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Movido a desafios. É assim que se define o juiz Narciso Alvarenga Monteiro de Castro, da Comarca de Poços de Caldas, no Sul de Minas, que, após dez anos atuando como dentista, decidiu ingressar no curso de Direito para poder aplicar o conhecimento na área em seu dia a dia. Entretanto, o magistrado não imaginava que iria se apaixonar pelas leis e deixar a odontologia para ingressar na magistratura em 1996.

Esse não foi o único recomeço de Narciso Monteiro. Traçando o caminho inverso de parte da magistratura, depois de passar pelas Comarcas de Passa Tempo, Porteirinha, Ituiutaba, Montes Claros, Juiz de Fora e Belo Horizonte, ele decidiu transferir-se para Poços de Caldas (Sul), contando com o apoio da família, o que, segundo ele, deixa os desafios menos difíceis.

Por que o senhor decidiu cursar direito depois de dez anos trabalhando como dentista?

Resolvi conhecer o Direito para utilizá-lo na minha vida particular, fazer negócios, compra, venda e alugueres. Mas, depois, fui me apaixonando pela área e, incentivado, principalmente, pelos professores, decidi prestar concurso para a magistratura. Aprovado logo na primeira tentativa (1996/97), tive que abandonar a odontologia, profissão à qual devo muito e nunca me arrependi de ter exercido. Antes de ingressar na magistratura mineira, fui, por duas vezes, eleito diretor do Sindicato dos Odontologistas de Minas Gerais, aprovado no concurso para advogado do DER e para o cargo de oficial de justiça avaliador perante o Tribunal Federal da 3ª Região, no ano de 1997.

O que motivou o senhor a ingressar na magistratura?

Sou um pouco movido a desafios. Nesse caso, foi o desafio intelectual, pois sempre gostei de ler e estudar. Ainda criança, li tudo que havia para ler na minha casa, livros de história, enciclopédias, literatura e parti para as bibliotecas das escolas por onde estudei e, depois, para a biblioteca pública de Belo Horizonte (Biblioteca Professor Luiz de Bessa). Queria saber se seria capaz, ainda mais competindo com pessoas mais jovens que eu, que já estava mais maduro, naquele período com trinta e poucos anos.

Como foi deixar dez anos de odontologia para começar numa nova profissão?

Foi uma experiência excepcional. Novos mundos e desafios. Estava no momento certo para isso, um pouco mais amadurecido e vivido. Não tive medo e tive apoio de todos. No início, procurava aprender com tudo e com todos e não me deixar “deslumbrar”. Os sete meses de Escola Judicial foram essenciais para me situar bem e poder vencer os próximos desafios que viriam e realmente vieram.

Depois de passar por várias comarcas e ser transferido para Belo Horizonte, por que o senhor decidiu retornar para o interior do Estado?

Belo Horizonte seria o meu destino final, ainda mais que sou natural da capital mineira. Entretanto, após mais de dez anos no interior, tive dificuldade em voltar a me adaptar com o trânsito caótico e a violência cada dia mais presente. Então, depois de quase seis anos lecionando e concluído um mestrado em Direito, resolvi aproveitar uma oportunidade que apareceu para voltar ao interior do Estado. Devo agradecer às diretorias da Amagis que fizeram a chamada “interiorização da entrância especial”, que permitiu meu regresso. Hoje, somente penso em voltar a BH, no caso de uma promoção ao TJMG por antiguidade, o que deve levar ainda um bom tempo, e vou pensar um pouco, além de ouvir a minha família.
Como foi para o senhor encarar mais esse recomeço?

Foi uma alegria e também um choque, pois as condições das comarcas do interior estão bem precárias, ainda mais para quem trabalhava no Fórum Lafayette, com amplos gabinetes e com banheiro privativo. Já estou em uma fase em que um certo conforto faz falta, sendo questão até de saúde. Outro choque foi por causa de processos polêmicos e difíceis que venho enfrentando, mas toda a minha “bagagem” anterior vem fazendo com que tenha êxito nas empreitadas mais difíceis, podendo manter a serenidade intacta nos momentos em que sou mais exigido. Além disso, o apoio de minha esposa, seu carinho e dos filhos, faz com que tudo seja mais fácil. Mas como disse, sou movido um pouco pelos desafios e não gostaria mesmo de nenhuma “moleza”.