As comemorações relativas ao tricentenário das cidades de Mariana (a 8 de abril de 1711, elevada à condição de Vila de Nossa Senhora do Ribeirão do Carmo), Ouro Preto (a 8 de julho de 1711, elevada à condição de Vila Rica) e Sabará (a 17 de julho de 1711, elevada à condição de Nossa Senhora da Conceição de Sabarabussu), assim como as relativas aos 510 anos do encontro cultural entre portugueses e índios, a desvendar o Opará, rio-mar, batizado de Rio São Francisco, em homenagem ao santo do dia (4 de outubro), no longínquo mês de outubro do ano de 1501, sugerem pensar o significado de tais datas e a finalidade das celebrações que evocam o passado de Minas Gerais e do Brasil.

As comemorações, sejam de datas cívicas, religiosas, culturais ou pessoais, servem para um exercício de memória, a relembrar valores fundantes da nação, da forma de governo, das práticas da fé, das atividades folclóricas etc. Mais que isso, evocam um passado de significados que cunharam o caráter do presente e podem, em certa medida, ser determinantes no momento de escolhas políticas cruciais da vida da nação.

As cidades primeiras de Minas Gerais (assim reconhecidas por época da Capitania de São Paulo e Minas do Ouro, em 1711) concorreram para o surgimento de uma consciência libertária, que agitou intelectual e politicamente a colônia, servindo de modelo cívico à Independência e à República. Seus centros históricos guardam segredos, conhecidos da consciência coletiva dos mineiros, revelados ao Brasil e além fronteiras por estudiosos, que condensam boa parte do caráter de nosso povo. A opção pela liberdade, em versos e ações, é sua marca e contribuição.

Já o rio São Francisco, atravessando cinco estados, mas tendo na Serra da Canastra, em Minas Gerais, sua nascente, e adquirindo dentro de nossas divisas mais de 70% do seu volume de água, tem importância tal que é também conhecido como rio da Integração Nacional. Se a língua portuguesa, falada de norte a sul do país, constitui importante elo de afirmação da nacionalidade, a navegação do rio São Francisco foi, talvez, tão importante quanto para a constituição de nossa unidade.

Liberdade de pensamento e de ação política, somada à integração dos povos da nação, são valores perenes simbolizados por Ouro Preto, Mariana, Sabará e o rio São Francisco. Muito além das minas, que propiciaram riqueza e opulência, e dos gerais, que permitiram à coroa portuguesa a exploração de ouro e pedras preciosas, fornecendo víveres a uma sociedade nascente, nossas memórias e comemorações celebram conquistas de um espírito que jamais faltou nos momentos de definição da história do Brasil.
Bruno Terra Dias
Presidente da Amagis