A Justiça acatou o pedido do Ministério Público e determinou, ontem, que a Samarco arque com o plano emergencial para atender à população de 280 mil habitantes de Governador Valadares, na região do Rio Doce. Os moradores vêm sofrendo as consequências do rompimento das barragens de Mariana desde a última segunda-feira, quando o abastecimento foi suspenso devido à passagem dos resíduos pelo leito do rio. A procura por água potável provocou uma corrida aos estabelecimentos da cidade.

A liminar, expedida pela 4ª Vara Cível de Governador Valadares, exige que a Samarco forneça, em um prazo de 72 horas, recursos humanos e materiais – incluindo 800 mil litros de água e 80 caminhões-pipas –, além de promover o monitoramento da situação por 30 dias. O descumprimento da determinação prevê multa diária de R$ 1 milhão.

A Samarco informou ontem, através de sua assessoria de imprensa, que ainda não foi comunicada oficialmente da decisão judicial. Mas segundo o superintendente administrativo da Defesa Civil do Estado de Minas Gerais, major Arnaldo Affonso, a mineradora havia conseguido apenas 39 caminhões-pipa até ontem. “Ela se colocou à disposição para pagar outros. O problema é que está difícil encontrar os caminhões-pipa na região. Estamos tentando trazer do Norte de Minas”, explicou o major. Para atender toda a cidade, seriam necessários 300 caminhões-pipas. Entre as 42 escolas do município, 23 estão sem água e, aquelas que têm estão sendo saqueadas pela população.

“A gente quase não encontra mais água para comprar. Quando encontra, é motivo de briga e disputa dentro do supermercado, dá até polícia. Para evitar a sujeira, o que muitos estão fazendo é comer e beber em pratos e copos descartáveis”, conta o servidor público Ercy Rodrigues, 55.

Um galão de água de 5 litros, normalmente vendido por R$ 6, está sendo comercializado na cidade entre R$ 25 e R$ 35. “Está a preço de ouro. O que estamos fazendo é orando para que essa água volte a cair na caixa de água logo”, ressalta o fiscal Edson Pereira, 52. (Com Jhonny Cazzeta e Ludmila Pizarro)

Normalidade

Expectativa. Em visita à cidade ontem, o governador Pimentel disse que há uma melhora na turbidez, o que aumenta a chance de que “em algum tempo” seja possível captar novamente a água.



Galileia está sem água desde segunda

Galileia. A população de Galileia, na região do Rio Doce, está sem água desde segunda-feira. Os moradores fizeram estoque de água, mas a quantidade armazenada por muitos deles está no fim ou já acabou, e a situação é crítica. “Não temos água, muitas famílias têm criança pequena, o calor é muito, e a gente não sabe até quando vamos ficar desse jeito”, desabafou a auxiliar de serviços gerais Cíntia Ezídia de Jesus, 49.

Uma família de oito pessoas precisou buscar água em uma mina que fica a 40 quilômetros da cidade. O estoque de água deles acabou ontem e não havia sequer água para beber. Eles levaram galões de leite de 50 litros para a mina e conseguiram voltar com dez deles cheios. A família improvisou uma bomba caseira com a máquina de lavar, para conseguir bombear o líquido para a caixa d’água. Com pouca noção da tragédia que as cerca, as crianças se divertiram com a água.


“Trabalho numa fazenda aqui perto e a única solução é andar esse tanto. Peguei emprestado uns galões com meu chefe e, se precisar de mais, tenho que ver o que vou fazer”, afirmou o aposentado Clodoaldo Rodrigues de Souza, 69. (BF/Enviada especial)


Rejeitos avançam pelo rio Doce

Conselheiro Pena. A lama de rejeitos chegou ontem à noite a Conselheiro Pena, no Rio Doce. Segundo o Serviço Geológico do Brasil, a massa de água com elevada turbidez (número de partículas em suspensão) deve passar por Resplendor e avançar pela cidade de Itueta ainda hoje. Na tarde de ontem, a turbidez da água estava em 131 mil. Dezoito horas antes, marcava 80 mil (na água potável, ela é 1).


A onda de cheia – uma água suja, mas com pouco resíduo – já atingiu a estação de Linhares (ES) e está próxima de chegar à foz do rio Doce. Enchentes estão descartadas.

Fonte: O Tempo