Por Helder Galvão
Rei é rei e nunca perde a majestade, já diria o ditado popular. E justamente por ser majestade é que Roberto Carlos se vale de toda e qualquer medida para impedir publicações em seu nome ou o uso de sua imagem por terceiros.
Foi o que aconteceu recentemente com o livro Jovem Guarda: Moda, Música e Juventude, de Maíra Zimmermann. A obra, resultado de sua dissertação de mestrado, aborda a relação do movimento com a cultura juvenil no país nos anos 60. Mas para Dodi Sirena, empresário do Rei, não é bem assim: “Todo mês, há três, quatro situações de livros ou shows explorando indevidamente a imagem do Roberto. Fazemos a notificação porque a lei nos protege. São tantos casos que eu já passo direto para o escritório dos advogados”.
Esse atual episódio lembra, é claro, o caso que envolveu o historiador Paulo Cesar de Araújo. A proibição da circulação da biografia Roberto Carlos em Detalhes, até hoje ecoa nos debates sobre liberdade de expressão. A célebre frase do Rei, na época, em que “a minha história é um patrimônio meu, quem escreveu este livro se apropriou deste meu patrimônio e usou em seu próprio beneficio”, é reverberada agora, no mesmo tom egocêntrico, pelo seu empresário.
Ao que parece, o mundo do Rei gira em torno da sua própria realeza, como se todos fossem os seus súditos. Mas para o bem ou para o bem também (a palavra mal é proibida pelo Rei), os fatos históricos não são privativos de ninguém, tampouco existe lei que impeça a sua divulgação. Daí que todos aguardam a nova publicação de Paulo Cesar de Araújo na qual relatará os fatos que giraram em torno da biografia proibida.
Desde o surgimento das primeiras pesquisas, vinte anos atrás. Das entrevistas com todos os artistas, menos o próprio Rei. Do lançamento do livro aos elogios da crítica. Da fatídica audiência judicial à ameaça de fechar a editora e queimar todo o estoque dos livros. Tudo, em detalhes, sobre o súdito e não sobre o Rei.
Baseado na sua própria história e em fatos públicos e reais, nem mesmo o resgate do secular poder moderador dará ao Rei e ao seu séquito os recursos e medidas de todo o fim para proibir o novo livro de Paulo Cesar de Araújo. É, pois é, vai ver que o Rei se esqueceu que a verdade não mudou. E ele não está surdo. Está agora é nu.
Helder Galvão é advogado, sócio do escritório Candido de Oliveira Advogados e presidente da Comissão de Direitos Autorais da OAB-RJ.
Revista Consultor Jurídico, 8 de maio de 2013