A edição do Jornal DECISÂO do mês de fevereiro traz, na seção de Economia, artigo escrito pelo desembargador Tarcísio Martins Costa, com indicações das melhores aplicações financeiras para 2015. Leia abaixo:

As aplicações para 2015 não falam somente português

Desembargador Tarcísio Martins Costa*


Pesquisa recente realizada pela Fecomércio RJ/Ipsos mostra que 86% das pessoas que guardam dinheiro investem ainda na poupança, o que causa, no mínimo, espanto. Isto porque a caderneta de poupanças registrou, em 2014, ganho acima da inflação de apenas 0,63%, o quarto menor rendimento desde o Plano Real, instituído há 20 anos.

Exemplificando: se o “investidor” guardou R$ 10 mil, em 1º de janeiro de 2014, teria R$ 10.063 no último dia do ano. Empatou com a inflação e lucrou R$ 63,00, que mal dariam para uma pizza gigante com a taxa de entrega. Aumento? Só se for do colesterol.

Em 2013, a rentabilidade real da caderneta, para os depósitos realizados após 4 de maio de 2012, foi ainda menor: 0,09%. Foi o pior investimento dos últimos 10 anos, enquanto algumas ações subiram mais de 901,82 %, em igual período. No ranking dos últimos 14 anos (2001 a 2014), os rendimentos acumulados da poupança foram de 191,39%, enquanto o índice da bolsa (Ibovespa), apesar de todas as crises, ainda, subiu 227,67%. As ações de muitas empresas tiveram valorização superior a 1.000%, sem falar nos rendimentos. Em português castiço: quem aplicou na poupança deu com os burros n’água.

Ao contrário do aplicador norte-americano - de George Soros ao assalariado - o brasileiro mostra-se avesso a qualquer risco, preferindo deixar de ganhar dinheiro do que investir em ações de forma inteligente ou mesmo em Letras do Tesouro, Fundos DI, LCA (letras do agronegócio) e LCI (letras de crédito imobiliário), o que demonstra o baixo grau de comprometimento da maioria com a sua educação financeira.

Diante do cenário negativo apontado pelos economistas do BIRD para economia brasileira, em 2015, nos portfólios sugeridos pelos serviços de private banking, predominam sugestões de aplicação nos fundos de renda fixa atrelados ao CDI, variando de 35% (UBI) a 65% e 70% (Bradesco e Itaú), do montante a investir. Na faixa oposta, a fatia destinada às ações brasileiras é pequena (6%), variando de 2% no Itaú ao teto de 10% no Credit Suisse. Recorrer aos produtos isentos de imposto de renda - LCA e LCI - é o discurso comum de todos os alocadores. A recomendação feita ao investidor moderado, em 2015, por sete serviços private banking é destinar de 10% a 30% das aplicações a ativos negociados fora do Brasil.

Recordo que, nesta mesma coluna, em fevereiro de 2013, sob o título “Como aplicar e ganhar com ações norte-americanas”, sugeri o investimento em BDR – Brazilian Depositary Receipts – certificados de depósitos emitidos e negociados no Brasil, com lastro em valores mobiliários e emissão de companhia estrangeiras. Em outras palavras, recibos brasileiros de ações de empresas norte-americanas selecionadas criteriosamente, negociadas nos EUA, mas cotados em reais. Tal aplicação se faz com a maior facilidade. Basta procurar um banco, o Bradesco ou a Caixa Econômica Federal, por exemplo. A taxa de administração é de 2,5%, com resgate um dia depois da ordem, pelo valor da cota de fechamento (D+3), e IR de 15% sobre o lucro.

Quem seguiu a sugestão se deu bem. Em 2013 o Fundo Bradesco FIA BDR – Nível I rendeu 31,46% e, em 2014, 22,51%, contra os minguados 0,09% e 0,63% da nossa poupança. E mais. Segundo o BIRD, os EUA, em plena recuperação, devem crescer 3,2% neste ano, cabendo lembrar que a aplicação em BDR também embute a alta do dólar em relação ao real. Assim, até mesmo uma ação em queda nos EUA poderá gerar algum ganho para o investidor brasileiro.

*O autor exerceu a magistratura por 32 anos, foi empresário e aluno do Institut d'Études du Développement Économique et Social- IEDES, da Universidade de Paris (Sorbonne).