Filme que abriu, na noite da última quarta-feira, a mostra competitiva de longas-metragens do 47º Festival de Brasília de Cinema Brasileiro, o documentário “Sem Pena”, dirigido por Eugênio Puppo com o apoio do Instituto de Defesa do Direito de Defesa (ADDD), é a síntese de uma longa lista de produções que vêm abordando as distorções do sistema judiciário do país nas últimas duas décadas.

De “O Prisioneiro da Grade de Ferro”, de Paulo Sacramento, à trilogia de Maria Augusta Ramos (“Justiça”, “Juízo” e “Morro dos Prazeres”), passando pelos filmes do ex-agente penitenciário Aly Muritiba, cada etapa desse que é o terceiro maior contingente carcerário do mundo (atrás apenas da China e dos Estados Unidos) foi dissecado na telona, mas “Sem Pena” amarra todos esses pontos num trabalho contundente e nervoso.

O aspecto que dá força ao documentário é um artifício simples e muito eficaz: a supressão das imagens e da identificação dos entrevistados. Enquanto ouvimos, em off, depoimentos que escarafuncham as mazelas de um sistema ultrapassado, moroso e injusto, a câmera de Puppo percorre os corredores das diversas instituições sem buscar rostos, forçando um contraste que aponta para a desumanização.

A sensação provocada, com essa ausência de individualidade, é de horror em relação a grades e muros que transformam os detentos em números perdidos num labirinto kafkaniano. Impressão reforçada pela tensa (às vezes usada de forma exagerada) trilha de John Cage (1912-1992) – pioneiro da música aleatória e eletroacústica, que elevou o ruído ao status de música.

Na programação desta sexta-feira (19) serão exibidos, no Cine Brasília, o curta-metragem mineiro “Vento Virado”, de Leonardo Cata Preta, e o longa “Pingo d’Água”, de Taciano Valério, que teve cenas filmadas em Minas Gerais, além de contar com Dellani Lima (diretor e músico cearense radicado em Belo Horizonte) no elenco.

Projetos

Diretor de cinema, roteirista e produtor, Eugenio Puppo é sócio fundador da Heco Produções, sediada em São Paulo desde 1995.Atualmente, prepara-se para filmar os documentários “Arquipélago de São Pedro São Paulo” e “Escola São Luís”. Não bastasse, está em fase de produção de uma retrospectiva completa da obra de Jean-Luc Godard.

Fonte: Hoje em Dia