO
É evidente que a forma como cada um vive e período pós-separação varia ao infinito, dependendo da própria índole individual e de quem se encarregue de orientar e apoiar os envolvidos.


IDADE E SEXO
Os adolescentes costumam sofrer mais com essa situação nova, devido até ao fato das próprias dificuldades naturais da adolescência.

DURAÇÃO DO CASAMENTO
O fato do casamento ter durado mais tempo pode trazer maiores dificuldades para o novo período, devido ao enraizamento de hábitos adquiridos naquele período.

COMO A FAMÍLIA LIDA COM AS TAREFAS DA FASE DO CICLO FAMILIAR
A forma da divisão de tarefas do período do casamento pode ajudar ou complicar a vida de cada membro na nova fase, por isso sendo importante, desde cedo, cada pessoa estar preparada para a independência profissional e os afazeres domésticos.
Superproteger os filhos é uma das piores opções, que costuma prejudicá-los no futuro, inclusive se ingressam no casamento despreparados para as responsabilidades profissionais e domésticas.

NÍVEL DE INSTRUÇÃO E SÓCIO-ECONÔMICO
Apesar de não ser um referencial absoluto, quem tem um nível de instrução e um padrão sócio-econômico melhor costuma ter mais elementos para enfrentar a nova vida.

APOIO DISPONÍVEL
O apoio pode vir de parentes e amigos, mas é importante também a procura do apoio de profissionais da Psicologia, pois o amadorismo costuma dar resultados insatisfatórios ou até prejudiciais.
Esta é uma das mais importantes contribuições da Psicologia, ciência que vem sendo cada vez mais valorizada e utilizada na vida das pessoas em geral.

O PROCESSO DE AJUSTAMENTO DA SEPARAÇÃO CONJUGAL SE COMPÕE DE 5 ESTÁGIOS:

1-COGNIÇÃO INDIVIDUAL: GERALMENTE UM CÔNJUGE INICIA O PROCESSO DE SEPARAÇÃO EMOCIONAL. PODE HAVER UM CASO AMOROSO
Normalmente, a iniciativa da separação/divórcio parte de um dos cônjuges e não de ambos ao mesmo tempo.
Um dos cônjuges pode ter manifestado interesse por outra pessoa, sentindo necessidade de romper o casamento. Isso acontece não poucas vezes.

2- METACOGNIÇÃO FAMILIAR: A REVELAÇÃO DO DESEJO DE SEPARAÇÃO. GERALMENTE UM QUER SAIR DO CASAMENTO MAIS DO QUE O OUTRO
Após a conclusão de que compensa trocar um parceiro por outro, o segundo passo costuma ser a afirmação ao outro cônjuge. Tal pode ocorrer também por circunstâncias fortuitas, quais sejam, o cônjuge preterido descobre sua situação de “exclusão”.

3- SEPARAÇÃO DO SISTEMA CONJUGAL: A SEPARAÇÃO CONCRETA. HÁ FORTE INSTABILIDAE EMOCIONAL. SINTOMAS FREQUENTES COMO INSÔNIA, PROBLEMAS DE SAÚDE , PERDA DE PESO, USO DE ÁLCOOL E OUTROS
A concretização da separação pode trazer como conseqüências problemas reais, tudo dependendo da capacidade de cada um de suportar os reveses da vida e do apoio que venha a receber.
Devem ser fornecidas aos envolvidos informações seguras e competentes para uma vivência adequada desse período de turbulência com mais tranqüilidade.
Como dito anteriormente, sempre deve passar pela mente dos envolvidos a certeza de que tudo isso representa um período transitório e que pode redundar em bons frutos num futuro mais ou menos próximo, dependendo de como se aproveitar a experiência.

.SEMPRE EXISTE A AMBIVALÊNCIA: APEGO X RAIVA/RESSENTIMENTO
O apego ao Passado e um certo receio do Futuro acompanham cada ser humano: isso é natural, mas não significa que seja conveniente seja levado a extremos.
A supervalorização do Passado é prejudicial, uma vez que o Futuro tende a ser sempre melhor, conforme nele investirmos.
Passadismo é sentimento nocivo, que deve ser superado, substituído pela fé nos investimentos do Presente e a certeza de que o Futuro é maravilhoso para quem vai em sua direção com confiança e boas realizações.
Raiva é sentimento negativo, que nos faz culpar os outros pelos nossos próprios equívocos, ao invés de assumirmos as más escolhas que eventualmente tenhamos feito.
Tudo que fizemos de bom e de menos bom significa “aprendizado” e serve como material para o Futuro: não significa “perda”, mas sim “conquista”.
Ressentir-se contra alguém é jogar-lhe nas costas as culpas que não são de ninguém, mas sim da própria imperfeição (mas perfectibilidade) humana.
Todos estamos evoluindo, ou seja, conquistando degraus mais altos na escala intelecto-moral: ninguém está estacionário: nem nós nem os outros.
Somos caminheiros da mesma estrada, transitando ora mais próximos ora mais distantes, juntos com os outros bilhões de caminhantes, abençoados por Deus, que nos criou a todos e nos ama a todos indistintamente.

.EM GERAL HOMENS E MULHERES REAGEM DIFERENTE
As naturezas feminina e masculina, por serem naturalmente diversas, reagem diferentemente nos casos de separação: isso é evidente.

.PESSOAS QUE AJUDAM NORMALMENTE OS CÔNJUGES SÃO OS FILHOS, MEMBROS DA FAMÍLIA, AMIGOS, AMANTES, NAMORADOS, ADVOGADOS E OUTROS
As ajudas devem ser procuradas pelos interessados, não representando boa opção o isolamento. Afinal, a tendência é uns precisarmos dos outros em inúmeras situações da vida.
A solidariedade deve ser desenvolvida cada vez mais, como forma de sublimação humana e desenvolvimento intelecto-moral.
Ninguém se julgue desprezível pelo fato de estar atravessando uma fase mais difícil na vida, pois todos, declaradamente ou não, estendem a mão pedindo ajuda, desde o primeiro vagido até o último suspiro de vida.
Ajudarmos uns dos outros é muito saudável e nos engrandece como seres humanos.

4- REORGANIZAÇÃO DO SISTEMA: NOVAS FRONTEIRAS, NOVAS REGRAS E PADRÕES SÃO DESENVOLVIDOS. FORMAM-SE DUAS FAMÍLIAS UNIPARENTAIS.
Ao invés de “perda”, surge a noção de “conquista”: aparecem duas famílias, onde a regra principal deve ser a de “ampliação” e não de “restringimento”.
Para tanto, é necessário que os envolvidos abram a mente e o coração para os membros que chegam.
A tendência é difundir-se cada vez mais esse modelo de família, superando aquele tradicional, dos séculos passados, onde o sangue unia pessoas em torno de um patrimônio e as fazia guerrear contra as demais famílias, também por causa de dinheiro.
O século XXI não repetirá o paradigma ultrapassado da família patrimonialista, mas estabelecerá, em definitivo, a família fundada no verdadeiro Afeto, reunindo pessoas que se amam acima das questões financeiras.
Infelizmente, ainda há quem se mantém sob o mesmo teto na companhia de seres que deixaram de se amar há muito tempo e continuam juntos, em verdadeira guerra doméstica, apenas unidos por causa dos bens materiais.

A PATERNIDADE COOPERATIVA: DISCUSSÃO SOBRE A EDUCAÇÃO DOS FILHOS E FINANÇAS
O novo padrão significa rompimento com o Passado, onde o ser masculino era encarregado de prover as despesas da família e a mulher a cuidadora dos filhos.
Atualmente, as mulheres trabalham fora e os homens ajudam na criação dos filhos. Esse o modelo ideal.

AS CONSEQUÊNCIAS FINANCEIRAS SÃO DIFERENTES PARA O HOMEM E PARA A MULHER
Enquanto as mulheres forem educadas para ser dependentes dos homens (pais, maridos e filhos), ficando condicionadas ao casamento ou equivalente, sua realidade continuará deprimente, o que acontece nos países do terceiro mundo, dentre os quais o nosso, nas regiões menos desenvolvidas sócio-culturalmente.
O que se deve fazer é prepará-las para a vida de trabalho com ou sem casamento. Afinal, cada ser humano deve se plenificar e não viver de forma subserviente.

5- REDEFINIÇÃO DO SISTEMA: NOVOS PAPÉIS E FRONTEIRAS. RELACIONAMENTO COOPERATIVO ENTRE OS EX-CÔNJUGES QUANTO À PATERNIDADE;
MELHOR MANEJO DA VIDA QUANTO À INDIVIDUALIDADE DE CADA CÔNJUGUE
O desenvolvimento das potencialidades de cada pessoa deve ser levado ao grau máximo, sem que ninguém se julgue no direito de cercear os sonhos de melhoria dos outros.
Recente estatística afirma que mais de 10% das pessoas são superdotadas em alguma área, mas muitas delas deixam de revelar seus extraordinários dons por falta de oportunidade, o que é lamentável.
É ainda muito comum entre os casais um dificultar as idealizações do outro por motivos vários, inclusive ciúme doentio, este que é um dos piores sentimentos e que se responsabiliza por inúmeros fracassos nos relacionamentos conjugais.

FILHOS E DIVÓRCIO

EM GERAL OS FILHOS DESEJAM VER OS PAIS JUNTOS E POUCOS REVELAM QUERER O DIVÓRCIO;
NÃO É O DIVÓRCIO EM SI QUE CRIA MAIORES TRANSTORNOS NA VIDA DOS FILHOS, MAS AS CIRCUNSTÂNCIAS DA SEPARAÇÃO:
PERDA DA QUALIDADE DA VIDA NO PÓS-SEPARAÇÃO; MUDANÇAS ESTRESSANTES DECORRENTES DA SEPARAÇÃO.
EXEMPLO DE CASO CLÍNICO: MENINO DE 8 ANOS QUE NÃO DESGRUDAVA DA MÃE.
Como se sabe, a vida de cada pessoa segue uma seqüência que vai do nascimento à morte, passando pelas várias fases.
Por uma questão de comodidade, as pessoas esperam um mínimo de dificuldades e um máximo de benefícios, esquecidas de que a vida é um aprendizado, rumo à Perfeição relativa apregoada pelas Religiões e pela Filosofia.
As mudanças costumam representar novas oportunidades de aprendizado, construtivo sempre, se encarado com otimismo e aplicação.
O lado positivo da vivência deve ser destacado e priorizado, para que, no final, se transforme em impulsionador do Progresso individual e coletivo.
O pessimismo e a visão passadista é que fazem acrescer as dificuldades dessa fase da vida, que, na verdade, é muito enriquecedora e amadurecedora.

.PESQUISAS MOSTRAM QUE O RELACIONAMENTO DOS EX-CÔNJUGES NO PÓS-DIVÓRCIO É O FATOR MAIS CRÍTICO NO FUNCIONAMENTO DA FAMÍLIA, ESPECIALMENTE NO AJUSTAMENTO DA VIDA DOS FILHOS
O hábito enraizado de jogar a culpa das situações difíceis nos outros é o causador dessa verdadeira “guerra” que costuma se instalar entre os ex-cônjuges, que preferem acusar um ao outro ao invés de dialogar sobre a melhor forma para o desfazimento dos elos matrimoniais e sua transformação em eventuais laços de amizade, ou, na pior das hipóteses, de diálogo pacífico em favor inclusive dos próprios filhos.
O desfazimento de um casamento difere do desfazimento de um namoro pelo simples fato de existir uma absurda e desatualizada “sacralização” imposta pela lei, mas a verdade é que tudo pode (e é salutar que assim o seja) ser resolvido pelo diálogo entre duas pessoas de alto nível de compreensão e maturidade.

.A MAIORIA DOS FILHOS FICA INSATISFEITA COM FINS DE SEMANA ALTERNADOS COM O PAI, DESEJANDO UM CONTATO MAIOR;
.A GUARDA COMPARTILHADA PODE SER A SOLUÇÃO PARA MUITOS CASOS, MAS NÃO É UMA PANACÉIA PARA TODOS;
.O ACESSO CONTÍNUO E OS RELACIONAMENTOS SATISFATÓRIOS COM AMBOS OS PAIS SÃO MAIS IMPORTANTES QUE A FORMA DE GUARDA
Não pode haver hora predeterminada para se manifestar amar aos filhos e estes aos genitores, pois o sentimento transcende todas as convenções.
O ideal é pais e filhos poderem ver-se o mais frequentemente possível, como forma de satisfazerem-se afetivamente, tanto quanto é necessária a alimentação corporal.

A FAMÍLIA PÓS-DIVÓRCIO

AS DOUTRINADORAS CITADAS VEEM A FAMÍLIA UNIPARENTAL, GERALMENTE FORMADA PELA MÃE E OS FILHOS, COMO UMA FAMÍLA GENUÍNA, UMA NOVA FORMA DE ORGANIZAÇÃO FAMILIAR.
Trata-se de uma visão feminista, própria da maioria das americanas, mas que vai sendo alterada pela maior participação masculina na criação dos filhos.

A QUESTÃO FINANCEIRA PODE SER O MAIOR DESAFIO.
Pelo fato mesmo da desigualdade entre homens e mulheres que ainda perdura em muitos países e regiões, a questão financeira ainda é relevante.
Com a incrementação da igualdade, esse dado passará a ter menor peso, pois será apenas mero detalhe no universo de mudanças que ocorrem a partir da separação/divórcio.

COM A AJUDA PSICOTERAPÊUTICA A MÃE PODE CRIAR NOVAS MANEIRAS DE SATISFAZER AS NECESSIDADES EMOCIONAIS E FINANCEIRAS DE SEUS FILHOS
A ajuda psicoterapêutica, como já dito, é imprescindível, pois não se pode nem se deve minimizar uma situação de tamanha importância na vida das pessoas.
Economizar dinheiro numa conjuntura dessas é encubar um problema, que poderá trazer conseqüências desagradáveis no futuro.

TRÊS PROBLEMAS INTER-RELACIONADOS PREDOMINAM: DINHEIRO, PATERNIDADE E RELACIONAMENTO SOCIAL. PODEM PERDURAR DE 3 A 5 ANOS
O período de ajustamento costuma perdurar de 3 a 5 anos.
Alguém pode achar que há exagero nessa previsão, mas ela se baseia em dados verificados estatisticamente, valendo a pena ser levada em conta para que os resultados finais sejam os melhores possíveis.

O PROCESSO DE TORNAR-SE UMA FAMÍLIA UNIPARENTAL CONSISTE EM 3 FASES DISTINTAS: CONSEQUÊNCIAS; REALINHAMENTO E ESTABILIZAÇÃO
A seqüência acima especificada é o resultado de muita pesquisa e análise de especialistas e apresenta-se confiável, para conhecimento das pessoas envolvidas e terapeutas, visando a felicidade dos interessados.

MUITAS FAMÍLIAS NÃO CONSEGUEM SUPERAR POR TODAS AS FASES, MAS AQUELAS QUE CONSEGUEM TORNAM-SE INDEPENDENTES, POSSIBILITANDO À MÃE A ESCOLHA DE CASAR DE NOVO OU NÃO
O fato de casar-se novamente não é o mais importante, pois o que interessa realmente é as pessoas “resolverem-se” de verdade, ou seja, passarem pelas várias fases da vida sem deixarem acumuladas e sem solução questões pendentes, que irão atormentá-las pediodicamente.

FASE 1 – CONSEQUÊNCIAS.
É A FASE DO PRIMEIRO ANO DA SEPARAÇÃO. O DIVÓRCIO LEGAL É DIFERENTE DO DIVÓRCIO EMOCIONAL. ESTE ÚLTIMO OCORRE QUANDO SE MELHORA A AUTOESTIMA INDIVIDUAL E SE DEFINEM NOVOS OBJETIVOS DE VIDA, MAS ISSO LEVA TEMPO.
HÁ MUDANÇAS NOS RELACIONAMENTOS COM OS MEMBROS DA FAMÍLIA AMPLIADA. MÃES JOVENS PODEM VOLTAR A MORAR COM OS PAIS.
DINHEIRO: PODE HAVER AJUDA DA FAMÍLIA E PROCURA POR TRABALHO PRÓPRIO.
PATERNIDADE: O RELACIONAMENTO COM OS FILHOS PODE FICAR DIFÍCIL, PORQUE MUITAS MÃES SE SENTEM OPRIMIDAS NESSE PERÍODO.
PODEM OCORRER TRIÂNGULOS FORMADOS POR MÃE- FILHA MAIS VELHA-FILHOS MENORES OU MÃE-AVÓ-FILHOS VISANDO COMPENSAR A AUSÊNCIA DO PAI .
RELACIONAMENTOS SOCIAIS: PODE SER DIFÍCIL SE A MULHER ERA DEPENDENTE DAS AMIZADES DO EX-MARIDO E TAMBÉM PELA FALTA DE DINHEIRO OU PELO EXCESSO DE TAREFAS. TUDO ISSO ALIADO AO SENTIMENTO DE FRACASSO PODE AFASTÁ-LA DO CONVÍVIO SOCIAL.
A AJUDA PSICOTERAPÊUTICA DEVE ENFATIZAR A CAPACIDADE DA MÃE DE DAR CONTA DE SUA VIDA E DE SEUS FILHOS
Estes apontamentos são importantes como referências para os terapeutas e os próprios envolvidos. Pela sua clareza, desnecessitam de comentários e devem ser observados pelos envolvidos.

FASE 2- O REALINHAMENTO
A FAMÍLIA PASSA DA CRISE PARA UM ESTADO DE TRANSIÇÃO. PODE HAVER ALTERNÂNCIA DE SENTIMENTOS DE EUFORIA E DEPRESSÃO. DURAM DE 2 A 3 ANOS OS ESFORÇOS DE REAJUSTAMENTO COM MUDANÇAS EXTERNAS E INTERNAS, POSSIBILITANDO O DIVÓRCIO EMOCIONAL.
DINHEIRO: AS DIFICULDADES CONTINUAM. A VENDA DA CASA OU MUDANÇA É SIGNIFICATIVA. TAMBÉM SE PODE CONSEGUIR UM NOVO EMPREGO.
PATERNIDADE: PODE SIGNIFICAR UMA MUDANÇA IMPORTANTE NA MANEIRA PELA QUAL CADA PROGENITOR SE RELACIONA COM OS FILHOS.
RELACIONAMENTO SOCIAL: OCORRE AJUSTAMENTO À CONDIÇÃO DA PESSOA SOZINHA NA VIDA SOCIAL. HOMENS E MULHERES TÊM STATUS DIFERENTES NO MUNDO DOS SOLTEIROS. A QUESTÃO DA ACEITAÇÃO DOS FILHOS QUANTO A UM NOVO RELACIONAMENTO.
Também importante a observação destes detalhes.

FASE 3- ESTABILIZAÇÃO. A MÃE PODE CASAR-SE NOVAMENTE SEM TER CHEGADO AO MANEJO DAS FINANÇAS, À AUTORIDADE MATERNA SOBRE OS FILHOS OU A UMA REDE SOCIAL INTERESSANTE.
EXISTE MAIOR ENERGIA DA FAMÍLIA PARA LIDAR COM AS TAREFAS DO CICLO FAMILIAR. GERALMENTE, É UM PERÍODO MAIS CALMO: OS FILHOS TRANSITAM ENTRE AS DUAS CASAS. OS EX-CÔNJUGES LIDAM MELHOR UM COM O OUTRO E PODEM TER NOVOS RELACIONAMENTOS
Quem consegue alcançar este nível de realização cresce e se torna verdadeira referência intelecto-moral para a própria sociedade, mostrando um elevado nível de maturidade e compreensão humana.

O PROGENITOR SEPARADO SEM A GUARDA DOS FILHOS

A MAIORIA DOS HOMENS TENDE A EXPERIENCIAR UMA PERDA DE ESTRUTURA COM O FIM DO CASAMENTO: A PERDA DO SENSO DE LAR E DE FAMÍLIA. PERMANECE COMO MEMBRO AUXIIAR ATIVO DA FAMÍLIA DIRIGIDA PELA MÃE QUE FICOU COM OS FILHOS.
DINHEIRO: O SUSTENTO DE DUAS CASAS REDUZ A BASE ECONÔMICA DO PAI. A QUESTÃO FINANCEIRA PODE TORNAR-SE UM QUESTÃO EMOCIONAL.
PATERNIDADE: SEM A ESTRUTURA DO CASAMENTO, OS PAIS PODEM SE DISTANCIAR DOS FILHOS. COM O TEMPO, PODE HAVER ATÉ TOTAL AFASTAMENTO PRINCIPALMENTE SE EXISTIR CONFLITO CONJUGAL. A EX-MULHER TAMBÉM PODE AFASTAR OS FILHOS DA INFLUÊNCIA DO PAI.
RELACIONAMENTO SOCIAL: DEPOIS DO DIVÓRCIO, OS HOMENS SE CASAM MAIS CEDO QUE AS MULHERES, PERMANECENDO GERALMENTE COM PARCEIRAS MAIS JOVENS. OUTROS EVITAM A INTIMIDADE, FICANDO COM PARCEIRAS SEXUAIS.
ATUALMENTE ALGUNS PAIS BUSCAM PSICOTERAPIA COM QUESTÕES REFERENTES À PATERNIDADE.
A ajuda de terapeutas tem sido cada vez mais procurada pelos homens, que, insatisfeitos com as dificuldades enfrentadas no relacionamento com os filhos do casamento encerrado, passam a ressentir-se de carência afetiva.
O preconceito que havia, até há pouco tempo, contra o trabalho e a utilidade da Psicoterapia, vai perdendo terreno, felizmente.

FAMÍLIA RECASADA

HÁ NECESSIDADE DE UM NOVO PARADIGMA DE FAMÍLIA QUE LEVE EM CONTA A COMPLEXIDADE DE NOVOS RELACIONAMENTOS E PAPÉIS COM
MELHOR DEFINIÇÃO DOS TERMOS MADRASTA/PADRASTO - ENTEADO.
PAIS BIOLÓGICOS – PAIS ATUAIS.
PARENTES POR AFINIDADE
O que se observa, como já dito, é a necessidade de abertura mental para um novo paradigma, onde os laços consangüíneos não tenham valor absoluto, para passar a vigorar a idéia do universalismo do Afeto e uma visão cada vez mais ampla do Amor.
Infelizmente, muitas vezes ainda o Amor não passa de “egoísmo de grupo”, quando, na verdade, é o sentimento mais nobre do ser humano, que não deve se limitar por barreiras de preconceitos.

CONCEITOS QUE REVELAM TENTATIVA DE COPIAR O MODELO DE FAMÍLIA NUCLEAR:
1- FRONTEIRA DE LEALDADE, EXCLUINDO PAIS OU FILHOS BIOLÓGICOS;
2- VÍNCULO PROGENITOR – FILHO, PODENDO ESTIMULAR COMPETIÇÃO PELA PRIMAZIA DO CÔNJUGE;
3- EXIGÊNCIA PELA TRADIÇÃO DE QUE MULHERES ASSUMAM A RESPONSABILIDADE PELO BEM-ESTAR EMOCIONAL DA FAMÍLIA (MADRASTA X ENTEADA E EX-MULHER X NOVA MULHER)
Infelizmente, na realidade atual, muita gente se baseia nos padrões do egoísmo e do exclusivismo herdados do Passado.

UM NOVO MODELO DE FAMÍLIA REQUER:
1- FRONTEIRAS PERMEÁVEIS (FILHOS PODENDO IR E VIR FACILMENTE).
2- ACEITAÇÃO DAS RESPONSABILIDADES E DOS SENTIMENTOS PATERNOS DO CÔNJUGE
(PADRASTOS E ENTEADOS EM RELAÇÃO AMIGÁVEL)
3- REVISÃO DOS TRADICIONAIS PAPÉIS DE GÊNERO NA FAMÍLIA (MULHERES CRIAM FILHOS E HOMENS GANHAM DINHEIRO)

PARA AS DOUTRINADORAS, A TRANSIÇÃO PARA A FAMÍLIA RECASADA É UMA DAS TAREFAS MAIS DIFÍCEIS PARA AS FAMÍLIAS, DEVIDO AO DESEJO DE ENCERRRAMENTO PREMATURO DA FASE ANTERIOR DA SEPARAÇÃO, VISANDO POR FIM AO SOFRIMENTO E AMBIGUIDADE.
INFELIZMENTE, A INTIMIDADE INSTANTÂNEA QUE AS FAMÍLIAS RECASADAS ESPERAM DE SI MESMAS É IMPOSSÍVEL DE SE OBTER.
Na verdade, a dificuldade maior existe em função do apego aos padrões ultrapassados, voltados para o despreparo para pensar “nos outros”.
Aqui é que entram a necessidade de suporte religioso ou filosófico, voltado para a Fraternidade.
Sem esse fator, fica muito difícil a transição.
Os seres humanos necessitam da religiosidade no sentido mais elevado da palavra ou de uma Filosofia de vida que os tornem mais “humanos”, ou seja, mais “fraternos”.
Essa a chave que abre todas as portas e soluciona todos os problemas.

PESQUISAS COM FAMÍLIAS RECASADAS OBTIVERAM COMO CONSELHOS DELAS:
1- VÃO DEVAGAR E TENHAM PACIÊNCIA. ENCERREM SEU ANTIGO CASAMENTO ANTES DE COMEÇAR UM NOVO. AJUDEM AS CRIANÇAS A MANTEREM CONTATO COM SEUS PAIS BIOLÓGICOS.
2- OS PADRASTOS DEVEM SER CORDIAIS, MAS NÃO ESPEREM O AMOR DE UM ENTEADO.
3- COMUNIQUEM-SE, NEGOCIEM, COMPROMETAM-SE E ACEITEM O QUE NÃO PODE SER MUDADO.
São excelentes conselhos, que contam muito no resultado bom ou menos bom alcançado por cada pessoa.

QUESTÕES EMOCIONAIS NO RECASAMENTO
Seguem abaixo algumas questões para reflexão:

.BAGAGEM EMOCIONAL: DA FAMÍLIA DE ORIGEM; DO PRIMEIRO CASAMENTO; DO PROCESSO DE SEPARAÇÃO E DIVÓRCIO; DO PERÍODO ENTRE OS CASAMENTOS
. O OUTRO CÔNJUGE NÃO DEVE TER A FUNÇÃO DE ALIVIAR ESSA BAGAGEM
O NOVO RELACIONAMENTO DEVE PROSSEGUIR POR SEUS PRÓPRIOS MÉRITOS
. NOVOS PAPÉIS E RELACIONAMENTOS COMPLEXOS, CONFLITUANTES E AMBÍGUOS
. FRONTEIRAS COMPLEXAS E AMBÍGUAS DO SISTEMA
. PROBLEMAS AFETIVOS: RESOLUÇÃO DA AMBIGUIDADE
.A TENDÊNCIA PARA A PSEUDOMUTUALIDADE


SEGUNDO AS DOUTRINADORAS, OS PREDITORES DE DIFICULDADES NA TRANSIÇÃO PARA O RECASAMENTO SÃO:
1- GRANDE DISCREPÂNCIA ENTRE OS CICLOS DE VIDA FAMILAR
2- NEGAÇÃO DA PERDA ANTERIOR E OU INTERVALO CURTO ENTRE OS CASAMENTOS
3- INCAPACIDADE DE RESOLVER QUESTÕES DE RELACIONAMENTO INTENSO NA PRIMEIRA FAMÍLIA (RAIVA INTENSA E PROCESSOS PENDENTES)
4- FALTA DE CONSCIÊNCIA DAS DIFICULDADES EMOCIONAIS DO RECASAMENTO PARA OS FILHOS
5- INCAPACIDADE DE ABANDONAR O IDEAL DE PRIMEIRA FAMÍLIA;
6- ESFORÇOS PARA MANTER RÍGIDA A FRONTEIRA NA FAMÍLIA, EXCLUINDO MEMBROS
7- EXCLUSÃO DE PAIS OU AVÓS BIOLÓGICOS
8- NEGAÇÃO DAS DIFERENÇAS E DIFICULDADES PRÓPRIAS DA FAMÍLIA RECASADA
9- MUDANÇA NA GUARDA DOS FILHOS PERTO DO CASAMENTO.

CONCLUSÃO:
Ao lado dos aspectos técnicos, apontados pelas doutrinadoras que serviram de base para este estudo, apontamos algumas soluções, de caráter puramente filosófico e religioso, que, combinados, representam indicativos para a vivência e superação dessa fase transitória, com possibilidades seguras de vivência feliz, se bem se conduzida.

(*)“As Mudanças no Ciclo da Vida Familiar – uma estrutura para a terapia familiar”, Ed. Artes Médicas, 2ª edição, 1995.