A mais ousada e bem sucedida iniciativa para combater a criminalidade em Minas Gerais vem da sociedade civil, e não dos poderes públicos. E é de impressionar que uma receita tão simples não tenha sido aplicada antes.

O Instituto Minas Pela Paz fez o lógico: se debruçou sobre o problema da violência para identificar suas principais causas, de maneira científica e sem preconceitos. Feito isso, tratou de desenvolver uma ferramenta que quebrasse a dinâmica da criminalidade e que fosse, portanto, estruturante de um processo de recuperação da segurança pública.

Nesta segunda-feira, o Hoje em Dia publicará na Página 2 uma entrevista com o diretor-executivo do Minas Pela Paz, e também diretor de Comunicação Corporativa da Fiat Automóveis, Marco Antônio Lage, sobre essa experiência.

Segundo ele, na raiz da violência, o Minas Pela Paz identificou a reincidência no crime. Mesmo sem uma base estatística ampla, o instituto verificou que essa reincidência é gigantesca. De acordo com sua amostragem, cerca de oito, em cada dez presos libertos, voltam ao crime.

Identificado o problema, buscou-se a solução. O Minas Pela Paz, que é uma iniciativa da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) e de empresas parceiras, estruturou um programa de qualificação profissional para egressos do sistema penitenciário, por meio da estrutura do Serviço Social da Indústria (Sesi) e Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), e da oferta de emprego.

Quebra

O resultado foi a quebra do círculo vicioso da violência, baseado apenas na punição dos apenados, que depois de libertos voltam ao crime por falta de oportunidade. De acordo com Lage, o índice de reincidência no crime entre os participantes do programa é baixíssimo, quase nulo.

Nos sete anos de funcionamento do programa, 840 ex-presidiários foram atendidos. De acordo com Lage, isso representa 840 famílias que deixaram de sofrer por conta do crime, sem contar as possíveis vítimas que poderiam ser atingidas pelos atos criminosos ou violentos que deixaram de ser cometidos.

Mas, ao ser bem sucedida, a iniciativa do Minas Pela Paz faz ressaltar o tamanho do fracasso das políticas públicas de combate ao crime e de aprisionamento.

De acordo com Lage, a principal contribuição do Instituto é comprovar, na prática, que o trabalho é a ferramenta mais eficiente para a recuperação e reinserção de ex-presidiários à sociedade.

Neste ano, o Minas Pela Paz iniciou trabalho semelhante com adolescentes que cumprem medidas sócioeducativas em função de delitos cometidos. A lógica é a mesma: formação profissional e oferta de emprego, mas com metodologia adequada ao perfil e idade.

Fonte: Hoje em Dia