Cada um interpretar-se o trabalho da Justiça e da Polícia de uma forma muito pessoal.
Em tempos passados, quando a Mídia não tinha a força atual, ocorriam verdadeiros atentados aos Direitos Humanos.
Muitas pessoas que exerciam atribuições jurisdicionais ou policiais julgavam-se no direito de aplicar as leis conforme a "inspiração" do momento...
MONTESQUIEU, que viveu no século XVIII, disse: "Na Turquia, onde se dá muito pouca atenção à fortuna, à vida, à honra de seus súditos, terminam-se prontamente, de um modo ou de outro, todas as disputas. A maneira de acabá-las é indiferente,contanto que elas sejam terminadas. O paxá, logo informado, faz distribuir, segundo seu capricho, pauladas na sola dos pés dos litigantes, e os manda embora." (Do Espírito das Leis, Ed. Martin Claret, 2007)
Nem precisamos recuar tanto no tempo para tomarmos conhecimento de violências praticadas por servidores públicos principalmente da área da Segurança Pública.
Há realmente servidores que incluem a violência como parte do cumprimento dos seus deveres.
Justamente por causa da índole de muitos deles é que se faz necessário um exame psicotécnico rigoroso a fim de impedir que ingressem no Serviço Público.
O próprio MONTESQUIEU, em outras palavras, em outro trecho do referido tratado, endossa a tese de que "violência gera mais violência".
A missão dos servidores públicos das áreas da Segurança Pública e da Justiça é de pacificar a população, garantindo-lhe a convivência equilibrada, e não abusar do jus puniendi em face daqueles que se mostram desajustados socialmente.
Lembro-me de um policial militar que compareceu à minha Zona Eleitoral numa época de tensão causada pela disputa entre dois candidatos à Prefeitura. Tendo sido informado de que um deles estava andando armado na cidade, foi desarmado conversar com ele e convenceu-o a entregar-lhe pacificamente o revólver. Pacificaram-se os ânimos.
Há quem entenda que magistrados devem usar armas.
Há até aqueles que as utilizam nas atividades mais corriqueiras da vida, volta e meia correndo o risco de matarem ou serem mortos.
O mesmo se diga de policiais que andam armados fora do expediente.
Não faço questão nenhuma desse tipo de regalia e não tenho porte de arma.
Faço questão de conviver pacificamente com meus concidadãos e granjear o maior número possível de bons amigos, para tanto desvestindo-me de privilégios como esse, que entendo anacrônicos.
Francamente, não gostaria de ser juiz na antiga Turquia...
Autor: Luiz Guilherme Marques - Juiz de Direito da 2ª Vara Cível de Juiz de Fora - MG.