Em uma manhã repleta de emoção, a Apac Feminina de Belo Horizonte recebeu a ‘Escola Professor Hélio Gomes’, que conta com prédio próprio e funcionará dentro da unidade da Apac, localizada no bairro Gameleira, na capital mineira.

A inauguração aconteceu nesta terça-feira, 14/3, e contou com a participação do presidente do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP), juiz Márcio Schiefler Fontes, do juiz Luiz Carlos Rezende e Santos, presidente da Amagis e titular da Vara de Execuções Criminais de Belo Horizonte, do juiz Daniel Dourado Pacheco, auxiliar em atuação na VEC de Belo Horizonte, e das Defensoras Públicas Ana Paula Starling e Ariane Murta, dentre outras autoridades e parceiros das Apacs. A escola é anexo da Escola Estadual Professora Nair de Oliveira Santana e tem o apoio da Fundação Pitágoras.

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Os presentes na inauguração foram brindados com apresentações de duas recuperandas. Neide Aparecida do Nascimento Silva, contadora de histórias, narrou conto do folclore brasileiro e arrancou gargalhadas da plateia. Já a recuperanda Elizete Paula Diniz Ribeiro recitou um poema de sua autoria, emocionante, no qual expressa sua profunda gratidão com os envolvidos na construção da Escola e no dia a dia na Apac, levando boa parte dos presentes às lágrimas.

 

 

Sonho e trabalho de muitos

Em seu discurso, a presidente da Apac Feminina, Geralda Cupertino, afirmou que hoje é dia de celebração e agradecimento, já que não é comum ver a inauguração de uma escola dentro do sistema prisional no Brasil. Segundo ela, falar em educação de recuperandas é o mesmo que pensar em desprendimento, coragem, quebra de barreiras e preconceitos, empoderamento, sororidade, amor e, principalmente, autonomia. 

"Hoje estamos em festa. E temos muito o que agradecer ao incansável e aguerrido Carlos Alfredo (gerente-geral da Apac BH) por insistir nessa construção, ao juiz Luiz Carlos Rezende e Santos, pessoa de coração generoso e apaqueano, sempre preocupado com a população carcerária, a todos os nossos demais parceiros e às recuperandas da Apac Feminina de Belo Horizonte, que não mediram esforços para a realização desse sonho", agradeceu a presidente da unidade.

 

 

O juiz Márcio Schiefler Fontes elogiou a criação da Escola e o empenho de todos os envolvidos na concretização do trabalho. Destacou a importância da valorização da cultura, seu respeito e a forma lúdica de percebê-la, de acordo com ele, demonstrada nas apresentações das recuperandas.

“Este é um momento singular para mim. As apresentações das recuperandas demonstraram a relação com a nossa terra, nosso continente. Uma relação de respeito, de admiração e uma relação lúdica”, afirmou ele. O presidente do CNPCP falou da importância da educação e lembrou um de seus poetas favoritos, Goethe, que antes de morrer citou: 'Luz, mais luz'. Para o magistrado de Santa Catarina, Goethe referia-se à educação e deixou o pedido claro para que todos os esforços fossem feitos pelo conhecimento. Como tem sido feito na Apac.

Em seu pronunciamento, o juiz Luiz Carlos Rezende e Santos lembrou da história da unidade da Apac feminina, inaugurada no ano de 2019, e destacou o empenho de todos os envolvidos na criação da unidade. “Um sonho acalentado pelo desembargador Joaquim Alves de Andrade que, na época, já estava enfermo, e que passou a se tronar real em um emocionante encontro, neste espaço, ainda em ruínas, que o saudoso Herbert Carneiro – então presidente do TJMG – teve com o Professor Evando Neiva, tudo pelas mãos generosos do Procurador de Justiça Tomáz Aquino, então Advogado Geral da Prefeitura de BH”, lembrou Luiz Carlos.

Nomeado padrinho da Apac feminina e da escola, por ser defensor incansável da metodologia apaquena, Luiz Carlos ressaltou a importância da educação na vida de todas as pessoas e lembrou de sua mãe, a professora Maria Auxiliadora Rezende e Santos. “Minha formação é muito ligada à escola pública, onde realizei meus estudos. Sou muito agradecido à escola pública e vejo que aqui as recuperandas terão a oportunidade de receber o legado, que é a educação. Elas precisam ter uma chance. E é isso que estamos fazendo aqui. Essa unidade da Apac nasceu com vocação para a educação, o que foi pensado e idealizado desde o primeiro momento. Estou muito feliz com a parceria realizada com a Escola Estadual Professora Nair de Oliveira Santana e com a Fundação Pitágoras”, comemorou o magistrado, lembrando a passagem de sua mãe pelo serviço público e na escola particular.

Desafio

A diretora da Escola Estadual Professora Nair de Oliveira Santana, Maria Helena Dumont Oliveira Macedo, contou que o projeto, que começou como um enorme desafio, trazendo certo receio e apreensão, hoje se concretizou. Tudo isso, de acordo com Maria Helena, só foi possível com a rede de apoio que se formou em torno da escola, cuja razão de existir são as recuperandas.

 

"É muito bom compartilhar um projeto tão maravilhoso e feito por muitas mãos. Com o apoio do Governo do Estado de Minas Gerais, do Judiciário mineiro, da Fundação Pitágoras e da Secretaria de Justiça e Segurança Pública, agora nossas recuperandas têm um espaço de conhecimento construído com amor e empatia. Sempre digo a cada uma delas: 'Nada derruba o conhecimento. Enraízem seus sonhos para que vocês possam voar", afirmou a diretora.

Integração

A presidente da Fundação Pitágoras, Helena Neiva, ressaltou a importância da aliança intersetorial na gestão da Escola da Apac. De acordo com ela, a inauguração do novo espaço só foi possível graças a uma aliança robusta e genuína. Para Helena, a Associação é um modelo extraordinário porque ilustra com perfeição que, sozinho, ninguém vai muito longe. Entre outros parceiros, ela agradeceu ao TJMG e, em especial, ao empenho do juiz Luiz Carlos Rezende e Santos na obtenção de recursos para a construção da escola. A presidente da Fundação agradeceu também à equipe de técnicos e professores. Segundo ela, “os educadores da Escola da Apac são devidamente reconhecidos, valorizados e têm diante de si alunas comprometidas, dedicadas e que não querem perder um minuto daquela realidade".

 


Professor Hélio Gomes

O professor Evando Neiva, da Fundação Pitágoras, falou sobre o professor Hélio Gomes, segundo ele, uma figura singular que esteve conosco por mais de 50 anos. Professor Neiva destacou uma passagem sua com Hélio Gomes, quando os dois estavam trabalhando na Fundação Pítágoras para desenvolver um sistema de gestão de qualidade total da educação.

"Lembro-me que construímos um comitê para criar esse projeto e havia muitas leituras que deveriam ser adaptadas. Nessa ocasião, pedi ao Hélio para fazer uma lista de citações que nos desse um embasamento do que é a qualidade total na educação. Pedi a ele umas 20 ou 30 citações para nos auxiliar. Mas o Hélio me disse que entraria de férias. Ele ficou, então, três semanas em média de férias. E quando ele retornou, me entregou um manuscrito, que se transformo no livro 'Pensamentos da Qualidade', com mais de 1.500 citações dos pensadores e filósofos mais prestigiados do planeta. Esse é o professor que dá nome à Escola da Apac”, disse Evando Neiva.

 

Representando a família do professor Hélio Gomes, patrono da Escola, sua viúva Maria Luíza Gomes desejou sucesso a todos os envolvidos no projeto. “Hélio foi a luz do conhecimento e do amor. Ele amava tudo que fazia e todas as pessoas que estavam ao redor dele. Coincidentemente, sua passagem do evangelho favorita era: ‘tive fome e me deste de comer, tive sede e me deste de beber, estava nu e me vestiste’. Hélio dizia que todos nós somos presos à nossa ignorância, às nossas dificuldades. E dizia também que todas as vezes que as nossas mãos quiserem auxiliar, era para as erguer e auxiliar. Porque todas as vezes que erguemos as nossas mãos para auxiliar, as grandes mãos cósmicas se erguem junto”, afirmou Maria Luiza.

 

Inclusão

Presente à solenidade de inauguração, a deputada Ana Paula Siqueira agradeceu ao juiz Luiz Carlos o convite e ressaltou que, além de um local adaptado para o aprendizado formal e a troca de conhecimentos, a Escola Professor Hélio Gomes é, sobretudo, espaço de políticas inclusivas. “A construção da escola representa uma quebra de paradigmas e um avanço para que, de fato, possamos contribuir para uma sociedade justa e igualitária", afirmou a parlamentar.

A Escola Professor Hélio Gomes foi construída com recursos originários de penas pecuniárias provenientes da Vara de Execuções Criminais de Belo Horizonte, com o apoio do Ministério Público e da Defensoria Pública que atuam na unidade judiciária. Conta com cinco salas de aula, biblioteca e sala de informática. Setenta recuperandas fazem o ensino regular na Escola. Outras quarenta recuperandas irão iniciar cursos superior EAD nas dependências da Escola.