(Dedico este artigo a FÁTIMA NANCY ANDRIGHI, madrinha da Conciliação no Brasil)

Os defeitos morais, segundo alguns entendidos em Psicologia, podem resumir-se a três: orgulho, egoísmo e vaidade.

Os homens e mulheres portadores de graves defeitos morais podem transformar-se, através de um trabalho de conscientização sucedido por um esforço para agir em sentido construtivo, tornando-se pessoas que muito vão contribuir para o bem comum, muito mais do que aquelas outras que sempre pautaram suas atitudes pela moderação.

O verdadeiro perfil psicológico de cada um de nós é aquele que está aparentemente sepultado no fundo do nosso psiquismo, mas que se revela em determinados momentos críticos, quando são atingidos pontos nevrálgicos da nossa tábua de valores e desvalores.

Há um juiz cujo perfil psicológico é o do dragão (conforme ele mesmo afirma, com toda a humildade que foi adquirindo no seu esforço de autoanálise e mudança interior). Quando aparecem situações que dificultam a realização de seus sonhos (geralmente idealistas) sua fisionomia mental assume os contornos do legendário dragão, que cospe fogo e tende a espalhar destruição onde antes tinha semeado flores e frutos.

Conhecendo seu próprio ponto fraco, reconhece que muitas outras pessoas padecem dessa deficiência, e compreende-as. Tendo dificuldade em superar sua própria índole, sabe que as outras pessoas também terão a mesma dificuldade.

Assim pensando, optou pela única forma de solucionar os graves problemas de desentendimentos interpessoais – principalmente entre pessoas irascíveis ou insubmissas – que é a Conciliação.

Reúne as partes em audiência, deixa-as com a maior liberdade possível para dialogarem e encontrarem elas próprias a solução para suas lides. A única regra que segue nessas audiências é de colocar nas mãos delas a solução dos desacertos.

Procura seguir o exemplo de SÃO PAULO, que, de defensor inflexível e insensível da Autoridade Constituída e da Hierarquia, tornou-se paladino do respeito aos seres humanos e da Fraternidade Universal.

Ninguém melhor que ele para ouvir paciente e afetuosamente as partes litigantes, olhando-as nos olhos e deixando-as extravasar seu cálice de mágoas e expectativas ansiosas e, aos poucos, induzindo-as à pacificação.

Nesse trabalho, deixa, muitas vezes, de lado os textos de lei, as discussões doutrinárias e as imposições muitas vezes frias da jurisprudência e deixa falar mais alto seu desejo sincero de pacificar as pessoas.

Não sei o que a maioria dos operadores do Direito possa achar da forma de atuar desse juiz, mas tenho-o como modelo para minha conduta na direção dos processos da minha Vara.

Luiz Guilherme Marques é juiz de Direito da 2ª Vara Cível de Juiz de Fora – MG.