“Holocausto, Tribunal de Nuremberg e os Regimes Totalitários – Uma perspectiva do Século XXI” foi o tema de seminário que aconteceu, em 29 de maio, no Fórum Lafayette, na capital. O evento contou com palestras das norte-americanas Karel Reynolds e Connie Davies, respectivamente diretora e coordenadora do Museu do Holocausto da Carolina do Norte (EUA). Realizado pela Escola Judicial Desembargador Edésio Fernandes (Ejef) do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), o evento contou com apoio da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB – Subseção Barreiro), União Israelita de Belo Horizonte, Federação Israelita do Estado de Minas Gerais (Fisemg) e Direção do Foro de Belo Horizonte.

TJMG

Na abertura do evento, o corregedor-geral de Justiça, Antônio Sérvulo dos Santos, falou da emoção de ver o espaço de trabalho cotidiano dele, o Fórum Lafayette, tomado por imagens e objetos sobre o Holocausto, como ficou conhecido o extermínio em massa de judeus, durante a Segunda Guerra Mundial, patrocinado pelo regime nazista de Adolf Hitler. “Conhecemos a história por meio de livros, de jornais, de documentário. Eventos como este são importantes, pois nos fazem lembrar o que a humanidade sofreu e ainda sofre”, destacou.

A professora Karel Reynolds iniciou sua fala lembrando que, há 70 anos, em 1945, foram abertas as portas do inferno, com a libertação do campo de concentração de Auschwitz, na Polônia. O local foi chamado por ela como “o maior cemitério do mundo”, com um detalhe: todos os enterrados ali foram assassinados. Em Auschwitz e em outros campos de concentração espalhados pela região, foi praticado um “horror industrializado”, o que os tornou espaços de morte, tortura e intenso sofrimento. “Seis milhões de judeus foram mortos durante o Holocausto”, lembrou a palestrante.

Além de enumerar algumas das várias atrocidades cometidas pelos nazistas no seu empenho de exterminar judeus, a professora Karel Reynolds, mestre em estudos de genocídio e holocausto, destacou a adesão ao nazismo de grande parte da população da Alemanha, de seus intelectuais e inúmeros profissionais. “O poder judiciário e o sistema legal, assim como médicos, cientistas e engenheiros, foram cúmplices dos nazistas”, afirmou Karel Reynolds, que é ainda pesquisadora do holocausto, de crimes de ódio no século XXI, do julgamento de crimes de guerra em Nuremberg e da legislação atual dos EUA sobre sobreviventes do holocausto.

Segundo a pesquisadora, quando Adolf Hitler chegou ao poder na Alemanha Nazista, em 1933, ele inaugurou o capítulo mais negro da humanidade. “Agora sabemos do que seres humanos são capazes. O Holocausto assusta, porque nos mostra o que é a humanidade. A população alemã foi complacente com os crimes. Foram engenheiros que projetaram os campos e os crematórios, foram cientistas que viabilizaram as câmaras de gás, foram nutricionistas que definiram a quantidade de alimento que mataria de fome os judeus”, afirmou Karel.

De acordo com a pesquisadora, juízes e advogados legitimaram a ideologia nazista e definiram os termos da discriminação contra judeus, entre os anos de 1933 e 1945. “Como países democratas, temos que examinar o mundo de hoje à luz do que aconteceu na Alemanha: como a democracia alemã foi desmantelada em tão poucos meses? O maior assassinato em massa da história mundial aconteceu no curto período de 12 anos”, destacou.

Fragilidade da democracia

A professora Connie Davies, coordenadora do Museu do Holocausto, proferiu palestra sobre a destruição da democracia e a necessidade de os cidadãos do século XXI permanecerem em constante vigília, diante de sinais de eminente perigo, em momentos nos quais governos são desafiados a fazerem concessões e, em consequência, comprometem princípios de liberdade e direitos humanos.

Graduada em estudos americanos, Connie Davies citou acadêmicos que estudam os fenômenos do totalitarismo e indicam que “o poder mata, e o poder absoluto mata absolutamente”. A pesquisadora afirmou que os governos autoritários são os que apresentam maior probabilidade de cometerem atrocidades. Lembrando que a Alemanha era uma democracia quando Adolf Hitler chegou ao poder, ela destacou a fragilidade desse regime de governo. “Precisamos estar atentos, porque as democracias estão sendo ameaçadas hoje; há diminuição das instituições democráticas”, afirmou.

Connie Davis relatou as circunstâncias e o clima político vigente na Alemanha, quando Adolf Hitler ascendeu ao poder, observando que ele usou brechas na legislação daquele país para retirar liberdades civis e individuais dos cidadãos, o que levou rapidamente à derrocada da democracia. “Os judeus foram usados como bodes expiatórios, e a discriminação foi legalizada, mas outros segmentos da sociedade também foram vítimas do nazismo”, lembrou.

Várias autoridades prestigiaram o evento, entre elas o diretor do foro da capital, Cássio Fontenelle, o presidente da OAB Seccional Barreiro, Edimar Reis, o juiz auxiliar da 2ª Vice-Presidência, Luiz Carlos Rezende e Santos, os advogados Carlos Javet Braga Bitencourt e Adriano Marques Braga, que coordenaram o evento, além de juízes, servidores, estudantes de direito e interessados no tema. O evento contou ainda com exposição de objetos do Museu do Holocausto ECVV, no hall de entrada do fórum.

Foto: Marcelo Albert / TJMG
Fonte: TJMG