"Ontem eu ouvia com inveja o ministro Ayres Britto falar sobre a democracia no Brasil. Gostaria de ter isso no meu país”. Esta frase foi dita pelo juiz colombiano Luis Ernesto Vargas, vice-presidente de Altos Estudos Acadêmicos da Rede Interamericana de Juízes (Redlaj) durante o painel “Independência do Judiciário e Democracia”, no último sábado, dia 24 de janeiro, durante o 5º Fórum Mundial de Juízes. Vargas dividiu com os colegas magistrados sua experiência de exercer a atividade jurisdicional em um país com tantas dificuldades. “Quero chamá-los a ouvir a situação mais grave e dramática do Poder Judiciário do mundo”, declarou.

Para mostrar a realidade da Justiça de seu país, o juiz colombiano mostrou um filme aos participantes que mostrava a invasão do Palácio da Justiça da Colômbia em 1985 por um grupo armado. Na filmagem, tiroteio, mortos, destruição e conflito com homens do exército. Na ocasião morreram 130 pessoas, entre elas 12 magistrados e até mesmo os funcionários da cafeteria do Palácio. Ficou comprovado que mais da metade foram assassinados por “balas oficiais”, como contou o magistrado. Segundo ele, os reféns resgatados com vida foram torturados, mortos e seus corpos desapareceram. “Para defender a democracia morreram mais de 100 pessoas. Eles tomaram o Palácio para defender a constitucionalidade da Justiça”, explicou.

“Nossa Constituição é de 1991, apenas três anos de diferença para a brasileira. No entanto, a colombiana já foi reformada umas 24 vezes. Isto é uma violação!”, indignou-se o juiz colombiano. “Eu queria aqui pedir para que vocês ajudem a Colômbia; ajudem a dirigir o olhar para o meu país, em defesa do Judiciário colombiano”, pediu.

Vargas explicou que em seu país os juízes que encaram a verdade são os que sofrem. “Quais são os juízes ameaçados? São aqueles que não se limitam a cumprir a lei sem indagar. O problema é quando se encara a verdade”, revelou. “Que não seja permitido em nenhum país o que acontece aos juízes colombianos”, desejou Vargas.

Fonte: AMB