O evento 'Mulheres que Inspiram – Esperançar para que possa existir vida' aconteceu hoje, 10 de abril, no Fórum Cível e Fazendário de Belo Horizonte. A iniciativa, que teve o objetivo de valorizar trajetórias femininas marcadas por liderança e comprometimento com a transformação social, é do Polo de Evolução de Medidas Socioeducativas (PEMSE), do Sistema Socioeducativo de Minas Gerais e da Superintendência de Atendimento ao Adolescente, do Governo de Minas, com o apoio do Tribunal de Justiça de Minas Gerais.
Entre as participantes estavam a desembargadora Valéria Rodrigues, vice-presidente da Associação Brasileira dos Magistrados da Infância e Juventude, e a juíza da Vara da Infância e da Juventude de Belo Horizonte, Andréa Mol Bessa, que representou a juíza titular da Vara, Riza Nery.
Na solenidade de abertura, o presidente do PEMSE, Fernando Rinco, falou da importância do evento que, segundo ele, é um convite para enxergar o mundo com olhos de possibilidades para reconhecer e valorizar trajetórias femininas e para nutrir em cada um a esperança ativa de um futuro mais justo, plural, igualitário, inclusivo e democrático. Rinco enfatizou o tema do evento que traz o termo Esperançar, do educador Paulo Freire. De acordo com ele, esperançar é mover, agir, planejar e buscar alterativas para alcançar. “Devemos esperançar porque acreditamos na potência da vida. Porque sabemos que em meio aos desafios, seguimos semeando coragem, afeto e transformação”, afirmou ele, desejando que o evento seja um espaço de troca, escuta e celebração. “Que possamos sair daqui inspirados e comprometidos com a construção de um mundo em constante transformação”.
A juíza Andréa Mol parabenizou os organizadores do encontro que traz novas perspectivas e reflexões para os participantes em sua missão como socioeducadoras. “A presença de vocês demonstra o desejo de contribuir com conhecimento, compartilhar esperanças e buscar soluções inovadoras”, afirmou a magistrada que é responsável pelo projeto Corre Legal, voltado para adolescentes com restrição de liberdade e em semiliberdade, com o objetivo de levar aos jovens a possibilidade de realizar atividade física saudável, utilizando o esporte como meio de reeducação social.
“Esperançar é se levantar, é ir atrás, é unir forças, estreitar laços, é não desistir, é levar sonhos e projetos, é juntar-se aos outros e com os outros fazer o melhor”, disse Andrea Mol, refletindo sobre o tema do evento. “Não podemos curar nossos adolescentes, as pessoas, ou curar o mundo sem nos curar primeiro. Pessoas esperançosas costumam construir conexões mais positivas, conseguem oferecer suporte emocional a outros, o que fortalece o próprio bem-estar mental, uma vez que relacionamentos saudáveis e solidários são parte do equilíbrio emocional e, por consequência, da saúde mental. Posso garantir que as maiores recompensas da vida virão do fato de abrirmos nossos corações para aqueles que estão precisando. As maiores bênçãos vêm sempre de ajudar aos outros”, concluiu a magistrada convocando a todos os presentes a esperançar.
A subsecretária de Atendimento Socioeducativo do Governo de Minas, Giselle da Silva Cyrilo, fez a saudação às participantes do evento e prestou uma homenagem à desembargadora Valéria pelo seu trabalho à frente do socioeducativo e “pela diferença que faz com sua força feminina na política de atendimento aos adolescentes do Brasil”, disse. “Minha admiração por você é enorme. Você faz. Você pavimenta caminhos”, afirmou ela.
De acordo com Giselle, falar sobre mulheres que inspiram e sobre esperança é, necessariamente, falar também das meninas que estão no sistema socioeducativo. “É por elas que nós, gestoras, magistradas, promotoras, defensoras públicas e agentes, nos reunimos. Esse público, muitas vezes invisibilizado, precisa ser o centro das nossas reflexões e ações”, afirmou. A subsecretária apresentou dados sobre a população privada de liberdade em Minas e no Brasil e o abandono familiar que as meninas nessa situação enfrentam. “Cerca de 70% das meninas não recebem visitas, ao contrário dos homens, cuja criminalidade ainda é muitas vezes justificada sob o argumento de que são provedores de família”, disse. Para Giselle Cyrilo, é urgente pensar o sistema socioeducativo a partir de uma perspectiva de gênero, entendendo que muitas dessas meninas estão em unidades não por razões exclusivamente jurídicas, mas por trajetórias marcadas por abandono, exploração e violência. “Se queremos, de fato, inspirar e esperançar, precisamos construir caminhos que acolham essas meninas e deem respostas concretas às suas realidades. Inspirar não é apenas brilhar e ser exemplo, mas também estender a mão e trazer outras mulheres junto com a gente”.
Fragmentos delas
A desembargadora Valéria Rodrigues participou, ao lado da defensora pública Ana Paula Canela, com mediação da superintendente de Atendimento ao Adolescente, da SUASE, Alice Emmanuele Teixeira Peixoto, do primeiro painel do evento, com o tema Fragmentos Delas. Em sua fala, a magistrada ressaltou que o foco principal do encontro são as profissionais do sistema socioeducativo, mulheres que carregam consigo histórias de resistência e superação. “Nós, mulheres, temos uma visão mais ampla, mais humana. Lidar com a infância e juventude nos ensina muito sobre empatia, porque não tratamos apenas do adolescente, mas de todo o contexto familiar. Isso nos motiva a buscar soluções mais eficazes e humanizadas, para que esse jovem não volte ao ciclo da infração”, afirmou.
Valéria Rodrigues compartilhou sua trajetória ao longo de 18 anos de experiência no campo socioeducativo e falou da experiência da criação do Centro Integrado de Atendimento ao Adolescente – CIA, que hoje é referência na América do Sul. “Ao longo dos meus 18 anos de experiência no socioeducativo enfrentei inúmeros desafios. A construção do Centro Integrado de Atendimento ao Adolescente, o CIA, foi uma grande conquista, mas que não veio sem dor. Foi fruto de muito esforço. E ainda vivemos em uma sociedade marcada por uma cultura machista, em que o reconhecimento da mulher, especialmente em cargos de liderança, exige uma luta muito maior”, ressaltou.
Durante todo o dia, palestras, painéis e rodas de conversa reuniram mulheres de diversas áreas da atuação pública e privada, reconhecidas por sua contribuição à sociedade.