O mais jovem Tribunal superior do país chega aos 20 anos de atividade reconhecido como o Tribunal da Cidadania e como exemplo de informatização processual. Além de zelar pela autoridade e pela uniformidade da legislação federal infraconstitucional, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) vem comandando uma revolução silenciosa pela modernização do Poder Judiciário.
Criado pela Constituição de 1988 e instalado em 7 de abril de 1989, o STJ, tradicionalmente, reúne em seus quadros alguns dos maiores especialistas do país em diversas áreas do Direito. Sua primeira composição foi formada pelos ministros do extinto Tribunal Federal de Recursos (TRF) e membros nomeados pelo então presidente da República, José Sarney.
De lá pra cá, muita coisa mudou. Na primeira década, por exemplo, a Corte era exclusivamente masculina. A presença feminina só começou em 1999 com a nomeação da ministra Eliana Calmon. Hoje a Corte também conta com as ministras Nancy Andrighi, Laurita Vaz, Denise Arruda e Maria Thereza de Assis Moura.
Atualmente presidido pelo ministro Cesar Asfor Rocha, o Superior Tribunal de Justiça já teve 13 presidentes desde a sua criação: Evandro Gueiros Leite (1989), Washington Bolívar de Brito (89/91), Antonio Torreão Braz (91/93), William Patterson (93/95), Romildo Bueno de Souza (95/97), Américo Luz (97/98), Antonio de Pádua Ribeiro (98/2000), Paulo Roberto da Costa leite (2000/02), Nilson Naves (2002/04), Edson Vidigal (2004/06), Raphael de Barros Monteiro (2006/08) e Humberto Gomes de Barros (2008).
Sobrecarga de processos
O número de processos remetidos ao STJ não para de crescer. Em seu primeiro ano de atividade, o Tribunal julgou cerca de 3.700 processos. Em 1999, fechou o ano com 128 mil julgados e em 2008 foram mais de 354 mil processos. Nesses 20 anos, contabilizou-se a surpreendente marca de quase três milhões de julgados ao longo de sua história.
Com tantas decisões, o Tribunal consolidou jurisprudências e estabeleceu uma série de princípios que servem de balizamento para garantir ao cidadão o exercício de vários direitos. Desde a sua criação, o STJ editou 376 súmulas de jurisprudência dominante, utilizadas para garantir a segurança jurídica e promover a celeridade processual.
A súmula é um resumo das reiteradas decisões proferidas pelos tribunais superiores sobre uma determinada matéria. Com ela, questões que já foram exaustivamente decididas podem ser resolvidas de maneira mais rápida mediante a aplicação de precedentes já julgados.
No entanto, com tantas matérias sumuladas, o Tribunal teve que buscar novos instrumentos para enfrentar o excessivo e crescente volume de processos. Para tanto, aprimorou procedimentos, agilizou sessões de julgamento e incorporou novas tecnologias da informação à sua rotina de trabalho na busca de uma prestação jurisdicional mais célere, efetiva e transparente.
Novos instrumentos
Nos últimos anos, o Tribunal investiu pesado na simplificação do trâmite processual e implantou, entre outros instrumentos, o Núcleo de Procedimentos Especiais da Presidência (Nupre), a petição eletrônica e o Diário da Justiça Eletrônico. O Nupre funciona como um “filtro” para processos manifestamente incabíveis ou sem perspectiva de provimento. Com ele, a própria presidência da Corte passou a rejeitar os recursos manifestamente inadmissíveis, prejudicados ou em confronto com súmulas ou com a jurisprudência dominante no Tribunal.
A petição eletrônica permite que o advogado, munido de um certificado digital, encaminhe a petição ao Tribunal por via eletrônica, sem necessitar deslocar-se de sua casa ou do escritório. Com o Diário da Justiça Eletrônico, todas as decisões da Corte são publicadas eletronicamente pela internet, facilitando a consulta e gerando economia de recursos humanos e financeiros.
As Turmas e Seções do STJ também modernizaram seus julgamentos com a adoção do Catálogo de Questões Jurídicas – projeto estratégico desenvolvido em 2006, que permite vincular matérias e decisões semelhantes em casos de jurisprudência pacífica, propiciando julgamentos mais rápidos e consistentes.
Recentemente, o Tribunal passou a aplicar a Lei dos Recursos Repetitivos, a fim de agilizar o trâmite de recursos sobre questões repetitivas já pacificadas pelo Tribunal. Além de agilizar a prestação judicial, o novo dispositivo fortalece a jurisprudência do STJ e consolida o principio da igualdade, ao garantir soluções iguais para causas iguais.
A nova lei alterou o Código de Processo Civil com medidas importantes para desafogar o Judiciário, permitindo um julgamento uniforme para os recursos repetitivos. A expectativa é que a nova lei agilize o trâmite de pelo menos 120 mil processos envolvendo temas de repercussão nacional.
O STJ também implantou outras inovações que o dotaram de mais funcionalidade e qualidade, como o malote digital, o projeto de modernização dos julgamentos, o programa de gestão documental e a conversão e validação eletrônica de documentos.
Até o ingresso na magistratura foi modernizado com a criação da Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados (Enfam). Instalada em 2006, a Enfam funciona junto ao STJ e é responsável por regulamentar, autorizar e fiscalizar os cursos oficiais para ingresso, vitaliciamento e promoção na carreira.
O Tribunal da Cidadania ainda executa projetos de inclusão e de responsabilidade social e socioambiental. São diversos programas, como Museu-Escola, Despertar Vocacional Jurídico, Sociedade para Todas as Idades, Escolarização, Acessibilidade e Inclusão de Pessoas com Deficiência.
Processamento eletrônico
Agora, o carro chefe da nova etapa de modernização é a transformação total do processo físico em eletrônico. No STJ do século 21, todos os processos judiciais e administrativos tramitarão eletronicamente, dispensando o uso do papel e a movimentação física dos processos.
Atualmente, todo processo em papel que chega ao STJ – cerca de 1.200 por mês – é transformado em arquivo digital. Até agosto, cerca de 450 mil processos que compõem o acervo do Tribunal estarão virtualizados, e as montanhas de papel que ocupam salas e mais salas serão peças de museu.
Todos os ministros do STJ dispõem de ferramentas tecnológicas que permitem identificar a real situação do processo sob a sua responsabilidade, como os que estão com pedidos de vista, os que foram remetidos ao Ministério Público ou aqueles em que os advogados pediram carga. O próximo passo será a implantação da intimação eletrônica com todos os órgãos públicos, objetivando uma tramitação mais rápida e segura.
No Judiciário informatizado, a integridade dos dados, documentos e processos enviados e recebidos por seus servidores serão atestados por identidade e certificação digital. A assinatura digital serve para codificar o documento de forma que ele não possa ser lido ou alterado por pessoas não autorizadas; a certificação é uma espécie de "cartório virtual" que garante a autenticidade dessa assinatura.
As palavras do presidente Cesar Asfor Rocha atestam que, no STJ, a modernização é um caminho sem volta que será trilhado diariamente em benefício da cidadania: “Resta em todos nós a lição de que as transformações silenciosas, todavia laboriosas e consequentes, não exigem complexas reformas quando se tem por objetivo combater a lentidão da Justiça. Além da economia que tudo isto representa, há que se destacar o histórico anseio da sociedade brasileira de contar com efetiva segurança jurídica e garantia de igualdade de direitos entre os cidadãos. Não é por menos que adotamos o lema de Tribunal da Cidadania”.
Fonte: STJ