A Praça do Cardoso, no Aglomerado da Serra, amanheceu diferente neste domingo (13/10). Desde cedo, começou o movimento das barraquinhas, da montagem do pula-pula, do escorrega, das mesinhas de desenho e de maquiagem, da barbearia. No palco, tudo ficou pronto para que às 8h o DJ Marcelo Matos abrisse os trabalhos do primeiro “TJ com a comunidade”.
“O TJ com a comunidade” foi uma realização do TJMG, por meio da Coordenadoria da Infância e da Juventude (Coinj). “Nosso foco é trabalhar com a cidadania, a educação e o acesso da população ao serviço público”, disse a superintendente da Coinj, desembargadora Valéria Rodrigues Queiroz.
Enquanto as crianças já se espalhavam pela praça, formou-se a fila na Umei local para quem queria tirar ou renovar os documentos. Das 8h às 13h, centenas de pessoas foram atendidas de graça com apoio dos órgãos da Polícia Civil responsáveis por emitir certidões de casamento, nascimento, óbito, carteira de identidade e outros.
O Centro de Reconhecimento de Paternidade do TJMG também esteve a postos e recebeu várias inscrições de pessoas interessadas em colocar em suas certidões os nomes do pai ou da mãe. “Trazendo para cá alguns órgãos do governo para fazer uma série de prestação de serviços estamos colaborando para promover a cidadania”, disse o presidente do TJMG, desembargador Nelson Missias de Morais, que prestigiou o evento.
“A Justiça é parte de um marco civilizatório. Aqui é uma comunidade muito boa, de gente trabalhadora, e que, muitas vezes, precisa da presença do Estado. O poder público precisa estar próximo às crianças e aos idosos, próximo à comunidade de modo geral”, pontuou o presidente do TJMG, desembargador Nelson Missias de Morais. O magistrado garantiu que este é apenas o primeiro "TJ com a comunidade". “Faremos outros”.
A mãe de Cailan Henrique Jesus, de 12 anos, levou a certidão de nascimento, que já estava gasta, para tirar a segunda via e também providenciou a identidade do garoto. “Foi muito bom porque não tive que pagar”, disse, antes de entrar na fila novamente para tentar a segunda via de sua própria identidade.
Orquestra e Coral
O presidente do TJMG deu as boas-vindas ao público antes de apresentar a Orquestra Jovem do TJMG, que levou 25 músicos. O repertório, bem eclético, passeou do clássico ao funk. A maestrina, Luciene Villani, entre uma música e outra, aproveitou para apresentar os instrumentos e destacar que qualquer pessoa é capaz de tocar um deles.
Ela explicou que o projeto da Orquestra Jovem tem como alvo prioritário crianças e jovens em situação de vulnerabilidade social. Alguns integrantes do grupo musical, iniciado em 2011, são do Aglomerado da Serra.
Os 25 integrantes que se apresentaram integraram a Assprom (Associação Profissionalizante do Menor de Belo Horizonte), com atuação no TJMG, e se tornaram monitores. Alguns são contratados como chefes de naipes. A maioria é de universitários ou se prepara para prestar o vestibular. “Todos têm histórias muito bonitas”, ressaltou a maestrina Luciane.
Uma delas é a de Priscila Fernandes Teodoro, de 23 anos. Já na faculdade, começou com 16 anos na orquestra. Era adolescente da Assprom, “não sabia nada, mas gostava de ver”. Escolheu o violino. Começou em turma de iniciação, depois fez aulas solo. Trabalhou na coordenadoria como secretária e, com o tempo, foi contratada para dar aulas e monitoria. “Meu papel não é só ensinar a tocar um instrumento, mas apontar aos alunos valores para a vida”, conta Priscila.
De família pobre, a violinista vê na música uma porta que se abriu em sua vida. “É muito importante na reinserção social, a gente observa muito isso nas crianças. É um lugar que eles têm para fugir de situações complicadas em casa. Ali eles podem ser felizes e extravasar as emoções.”
Priscila tocou violino ao lado da pequena cantora Maria Eduarda Araújo, a Duda, de 9 anos, do Coral da Escola Municipal Edson Pisani, localizada no aglomerado. A menina, em certo momento, foi convidada pela maestrina para reger a orquestra.
Duda, antes de se apresentar, disse que “é bom aprender que vamos ser ‘coisas’ na vida. Uma delas é cantar. Quando canto, me sinto forte”. Junto com Duda, os 11 alunos do Coral da Escola Municipal Edson Pisani cantaram com a orquestra clássicos como Asa Branca e Trenzinho do Caipira.
A professora e maestrina do coral infantil, Luíza Pires, considera maravilhosa a experiência de ajudar seus alunos a dar os primeiros passos no canto. “Eles são muito esforçados e, como todas as crianças, só precisam de oportunidades.”
Novas inscrições
Para a desembargadora Valéria Rodrigues Queiroz, “a música educa, transforma não só fisicamente, mas a alma”. Ela explicou que a Orquestra Jovem do TJMG e o Coral Infantojuvenil estão crescendo, e a ideia é que as aulas possam ser dadas na própria comunidade em parceria com a escola local.
Hoje são cerca de 280 os integrantes do coral e da orquestra. A desembargadora anunciou, durante o evento deste domingo, que a partir desta semana serão abertas inscrições para novos alunos. As informações e instruções serão dadas por meio da Rádio Serra.
Os pequenos
Fora o pula-pula, bem concorrido, uma barraca bem popular foi a de pintura facial. Para as meninas, borboletas e fadas; já os meninos, em peso, pediram a máscara do Coringa. Vítor Lucas Ribeiro de Souza, de 11 anos, foi um deles.
A oficina de desenho do Espaço de Lazer do Sesc agradou em cheio os pequenos de 3 a 5 anos. E teve gente menor ainda por lá: para Hilany Vieira, de 7 meses, foi o primeiro Dia das Crianças. Estava toda prosa no colo da mamãe, Juliana Abelarda da Silva. “Estamos achando maravilhoso.”
Apresentações da comunidade
O produtor cultural e um dos coordenadores do evento por parte da comunidade, Alexandre Gonçalves, agradeceu a presença do TJMG. “Veio para somar, trazendo serviços que não eram ofertados antes”, disse. “Por meio dessa porta que foi aberta à comunidade pelo TJMG poderão vir outras coisas boas.”
Gonçalves enfatizou que, com as apresentações musicais e de dança, foi mostrado o lado da comunidade às crianças, que podem se espelhar na arte.
O primeiro grupo a se apresentar foi o Seu Vizinho, com instrumentos de percussão. O bloco de carnaval, que se transformou na Escola Livre de Arte Periférica, fez bonito no palco e levantou o público.
De acordo com Samanta Rayssa, de 15 anos, o bloco já mudou a vida de muita gente. Aberto a todas as idades, oferece várias atividades, como aula de canto e contação de histórias.
Após a Orquestra Jovem e o coral da escola, apresentaram-se Vizinha da Cantiga, Grupo Identidade, Grupo Lá da Favelinha, Grupo Culu/Cia dos Anjos e a dupla Kleber e Gustavo. Um dos momentos mais empolgantes foi a apresentação dos mascotes do Atlético, Cruzeiro e América.
Parcerias
Na barraca da Serra Barba Barbearia, não foram poucos os meninos que passaram por lá querendo um corte de cabelo na moda. E já iam mascarados. A Serra Barba Barbearia foi visitada pelo presidente Nelson Misssias de Morais, que fez questão de comparecer em cada canto do evento e cumprimentar todo mundo.
Foram parceiros do "TJ com a Comunidade": Rede Minas, Serra Barba Barbearia, Copasa, Sesc, Cruzeiro, América e Atlético, Recivil, E.M. Professor Edson Pisani, Corpo de Bombeiros Militar e as Polícias Civil e Militar. A ação contou ainda com o apoio da Decisão Atacadista, Rádio Itatiaia e Instituto Ajudar.