Magistrados, servidores e convidados puderam assistir, na noite desta quinta-feira, 20, à exibição do filme Foro Íntimo, no Salão do Primeiro Tribunal do Júri, do Fórum Lafayette, em Belo Horizonte.

Baseado em fatos reais e gravado totalmente nas instalações do Fórum Lafayette, a obra conta a história de um juiz criminal que tem de se refugiar no seu local de trabalho, um gabinete forense, para se proteger das fortes ameaças de morte, vindas de traficantes e estelionatários.

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Depois de assistir ao filme, o advogado José Alfredo disse que a proposta do filme é interessante por mostrar como em alguns casos os juízes são submetidos a uma condição totalmente contrária ao que se espera da administração da Justiça. “A autoridade deve ter a liberdade para atuar e garantir o cumprimento da Lei, e o que o filme mostra, é uma autoridade sendo por vários caminhos diferentes, cerceada em sua liberdade”, destacou.

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Também presente à exibição, o desembargador André Leite Praça afirmou ter gostado muito da produção, que mostra uma realidade impactante e que infelizmente existe para alguns magistrados.

A escrivã Aulenir Mendes disse que ficou um pouco chocada com o filme. “Neste tempo em que trabalho no fórum, já vi ameaças de bomba, ameaças de atirar em juiz, de tirar preso dentro do fórum”, lembrou.

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Processo de criação

O diretor do filme, Ricardo Mehdeff, conta que, há cinco anos, ele leu uma matéria falando sobre magistrados que precisavam de escolta policial e viviam sob constante ameaça. A partir daí, teve a ideia de fazer o filme. Nas pesquisas descobriu casos de juízes que tinham que permanecer durante dias no ambiente de trabalho. “O que me atraiu foi essa ironia: um juiz que está ali para julgar outros cidadãos, por crimes, dentro desse processo, ele mesmo se encontra preso”, comenta.

Ele disse que o processo de criação é longo, mas que um momento crucial para o filme foi quando a direção do foro de Belo Horizonte autorizou a gravação no Fórum Lafayette. “Sem essa autorização o filme não teria saído”, conta agradecido. Ele relata que a estrutura física do fórum é muito significativa para a obra. “O filme consegue ainda mostrar a arquitetura do prédio, sob um ângulo diferente”, completa.

Personagem

O juiz da ficção, “doutor Teixeira” (Gustavo Werneck), fica mais de um mês vivendo dentro do gabinete, sem privacidade, já que seguranças estão por toda parte, verificando qualquer suspeita. Ele vive situações de grande ansiedade, claustrofobia e paranoia. Suas tentativas de manter laços afetivos geralmente são frustradas e a enorme tensão que envolve até as atividades corriqueiras faz com que se sinta como um verdadeiro prisioneiro.

Segundo Ricardo Mehdeff, o personagem foi criado após diversas entrevistas com quatro juízes brasileiros que atuavam em varas criminais, um deles mineiro. “Um dos magistrados viveu praticamente seis meses dentro do gabinete, outro teve que ficar dentro de um batalhão do Exército enquanto julgava um caso perigoso. As ameaças vinham até de presos condenados por eles”, contou o diretor.

Filme

Rodado em 2015, durante os 16 dias de recesso do Fórum Lafayette, o filme tem uma hora e 14 minutos de duração. Esse drama, em preto e branco, estreou em festivais internacionais em abril, passando pelos Estados Unidos, Argentina, Índia, Portugal, Suécia e Irã. No 25º Indie Fest Film Awards, ganhou o prêmio de melhor longa internacional de ficção.