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O poeta mineiro Affonso Romano de Sant’Anna foi o homenageado na 12ª edição da Revista MagisCultura, lançada no dia 25 de setembro, durante do programa “Sempre um Papo” realizado na sede da Amagis em Belo Horizonte. Antes de sua palestra, o escritor conversou com a reportagem da Amagis sobre seu trabalho e a relação entre os magistrados e a literatura. Confira:


Os magistrados estão cada vez mais escrevendo e se aproximando da literatura. Como o senhor vê esse fato?
Essa é uma tradição e é muito importante. Grande parte da literatura brasileira foi feita por pessoas oriundas da área do direito, até que depois começaram a criar as faculdades de letras etc.

A experiência dos magistrados nas várias comarca e as histórias dos processos podem ser uma fonte inspiradora.
Esse périplo que os magistrados fazem é uma maneira de conhecer as vísceras do Brasil. Há algumas profissões que são privilegiadas nesse sentido, que passam realmente pelo interior do país, e esses profissionais têm uma contribuição enorme para oferecer.

É possível se desenvolver o talento para a poesia?
Uma vez eu escrevi um texto, lembrando uma frase do Roland Barthes. Ele dizia que no princípio de sua carreira o professor ensina o que ele sabe, mas chega um momento em que ele começa a ensinar o que ele não sabe. E quando ele começa a ensinar o que não sabe é que o curso fica interessante. Estamos aprendendo o tempo todo, afinal, como dizia Guimarães Rosa: “Mestre não é aquele que ensina. É aquele que, de repente, aprende”.

O senhor foi homenageado na 12ª edição da Revista MagisCultura, que tem como tema de capa a água. Como o senhor vê essa convergência da cultura com a ecologia?
É interessante porque a palavra cultura passou por diversas transformações ao longo do tempo. Hoje se entende algo diferente do que se entendia por cultura há 30 ou 40 anos. A ecologia é um exemplo. A relação com os animais, com a natureza. De repente, descobrimos o óbvio: que o contexto em que nós vivemos é fundamental para o equilíbrio do próprio ser humano.

O ofício de escritor é gratificante ou doloroso, sofrido?
É tudo isso. Quando você decide escrever poesia, por exemplo, você está condenado a não vender. A ter um grupo restrito de amigos, que gostam de poesia. Mas é uma questão de vocação.