Uma nova exposição ocupa a Galeria de Arte do Fórum Lafayette. Desta vez, porém, predomina sobre a proposta artística a comemoração dos 35 anos do Edifício Governador Milton Campos, que, desde 1980, sedia a maior parte das varas da Justiça de Primeira Instância de Belo Horizonte. A abertura da mostra, com trabalhos retratando a história presente e passada do prédio, ocorreu na noite de ontem, 7 de outubro, preludiada por uma sessão de “causos”.

O corregedor-geral de justiça, desembargador Antônio Sérvulo dos Santos, afirmou que atuou em Belo Horizonte durante quase todo o período da sede no Barro Preto. Ele lembrou que o terreno onde foi instalado o prédio era bem pantanoso, daí o nome do bairro. “Todos fazemos parte dessa história e, mais do que isso, com essa exposição nós mesmos fazemos história”, declarou.

O juiz diretor do foro e auxiliar da Corregedoria-Geral de Justiça, Cássio Azevedo Fontenelle, disse que, ao refletir sobre esse aniversário, ele recorda fatos da sua infância, marcada pela admiração ao pai, advogado que vinha frequentemente ao fórum acompanhado do menino que nem sequer dava altura para o balcão de atendimento.

Foram falas breves, na antevisão de boas estórias, como as três suspeitas de bomba que fizeram o prédio ser evacuado; o motorista que conhecia apelidos secretos dos magistrados e foi despedido ao revelar um deles a seu proprietário; o oficial de justiça que, ao ver um fio comprido, desceu as escadas correndo para “falar com a imprensa” e deparou com uma enceradeira; o homem que sacou do revólver no meio da audiência; o oficial que, depois de ter sido insultado por um intimado, reproduziu os xingamentos no mandado e completou: “O referido é verdade e dou fé”.

História nas estórias

Servidores que acompanharam parte da trajetóriade ocupação da construção, que chegou a abrigar a Corregedoria e setores desvinculados do Poder Judiciário, foram convidados para partilhar algumas das estórias que povoam o espaço forense: Geraldo Haroldo Paiva e Ivo Athayde, aposentados, e Fátima Lages, da ativa.

Entre as curiosidades narradas, esteve o fato de que só a visita de cortesia de um juiz do interior, antes da inauguração oficial, permitiu a criação do II Tribunal do Júri. Ao passear pelas instalações com um secretário de Estado, o magistrado indagou onde estava o II Tribunal, previsto na lei, mas então inexistente. Diante da pergunta, o espaço foi criado às pressas, onde era a garagem.

Ivo Athayde contou que a mudança da Rua Goiás para a Avenida Augusto de Lima foi uma operação organizada com o apoio da Polícia, do Exército e dos Correios para mover os autos, acomodá-los em malotes e vigiá-los dia e noite enquanto eles não voltavam às secretarias de origem. “Do modo como foi feito, era impossível algo se extraviar. Muita gente, porém, usou a vinda para cá como desculpa para perdas posteriores ou anteriores”, comentou.

O ex-oficial Paiva relatou a mágoa que um desembargador já falecido lhe confessou: em menino, ele queria assistir a um júri e foi bruscamente retirado do salão por três vezes. Mais tarde, já tendo ingressado na carreira, narrou o fato ao juiz responsável por isso, ainda em atividade. O colega, sem se apertar, lhe respondeu: “Ora, mas eu não sabia que o senhor se tornaria juiz!”.

Para Fátima Lages, uma ocorrência difícil de esquecer foi a investigação de paternidade à qual compareceram marido, mulher e um compadre. Ficou definido que o pai biológico da criança, na verdade, era o padrinho. O mais surpreendente foi que o pai afetivo, um homem bastante simples, garantiu que o resultado não alterava nada nas relações da família: “O menino é meu filho, vou amá-lo de qualquer jeito. E você, meu compadre, eu respeito muito; então fica tudo assim como está”.

1ª Exposição de Fotografias do Fórum Lafayette

A 1ª Exposição de Fotografias do Fórum Lafayette traz imagens produzidas ou selecionadas – no caso de registros cuja autoria se perdeu ou é desconhecida – por 17 autores pertencentes aos quadros do Tribunal de Justiça e imagens do arquivo da Assessoria de Comunicação Institucional (Ascom). São 28 fotografias impressas e 115 projetadas em uma tela.

Compondo o conjunto há ainda um documento recuperado por especialistas especialmente para integrar a mostra: uma foto de 1977, pertencente ao advogado Luiz Cláudio Carvalho, do terreno sobre o qual se ergueriam quatro andares já preparado para receber os alicerces. A iniciativa integra os festejos dos 35 do Fórum Lafayette e é uma promoção conjunta da Direção do Foro, da Corregedoria e da Ascom.

Enviaram imagens para a exposição: Alessandra Filardi, Camila Pessoa, Cláudia Valéria, Daisy Melo de Souza, Fátima Lages, Geraldo Paiva, Gustavo Gomes, Israel Tomaz, Jullie Guimarães, Manuela Ribeiro, Márcio Guimarães, Margarete Rodrigues, Olinto Paiva, Raul Machado, Rodrigo Carvalho, Rosana Viana e Soraia Costa.

A mostra fica aberta ao público de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h, até 5 de novembro. A Galeria de Arte fica próxima à portaria principal do fórum, na Avenida Augusto de Lima, 1.549, Barro Preto. Leia também matéria sobre os 25 anos do Fórum e revista comemorativa da mesma data.



Fonte: TJMG