Por Paulo Ghiraldelli Jr.*

HÁ NO BRASIL não uma discussão séria sobre a moradia de juízes, mas apenas gente magoada choramingando. Repentinamente todos falam em justiça e injustiça. Mas cada pessoa que fala – inclusive os neoliberais – pertence a uma categoria profissional, e é um indivíduo que pede que seu sindicato lute desesperadamente para lhe arrumar uma coisa como o auxílio moradia ou similar. Uma vez de posse desse tipo de direito, as pessoas que estão hoje reclamando dos juízes não abririam mão dele. E não são poucos que possuem direitos desse tipo no Brasil, tanto no funcionalismo público quanto no setor privado.

Eu gostaria que os professores do ensino básico tivessem esse direito e acho que a educação só melhoraria se a profissão fosse tornada atrativa por mecanismos desse tipo, do mesmo modo que se faz com a profissão de juiz, de militar, de político etc. Aliás, em certo sentido o Vaticano usa da mesma política para todo o clero! Várias universidades americanas usam de tal política para atrair alunos bons e professores de destaque. Os “prêmios”, “incentivos” ou “direitos trabalhistas” variam conforme o lugar e conforme a política instaurada para empurrar a profissão a ser tornar algo mais desejado.

Estou bem longe daqueles que pensam que uma categoria profissional ou um grupo social (ou classe) só se beneficia em detrimento da outra – quem pensa assim são os adeptos do “comunismo de inveja”, que Marx sempre denunciou e odiava. “Comunismo de inveja” é parente bem próximo do sentimento que gera o fascismo: a ideia não de revolução, mas de tomar do outro, de empobrecer o rico e de tirar quem está em cargo de destaque do lugar – principalmente juízes, só depois generais e professores.

Em todos os lugares do mundo há profissões e carreiras que são incentivadas através de mecanismos extra salariais, de modo a colocá-las como mais atrativas e garantir que elas não caiam nas mãos de incompetentes. Nisso, a opção dos países (ou empresas ou categorias) varia. Mas, de um modo geral, dá resultado. E volto a dizer: isso não é prática só da empresa pública. A iniciativa privada também faz política parecida, em todo lugar do mundo onde há sociedade de mercado. O mercado usa disso de todas as maneiras. Do salário maior no Alaska e em Brasília passando pelo auxílio transporte de operário ou casas de engenheiros em obras de lugares não centrais, até casas que professores universitários também possuem em várias universidades federais, aqui no Brasil (sabiam?), sempre há benefícios aqui e ali, segundo a política de incentivo do país ou empresa a uma determinada carreira ou de necessidades regionais.

Quem fica de fora disso, tenta entrar. Mas há os que, fora ou dentro, querem colocar pessoas na berlinda. No caso atual do assunto do direito ao auxílio moradia de magistrados, há gente fomentando a modinha de caça às bruxas (bem arquitetada dentro do PMDB e do PT, contando com a simpatia do PSDB) que visa chegar até Moro, Bretas e a turma da Lava Jato (aquela mágoa já posta contra Joaquim Barbosa – lembram?). É que os promotores públicos e os juízes andaram pegando os chefetes desses neomagoadinhos. Esses neomagoadinhos nada são senão os ressentidos que existem em todos os lugares e tempos, os fracassadinhos (no amor, no trabalho e na escola), os tipos que, segundo a história, foram utilizados em seu ódiozinho por Lênin e Hitler. É a ralé, a patuleia, os vingativos, os invejosos e, enfim, os pagos para fazer o cordão da mágoa andar.

O que está ocorrendo contra os magistrados brasileiros é algo que foi avisado pelo pessoal da Operação Mãos Limpas, da Itália, que iria ocorrer. Esperava-se esse frente de magoados mobilizada nas redes sociais pelas principais forças políticas do país contra promotores e juízes.

*Doutor em filosofia pela USP.