UM SONHO 

(*) José FERNANDES FILHO 

Tive um sonho. Real, efetivo, induvidoso. Do qual acordei feliz. A compensar-me dos pesadelos, que me acicatam. A abrir-me uma janela ensolarada, quase redentora. Não grandioso, tal o sonho de Luther King, de acabar com a segregação racial em seu país.

Sonhei, aos 94 anos, com a criação de alguma instituição, cuja clientela fosse, apenas e tão somente, de carentes e necessitados. Pessoa jurídica, a prestar serviços gratuitos, integrada por seres humanos sedentos de um rumo para a vida. Instituição singular, fundada na firme convicção de que a vida só tem sentido quando a serviço dos outros.

Do sonho à realidade: colegas com iguais preocupações, angustiados, prisioneiros da velhice, companheiros de caminhada. Convocados, refletimos, conversamos. Sabedores, todos, de que a vida é o exercício do possível. Não fazemos o que deveríamos fazer, nem o que gostaríamos de fazer. 

A despeito disso, a vida é bela. Basta adicionar-lhe uma pitada de sol, pessoal e intransferível, para espantar-lhe a escuridão. 

Não por acaso vieram ao mundo Seabra Fagundes, Mandela e tantos outros, testemunhos vivos de que a vida merece ser vivida. 

Arraigada crença na economia do bem, aqui estamos, eu, João Luiz, Gutemberg e João Baptista, embarcados na benfazeja nave da esperança. Visionários, ingênuos, inocentes? O tempo responderá. 

Outros serão bem-vindos. O barco é espaçoso, capaz de a todos acolher. É conhecido, por isso, como nave-mãe. 

Realistas, verazes, determinados, os quatro reiteram: conviver, viver com, é bênção e desafio. Aquela, fruto da confidencialidade, ínsita nas amizades duradouras. Este, a exigir dos confidentes total transparência, revelados como efetivamente são, na santa nudez da verdade. 

(*) Ex-Presidente do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais