Leia abaixo o artigo do desembargador José Tarcísio Martins Costa, publicado na seção de economia do Jornal DECISÃO de março:


Petrobras no fundo do poço

Desembargador Tarcísio Martins Costa

A Petrobras foi a empresa que mais perdeu valor de mercado. Em 31 de dezembro de 2012, ela valia R$ 380,2 bilhões, caindo para R$ 179,5 bilhões, no dia 24 de novembro de 2014. Portanto, mais de R$ 200 bilhões. O dado é da Consultoria Economática, atribuído ao maior escândalo do país: o petrolão.

E a situação pode piorar. Conforme o último balanço não auditado, sua dívida dobrou, em fins de março de 2012, de R$ 164,1 bilhões, para R$ 337,7 bilhões em setembro de 2014. As perdas da corrupção nele não incluídas somaram R$ 88,6 bilhões. Isso para não falar das advindas da gestão ineficiente de projetos e da venda de combustível abaixo do preço de compra para segurar a inflação, o que afrontou a Constituição, a Lei das S/A e os Estatutos da companhia. Neste período, seu valor de mercado caiu 52%.

PetrobrasA divulgação do tamanho do rombo irritou a presidente, que insistia num cálculo mais palatável de R$ 4 bilhões. Foi o estopim para a tardia demissão de toda a diretoria. Com o mero sinal da mudança, as ações da estatal dispararam, e ela ganhou R$ 16,586 bilhões de seu valor de mercado: as preferenciais subiram 15,47% (R$10,00), o maior percentual desde setembro de 1968, e as ordinárias tiveram alta de 14,25% (R$ 9,79), a maior valorização desde março de 2013. Nunca é demais lembrar que, em 21/05/2008, as preferenciais chegaram a R$ 52,51 e as ordinárias a R$ 62,30, batendo o recorde de alta.

Sabe-se que a substituição no comando de uma empresa em crise cria uma expectativa positiva e confiança no novo gestor, gerando alta de suas ações. No caso da Petrobras, a euforia da troca de comando durou pouco. A escolha de Aldemir Bendine, presidente do Banco do Brasil, sem qualquer experiência no setor, desagradou o mercado, tendo as ações caído antes mesmo do anúncio oficial do seu nome. Os papéis preferenciais, no dia 7 de fevereiro deste ano, fecharam em queda de 6,94% pela “combinação trágica da gestão da companhia com questões políticas”.

E mais. O escolhido é investigado pelo TCU e MPF por conceder um financiamento de R$ 2,7 milhões a juros de 4%, ao ano, à empresa de uma amiga que ofereceu em garantia a pensão dos filhos. Também a compra de um apartamento, por valor inferior ao declarado, pago em dinheiro vivo. No mínimo, é espantoso que um presidente da maior instituição bancária do país adquira um imóvel com dinheiro guardado debaixo do colchão. Aliás, o ex-presidente do BB admitiu o hábito suspeito de manter vultosas somas em casa. Talvez, por isso, a denúncia de seu motorista que, além do próprio, costumava transportar malotes e efetuar pagamentos a terceiros.

O primeiro desafio do novo comando da Petrobras será resolver, até 30 de abril, o impasse do balanço do 3º trimestre de 2014, que a auditoria PricewaterhouseCoopersPwC se recusa a assinar, sem a baixa nos valores de investimentos em ativos inflados por propinas, além limpar, enxugar e restaurar a fraturada credibilidade da empresa.

Enquanto isso a Operação Lava Jato, na sua nona fase, aponta fatos estarrecedores e cifras inimagináveis. Em representação protocolada, o Ministério Público Federal afirmou que o tesoureiro do PT, João Vacari Neto, “foi responsável por operacionalizar repasse de propinas ao Partido dos Trabalhadores, decorrentes de contratos firmados no âmbito da Petrobrás”. Vacari teria integrado um grupo de 11 “operadores financeiros” que “movimentaram em seu nome e lavaram centenas de milhões de reais em detrimento da Petrobras”.

Os discursos de comemoração dos 35 anos do PT, cuja tônica foi a defesa do tesoureiro, por óbvio, sequer tocaram nos problemas do desagravado à frente da Cooperativa dos Bancários (Bancoop), em 2009. Atribuíram a Operação Lava Jato às elites reacionárias, que sonham com a privatização da Petrobras, mostrando completo descolamento da realidade, em que a culpa é imputada a interesses ocultos, o que reforça a incerteza sobre a severa correção de rumos da companhia. Diante do histórico recente do partido, preferível seria trazer o honrado ex-senador Eduardo Suplicy (PT), para cantar desafinado Blowin’ In The Wind, de Bob Dylan.