Em mais um capítulo da polêmica envolvendo as reuniões de advogados de empreiteiras investigadas na Operação Lava Jato com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, a AMB (Associação dos Magistrados Brasileiros) declarou nesta quinta-feira (19) que a conduta dos advogados induz uma pressão sobre o Poder Judiciário.

Em nota, o presidente da AMB, João Ricardo Costa, afirmou: "É fundamental para a democracia que os advogados atuem na amplitude das suas prerrogativas, de forma incondicional. Porém, estas mesmas garantias devem ser exercidas dentro de um conceito radicalmente republicano. Neste caso específico, a conduta dos advogados induz em uma atuação voltada para pressionar o uso do poder político sobre o Judiciário".

Cardozo teve reuniões com advogados da UTC, da Camargo Corrêa e da Odebrecht nos últimos meses, empreiteiras alvo das investigações da Lava Jato. O fato foi criticado pelo ex-ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) e relator no processo do mensalão Joaquim Barbosa, que pediu a demissão do ministro. Formalmente, a Polícia Federal, que conduz as investigações da Lava Jato, é subordinada ao ministro.

Na quarta (18), o juiz que conduz a Lava Jato, Sergio Moro, classificou de "intolerável" a atuação das empreiteiras.

Agora a AMB saiu em sua defesa. "Há uma cultura de partir para pressionar o juiz e desqualificar o Judiciário quando ele atua contra pessoas que não estão acostumadas a serem alvo de ações", afirmou à Folha o presidente da AMB, João Ricardo Costa.

Em um ato de respaldo a Moro, a AMB solicitou uma audiência com Cardozo, na qual a associação deve defendê-lo e se colocar a favor do aprofundamento das investigações. Ainda não há data para a reunião.

O presidente da AMB disse ainda que Sergio Moro deve estar preparado para receber pressões na condução da Lava Jato, mas que a entidade lhe dará respaldo. "É evidente que não vamos assistir passivos qualquer postura de pressão contra o juiz", afirmou Costa.

'ÀS CLARAS'

Joaquim Barbosa voltou a comentar o caso nesta quinta, rebatendo as críticas que recebeu de advogados ao atacar o encontro dos defensores com Cardozo.

"No processo judicial não devem existir encontros 'en catimini', às escondidas, entre o juiz e uma das partes. Igualdade de armas é o lema", afirmou, pelo Twitter.

O ex-ministro disse ainda que recebia advogados "às centenas" enquanto era ministro do STF, mas que informava a parte contrária, para que ela pudesse estar presente.

Fonte: Folha de S. Paulo